O que não mata fortalece.


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Você conhece o arsênio? Um elemento químico inodoro (ou com um cheiro parecido com o de alho quando combinado em certos minerais), de cor metálica presente em uma série de compostos?

Muito utilizado no passado como pesticida geral, e em pequenas concentrações como remédio contra infecções. Pequenas concentrações por uma boa razão, ele é um potente veneno. Age na cadeia respiratória celular, impedindo a produção de energia nas mitocôndrias, causando morte celular. Seus sintomas podem ser confundidos com os de doenças em geral, o que garantiu um amplo uso do arsênio como catalisador de relações de poder. É conhecido como veneno dos reis, e com certeza participou de muitos eventos de sucesão de herdeiros.

Agora que tal usar o arsênio para viver? O mesmo arsênio que atrapalha a nossa cadeia respiratória, processo pelo qual utilizamos o oxigênio para retirar energia da glicose, pode ser usado por bactérias e árqueas (procariontes descobertos recentemente, diferentes das bactérias) como receptor de elétrons. Ao invés de doar elétrons para o oxigênio, transformando CO2 em CO2 O2 (valeu isa.ueda), elas são capazes de doar elétrons para o arsênio transformando As(V) em As(III).Além de receptor de elétrons, ele também pode servir de doador. Em mais uma demonstração da extrema diversidade e capacidade metabólica dos microorganismos, foi descoberto recentemente que bactérias são capazes de utilizar arsênio para fazer fotossíntese, da mesma forma que plantas utilizam a água, como doador de elétrons. Amostras de poças da região vulcânica de Mono Lake, na Califórnia, com temperaturas que variavam de 43 a 67°C, mostraram que quando expostas a luz, as bactérias que vivem nessas águas com concentrações altas de arsênio, são capazes de fixar carbono oxidando a substância venenosa.

Cada vez mais, percebemos o quão diversa a vida pode ser, e o quão limitada é a nossa visão do que é necessário para a manutenção da mesma. Os microorganismos são capazes de utilizar muitos minerais para seu metabolismo e suportar condições extremas salinidade, pH, temperatura e pressão. Esse tipo de descoberta só me faz acreditar mais na possibilidade de vida fora da Terra, embora duvide muito da existência de vida inteligente, mesmo aqui ela é muito rara.

Fonte:

T. R. Kulp, S. E. Hoeft, M. Asao, M. T. Madigan, J. T. Hollibaugh, J. C. Fisher, J. F. Stolz, C. W. Culbertson, L. G. Miller, and R. S. Oremland. Science 321 (5891), 967. DOI: 10.1126/science.1160799

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2 responses to “O que não mata fortalece.”

  1. Oi Atila!
    Estou aqui para falar que fiquei muito feliz em ter encontrado seu blog!
    Foi bem por acaso, rs, pois só agora criei o hábito de entrar em blogs. Já tinha visitado o Lablogatorios, mas olhei meio apressada e não dei a devida atenção, rs.
    Assisti uma palestra sua na XII Semana da Bio da Unesp Botucatu e adorei. De longe a melhor palestra do evento. Você transmite todo o fascínio que a Biologia tem!
    Parabéns! Quando crescer quero ser assim!
    ahuiahiuahiuahiuhaiu
    ps: estou no 3º ano de Biolgia e estou bem perdida, rs.
    Beijos!

  2. Não tem alguma coisa errada aqui???
    “Ao invés de doar elétrons para o oxigênio, transformando CO2 em CO2…”
    Se não haver nenhum erro, desculpe minha ignorância =P

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