As nove vidas dos gatos


Por mais estranho que seja, o que vou discutir sobre os gatos tem um bom fundamento científico. E não, ninguém ficou arremessando gatinhos pela janela para calcular o estrago, simplesmente se valeram de registros veterinários de atendimentos em emergências.
Baseados nos registros de quedas, vemos algo muito curioso. A regra “quanto mais alto, pior” não é verdade. Aliás, o gato que caiu da maior altura sobreviveu a uma queda de 32 andares no concreto, noventa metros de queda livre, passou dois dias em acompanhamento e saiu com um dente lascado. Vou parar de enrolar e colocar o gráfico de machucados por número do andar para vocês entenderem – e perceberem que o Diogo acertou em cheio!

A maioria (90%) dos gatos do estudo sobreviveu. Os traumas mais comuns dos que morreram foram choque e trauma toráxico. Como dá para perceber pelo gráfico, a frequência dos machucados vai aumentando conforme a altura, mas ao invés de continuar e estabilizar em 100% – como aconteceria se estivéssemos falando de pessoas caindo e não gatos – ele começa a descer! Os piores andares para um gato cair (para a tristeza do Igor Santos) são entre o sexto e o oitavo.

Não são todos os animais que precisam ter medo da gravidade. Na verdade a imensa maioria deles – em número e diversidade – não precisa. O estrago que sofremos ao aterrisar depende de duas coisas, a força que resulta da massa do animal e da aceleração, no caso a gravidade – F=MxA. A outra é a superfície onde essa força é distribuída. Aqui é que mora a diferença.

Quanto maior o animal, mais pesado ele é, mas a superfície que ele ocupa não aumenta proporcionalmente. O volume determina o peso do animal, portanto a força que ele exerce quando cai, aumenta em três dimensões, ao cubo. Já a superfície do animal aumenta em duas, portanto ao quadrado. Quanto maior a relação superfície/volume, mais resistência do ar o animal encontra e menor a velocidade final dele durante a queda. Basta pensar numa folha de alumínio caindo aberta ou amassada.

Por isso formigas, besouros, aranhas e inclusive camundongos não precisam se preocupar com a altura. Cair de 20cm ou de 2 mil metros para eles não importa, uma vez que a velocidade final em queda é baixa e eles distribuem o impacto por uma área relativamente maior. Enquanto isso, qualquer quedinha para o elefante é perigosa.

Quando um gato cai, sua velocidade terminal (a velocidade máxima em queda) é de aproximadamente 100km/h, e o impacto é distribuído entre as 4 patas, graças ao sistema vestibular, o eficiente giroscópio deles que permite ao gato virar durante a queda e cair quase sempre em pé – daí a diferença entre um gato e um cachorro caindo. Já nós humanos atingimos uma velocidade terminal de 200km/h e caímos ou de cabeça ou sobre as pernas, de maneira que as feridas mais letais são hemorragias internas e traumatismos cranianos.

Quando o gato começa a cair, estica as patas e as tensiona. Quando a altura é maior – o caso dos andares mais altos- o gato tem tempo suficiente para relaxar os seus membros e deixar as patas mais paralelas ao corpo, aumentando sua superfície, diminuindo a velocidade terminal e distribuindo mais o impacto. Ao deixar as patas se flexionarem, elas absorvem melhor a força, como a sola de um tênis de corrida. Um dos ferimentos mais comuns em gatos que sofrem quedas é a mandíbula quebrada, pois o corpo relaxa como um todo e o queixo bate no chão.

O passado de escaladores de árvores fez sua parte, quem explica as nove vidas dos gatos é a evolução.

Fonte:

Diamond, Jared. “Why Cats Have Nine Lives.” Nature. Vol. 332 (14 April 1988): 586-587. doi:10.1038/332586a0


31 responses to “As nove vidas dos gatos”

  1. Ah, 9 e não 7 vidas… Por isso os meus experimentos não deram certo. 😛
    Tem uma coisa interessante: um homem extremamente ágil seria capaz de tocar o chão com as mãos e com o corpo em uma forma circular rodopiar pelas costas e se impulsionar com as pernas até os pés de modo que (quase) toda velocidade seria transferida pra vertical, então saltando novamente e, com agilidade se posicionar para cair de pé ou rolar novamente com menos velocidade.
    Isto não poderia ser feito pela barriga (apesar da curvatura ser muito melhor) pois o “piupiu” continuaria com a velocidade e bateria no chão com toda força (ui!), assim como os órgãos internos seriam impulsionados pra virilha.
    Isto ainda será experimentado. 200kh/h né? Talvez usando um gato pra amortecer o impacto… hehehe

  2. Muito boa a pesquisa, diria que é bem interessante…
    mas fiquei com pena dos gatinhos que foram usados para esta pesquisa… mandibula quebrada, dente quebrado… hummmm
    Me fez lembrar do MIÃO … meu gato “macho” e fujão!! rsrsrs
    AbraçoS

  3. Nossa quanto cálculo para a queda de um gato ahauahauahaaua
    Mas interessante sim. O fato deles comumente caírem em pé sempre era um mistério pra mim…
    Agora se eu tivesse caindo, não “gastaria” meu tempo para relaxar a musculatura mas sim pra gritar ahauahuahauahaauahau
    Abraço Átila!!

