Experimento contaminado



Grande parte da ciência molecular feita hoje em dia ocorre dentro de tubinhos como esse -na foto ele está ampliado. Os mais famosos, tubos Eppendorf, são inclusive usados por traficantes para embalar cocaína. Como os reagentes costumam ser caros, tais tubos são uma maneira de economizar no volume da reação, de modo que conseguimos fazer experimentos com décimos de mililitros ou menos, deixando para trás os antigos tubos de ensaio de vidro.
Para manipular quantidades minúsculas de líquido – acreditem, realmente minúsculas – utilizamos um instrumento chamado pipeta, capaz de sugar líquidos em volumes determinados, utilizando uma peça de plástico chamada ponteira, que pode ser trocada evitando comtaminação com o reagente anterior.
Um artigo deste mês da revista Science reporta que muitos compostos utilizados na tanto na fabricação quanto na composição do plástico tanto das ponteiras quando dos tubinhos são capazes de interferir nos experimentos. Substâncias como os detergentes usados para remover bactérias contaminantes durante a produção – irônico isso, evita-se uma contaminação com outra – e compostos usados para melhorar a estabilidade e durabilidade do plástico são capazes de se dissolver em soluções aquosas e bloquear ou aumentar a atividade de proteínas utilizadas nos ensaios.
Atualmente, quase todos os experimentos são feitos nesses tubinhos, de forma que as implicações para laboratórios de ciências biológicas são bem sérias. Mais um dos dois milhões de fatores que podem interferir e arruinar o seu experimento – quem disse que fazer ciência é fácil?
Vi no Not Exactly Rocket Science.
Referência:
G. Reid McDonald et al., “Bioactive Contaminants Leach from Disposable Laboratory Plasticware,” Science 322, no. 5903 (November 7, 2008): 917, doi:10.1126/science.1162395.


12 responses to “Experimento contaminado”

  1. Caramba, vc foi rápido!! Mas então, vc conhece alguém que testa os experimentos em Eppendorfs e tubos de vidro, ou que alterna ponteiras de plástico e de vidro? A casa caiu 😛

  2. Eu usei muito pra centrifugar e isolar umas nanopartículas metálicas.
    No meu caso não vejo problemas. Nada de temperaturas fora da ambiente ou meios agressivos (tudo aquoso mesmo).
    Na li o artigo… em quais condições pode ser um problema?

  3. O problema maior é quando testa-se atividade de proteínas, nem sempre se sabe o que é capaz de interagir com elas. No artigo, os autores notaram diminuição e/ou aumento na atividade de enzimas.

  4. mas se eles sempre usam o mesmo plástico, a atividade da enzima deve ser afetada de forma igual em todos os experimentos.

  5. Quando estou em plena atividade de pesquisa sempre tenho a sensação de que algo está fugindo ao meu controle. Que alguém vai chegar um belo dia e dizer “vc está fazendo tudo errado”. Sei que isso é quase paranóico. hehe.
    Entendo bem como o pessoal que usa Eppendorf deve estar sentindo esse ´fantasma´ do erro (interferentes).
    Não é nada agradável.
    🙂

  6. Isso me incomoda o tempo todo Brudna, essa sensação de não sei se estou fazendo certo que a gente sente o tempo todo quando faz ciência…

  7. A ciência que fazemos foi inventada por nós, assim, todos os equipamentos e outros dispositivos são passíveis de não atenderem as funções que para que os projetamos. Estamos reféns disso sempre. Uma ciência nossa, feita com equipamentos que nós mesmos projetamos, com finalidade de nos ajudar. Algo tem que dar errado nessa cadeia. Sempre vamos descobrir que o que estávamos fazendo no passado não está completamente imune a erros. Por isso adoro esse mundo científico!rs

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