Brachinus_sp.jpg

O besouro bombardeiro é um prato cheio para defensores do design inteligente (vulgo criacionismo disfarçado) que adoram tirar suas próprias conclusões sobre o que a evolução é ou não capaz, ao invés de basearem-se em dados empíricos.

O nome desse grupo de besouros vem da capacidade que eles têm de se defender usando o abdômen para espirrar uma mistura fervente de substâncias. Uma ótima defesa para insetos um tanto desajeitados que não são capazes de levantar vôo instantaneamente para fugir de predadores.

As substâncias que eles lançam podem variar de acordo com a espécie: ácidos, aldeídos, fenóis. Todos expelidos de maneira explosiva, em altas temperaturas (até 100°C) que chegam a produzir um estampido. Uma espécie africana, o Stenaptinus insignis, consegue inclusive mirar para onde vai atirar e atingir qualquer direção, costas, patas traseiras, dianteiras e lados [1].

Para acender essa bomba, os besouros utilizam duas glândulas (órgãos que produzem e secretam substâncias). Uma delas produz peróxido de hidrogênio (água oxigenada) e hidroquinonas. A outra produz pequenas quantidades de enzimas chamadas catalases e peroxidases. Quando ambos compartimentos são abertos na câmara de reação do fim do abdômen, as enzimas atacam as hidroquinonas e a água oxigenada, liberando oxigênio, quinonas e água numa reação muito rápida e exotérmica (libera energia) que faz a água ferver e oxigênio se expandir, liberando a mistura fervente e irritante.

Acompanhe aqui um vídeo da proeza, a salvo em seu lar, ao contrário da aranha e do sapo:

O que tente os criacionistas é o argumento que um mecanismo tão complexo só poderia surgir desenhado, já que as partes não funcionam individualmente. O peróxido e as quinonas só reagem na presença de catalase.

Eles ignoram que vários insetos produzem quinonas para formar o exoesqueleto, e alguns inclusive fazem depósitos sobre o exosqueleto que os garante um gosto ruim, como é o caso de algumas formigas. Outros besouros apresentam o passo-a-passo evolutivo entre secretar e armazenar hidroquinonas e reagí-las com catalases (que todas as células produzem, inclusive as nossas) de maneira a produzir misturas que não chegam a ser explosivas mas sao repelentes o suficiente. Para mais detalhes sobre essa transição, recomendo este texto bem completo.

Mas ao inves de estudar um pouco mais e entender as possiveis interações, porque não cortar os intermediarios B,C,D e E e dizer que o passo de A para F é absurdo? Algo recorrente é a observação que, para se defender o design inteligente, é necessária uma grande força de vontade para ignorar fatos.

Deixo uma citação retirada do site ali de cima:

“Evolution only contradicts a man-made God that operates under man-made constraints.”

[1] Thomas Eisner and Daniel J. Aneshansley, “Spray aiming in the bombardier beetle: Photographic evidence,” Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 96, no. 17 (1999): 9705-9709, doi:VL  – 96.

Skip to content