  4. Acho que tudo isso não conferi, pelo que vejo nesse grafico, esta informando que o numero de casos de gatos caindo de andares altos é menor que gatos caindo de andares baixos.

  5. Oi Thiago, se você olhar no eixo y do gráfico, verá que é o número de machucados por gato, de maneira que independe de quantos gatos caíram de cada andar.
    O que muda é só o intervalo de confiança dos valores, se o número de gatos for menor em alguns pontos.

  6. Aula Prática no domingo.
    Ponto de encontro: Torre do Rio Sul. Cobertura. Rio de Janeiro.
    Leve o seu gato.
    Quem não tiver, pode comprar o seu na hora por R$2,80.
    ps: o gato não é vacinado.
    =)

  7. Concordo contigo, acho que o estudo vai subestimar as mortes. Mas confio na medida de machucados por gatos, que são mais severos para quem cai entre o sexto e o oitavo andar.

  8. Quem disse que o mundo dos blogs tem que ser habitado apenas por pequenas imundícies inofensivas?
    As exceções honram a regra e o texto dos gatos precipitados traz farto material para a reflexão. Quem não fez as suas experiências com gatos quando era menino? Ainda bem que somente agora sei das últimas, pois talvez eu tivesse atirado o gato e ido junto.

  9. Interessante a pesquisa.
    Só não concordo de você ter que sacrefícar gatos para chegar a essa conclusão, não existe a mínima utilidade pública para essa pesquisa, e muito menos vai trazer qualquer benefício para o gato.

  10. olha.. eu naum sei ein… só se isso acontece com os gatos dele… eu moro no 9º andar aqui em ctba, fui num “aviário” e comprei um gato por 20 reais só pra testar, mas joquei de madrugada pra ninguem ver, olha…. ele morreu, nao sei se o que aconteceu acho q só tinha uma vida, parecia uma panqueca :S
    acho que andam escrevendo coisas demais pra chamar atenção…. o.O

  11. Então Bruno, essa pesquisa foi feita com gatos que já tinham caído e deram entrada no veterinário. Por isso o foco dela são os machucados que os gatos sofrem, e não quantos gatos morreram caindo de cada andar.

  12. Um absurdo esses doentes mentais que insinam que fizeram experiências com gatos nos seus comentários. Mesmo que não seja verdade, não mereciam ser publicados, isso não é humor, é uma vergonha. Átila, você deveria ser mais criterioso.
    Quanto aos outros, aproveitem que esse post traz comparações com os seres humanos – se é que vocês os são – e testem a si próprios pulando, de preferência, do 20º andar de algum prédio. Poupariam a humanidade e os animais de conviver com vocês. Talvez nem suas próprias mães sentiriam falta.

  13. Meu gato mais velho, o Wolverine, caiu ontem do sétimo andar… Quebrou os caninos do lado direito e…só!!Mas está todo dolorido tadinho!Ainda bem que dos 3 que temos aqui em casa, ele é o único que curte a rua!!!

  14. Eu já caí do segundo andar. e não tive nada. mas, depois disso, a mamãe botou redes de proteção em todo o apartamento. adorei suas explicações. miaaauuu…

  15. Ah, legal! Agora me diz aí: Quantos metros são necessários pra matar uma aranha? Matar mesmo, nada de deixar aleijada, ou sequelada… Mais de 2000 metros?
    Acho que é melhor uma chinelada, né?
    Pra garantir, é melhor comprar um porrete…
    E olha que a danada não tem as famigeradas sete vidas!

  16. segundo o que o national geographic me ensinou, para nós, humanos, a melhor chance de sobreviver é tentar relaxar o corpo de tal forma que caia antes com as pernas, mas inclinado e não na vertical. assim as fraturas nas pernas e na bacia vão absorver a maior parte do impacto, aumentando as chances de sobreviver (proteger um pouco a cabeça de um traumatismo grave também ajuda). o que não garante nada, já que aumentar as chances de 1/100 para 2, 3, ou 5/100 não quer dizer muita coisa, e sem dúvida não torna a experiência mais agradável.

  17. Nao acredito no que eu li aqui nos comments.
    Nao acredito que um imbecil atirou um gato do predio pra ver se sobrevivia e ainda comentou numa boa “parecia uma panqueca”, como se fosse uma boneca de pano.
    Que estupidez. Que estupidez, nao me conformo. Mas deve ser mentira, tem que ser.

  18. numa hora de queda nao queria nove vidas nem ser leve eigual um gato
    eu queria mesmo e um paraquedas!
    flw
    pesquisa muito boa

  19. Meu gato tem 9 meses, escorregou e caiu da janela do 3º andar, não tenho $ para leva-lo ao veterinario…
    Ela aparentemente esta bem, apenas vomitou uma meia hora depois..to rezando pra q ele fique bem…alguem pode me ajudar?

  20. Mesmo que não tenha dinheiro (caso da Priscilla) leve no veterinário mesmo assim. Explica sua situação e depois vocês decidem como farão.
    Minha gata de 4~5 meses caiu do sexto andar em uma telha daquelas de fibra. Quebrou duas costelas e ficou boa em apenas uma noite.

Leave a Reply to Carlos Hotta Cancel reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *