Parasitas e sexo II


No texto anterior, descobrimos que o macho da borboleta Pieris brassicae é capaz de, ao fecundar a fêmea, liberar benzil cianido (BC), uma substância que torna a fêmea menos atrativa. Vimos também que a vespa Trichogramma brassicae é capaz de seguir esse cheiro para encontrar mariposas fêmeas recém fecundadas para parasitar.

Trichogramma brassicae parasitando os ovos de Pieris brassicae © Nina E. Fatouros @PNAS

Hoje vamos conhecer quem mais tira proveito dessa fêmea.
Por mais que pareçam inofensivas, as plantas são muito capazes de se defender. Utilizam tanto defesas mecânicas, como espinhos e cristais de sílica capazes de destruírem a língua de quem ousar comer suas folhas, como defesas químicas, substâncias chamadas metabólitos secundários. Os metabólitos secundários não têm um papel direto no metabolismo da planta, eles são produzidos para atacarem os predadores dela, são drogas que conhecemos e inclusive usamos.
Mas a couve de bruxelas vai além, ela é capaz de produzir substâncias para buscar ajuda de terceiros.

A presença de BC em suas folhas indica que a borboleta branca da couve acabou de depositar seus ovos, e em breve lagartas famintas estarão se banqueteando. Como se defender? Basta chamar um guarda-costas, a T. brassicae. Com o contato do benzil cianido, a couve começa a produzir substâncias voláteis, assim a Trichogramma é capaz de encontrar as plantas onde os ovos foram depositados, não só as fêmeas fecundadas [1].
Quando encontra a folha com o batsinal, deposita seus próprios ovos dentro dos ovos da borboleta branca da couve, como na foto lá em cima. Assim suas larvas vão nascer dentro da lagarta e devorá-la bem aos poucos, deixando a hospedeira crescer e engordar. Quando a lagarta empupar, ao invés de dar origem a uma borboleta, de dentro da crisálida sairá uma vespinha.
Mas a Nina Fatouros e sua equipe foram além. Encontraram uma espécie de vespa parasitóide que não busca a borboleta branca da couve normalmente, mas é capaz de aprender a buscar. A Trichogramma evanescens é uma espécie próxima da Trichogramma brassicae, que explora vários tipos de hospedeiros. Ao expor a vespa generalista ao Benzil Cianido e aos ovos depositados, ela aprende a associar o cheiro à recompensa (hospedeiros para suas larvas) e passa buscar borboletas fecundadas.
Para ter certeza de que se trata de um processo de aprendizado, os pesquisadores utilizaram inibidores de transcrição de proteínas envolvidas na memória de longo prazo. Dessa forma, a vespinha não era mais capaz de associar uma condição a uma consequencia, ou seja, era incapaz de aprender algo novo.
Vespas não tratadas buscavam a fêmea fecundada na hora seguinte ao condicionamento (memória de curto prazo) e continuavam repetindo o comportamento no dia seguinte, uma demonstração de aprendizado. Quando alimentada com o inibidor, a vespa tinha preferência por fêmeas fecundadas na hora seguinte, mostrando que era capaz de fazer a associação, mas não continuava no dia seguinte, mostrando que não conseguiu aprender [2].
Não basta uma vespa parasitóide. A substância liberada pelo macho ainda é capaz de provocar a resposta da planta e de atrair outra vespa espertinha. E depois acham que o conflito de interesses entre homens e mulheres prejudica o relacionamento.

[1] Fatouros, Nina E., Joop J. A. van Loon, Kees A. Hordijk, Hans M. Smid, e Marcel Dicke. “Herbivore-Induced Plant Volatiles Mediate In-Flight Host Discrimination by Parasitoids.” Journal of Chemical Ecology 31, no. 9 (2005): 2033-2047.

[2] Huigens, Martinus E., Foteini G. Pashalidou, Ming-Hui Qian, Tibor Bukovinszky, Hans M. Smid, Joop J. A. van Loon, Marcel Dicke, e Nina E. Fatouros. “Hitch-hiking parasitic wasp learns to exploit butterfly antiaphrodisiac.” Proceedings of the National Academy of Sciences 106, no. 3 (Janeiro 20, 2009): 820-825


5 responses to “Parasitas e sexo II”

  1. Essas relações ordinárias” que você posta inspira muita gente que não conhece os artigos, ou nao tem paciencia de ler na fonte… e ainda por cima com essas fotos belas é impossivel não curtir..
    abraços

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