O meu é maior que o seu


A vida sexual das aranhas nephilideas é mais agitada do que você imagina, e o reflexo disso está nos órgãos sexuais.

Nephila pilipes macho (menor) e fêmea. ©Frank Starmer

Nas aranhas em geral, os machos utilizam os pedipalpos para fecundar as fêmeas, aquele “bracinho” que fica entre as patas e a boca, e ajuda a manusear a comida – nos escorpiões, os pedipalpos forma as pinças. Na família Nephilidae acontecem duas coisas que interferem na dinâmica sexual. As fêmeas são muito maiores do que os machos (basta ver o casal ali em cima, ele é o laranjinha) e são poliândricas, ou seja, uma fêmea se acasala com vários machos. O oposto, a poliginia (poli várias, ginia fêmeas) é quando um macho fecunda várias fêmeas, como nos leões marinhos. Na época da reprodução, as aranhas fêmeas ficam paradas nas teias e os machos buscam parceiras.
Buscar parceiras não é tão simples quanto parece, muitos machos morrem nessa hora, de forma que é muito custoso procurar mais de uma fêmea. A melhor estratégia parece ser fecundar e guardar a primeira fêmea que ele encontrou. Sim, depois de fecundar a fêmea, o macho que impede outros parceiros de fazerem o mesmo aumenta as chances da prole ser inteira sua. E para isso, ao invés de sacanear a parceira como o besouro, o macho se mutila, e deixa um pedaço do pedipalpo no duto da fêmea. Isso quando não deixa o pedipalpo inteiro, se tornando um macho eunuco (já neste caso, o macho é bem mais agressivo).
Mas, acontece um conflito de interesses. Se para o ele é vantajoso impedir que a fêmea seja fecundada novamente, para ela não é. Mais fecundações garantem uma competição entre espermatozóides de pais diferentes e a prevalência do mais saudável, um provável futuro melhor para os genes da fêmea. Mais uma vez –você já devia esperar –combustível para a disputa evolutiva da Rainha Vermelha.
Esse conflito sexual gera uma diversidade de apetrechos que deixam qualquer sex-shop no chão. Os machos desenvolvem ganchos, pêlos e projeções que vão enroscar na fêmea e prolongar o ato sexual, além de aumentar as chances do pedipalpo continuar preso e tampar o acesso dos próximos. A fêmea, desenvolve dobras, cavidades e voltas no duto, de forma que o encaixe do pedipalpo é dificultado, com isso o fechamento feito é incompleto e outras fecundações podem acontecer.
Na família Nephilidae ocorrem os vários estados competitivos. Em algumas espécies, os machos conseguem impedir completamente a fecundação dos competidores. Em outras, as fêmeas conseguem se acasalar com vários machos, apesar dos pedaços deixados pelos anteriores. Lembrando que a Rainha Vermelha é dinâmica, ambos competem sem sair do lugar. Essa disputa entre os sexos opostos parece ser, pelo menos nesta família de aranhas, mais importante do que a competição entre os machos, mais comumente lembrada. Quanto mais adornados os órgão sexuais masculinos, mais complexos os femininos, ao ponto de, em muitas espécies aparentemente idênticas, com o mesmo nicho e comportamento, o aparelho reprodutor ser a única (e grande) diferença entre eles.
Pelo menos nesta família, a guerra dos sexos gerou bons frutos, uma grande diversidade de espécies.

Kuntner, Matja017E, Jonathan A. Coddington, e Jutta M. Schneider. “INTERSEXUAL ARMS RACE? GENITAL COEVOLUTION IN NEPHILID SPIDERS (ARANEAE, NEPHILIDAE).” Evolution (2009)


6 responses to “O meu é maior que o seu”

  1. É… as aranhas são surpreendentes. Vou até usar o começo de um artigo “Amando-as ou odiando-as, você precisa admitir que as aranhas são animais impressionantes e bem equipados”

  2. Interessante mesmo, muito bom o estudo feito. Lembro que numa saída de campo aqui no cerrado pela disciplina “Biologia de Aracnídeos” vimos uma Nephila sp. enronlando sua presa, isso foi até filmado, muito fera ver ela fazendo isso.

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