Como comer um velcro


Antes da resposta, pausa para um momento Egotrip: o blog anda bem visitado por conta da gripe suína, fiquei muito feliz com o resultado. Aos novos visitantes, sejam bem-vindos, e aproveitem para conhecer os blogs da lista ao lado direito, o Scienceblogs Brasil tem muita coisa de qualidade!

O post resposta do enigma conta com uma ajuda muito especial. Alex Wild é o cara! Além de pesquisador, é um fotógrafo de mão cheia, já publicou as fotos em revistas e jornais de primeira, e toca o blog Photo Synthesis, que mal começou no Scienceblogs.com e já está estourando. Sério, se você curte biologia (quê você tá fazendo aqui, afinal?), precisa ver o blog dele, por mais que não entenda inglês, as imagens por si já compensam. E o melhor de tudo, me deixou usar as fotos, descobri que ele lê (ou pelo menos leu) o meu blog! Então, antes de você pegar estas fotos bonitas e espalhar por aí, fale com o autor.

Não risca panelas
O que é isto? É um Mílípede!! fonte [1]
O Polyxenus fasciculatus é um milípede, parente do piolho-de-cobra, que sempre intrigou os cientistas. A maioria dos milípedes usa substâncias tóxicas para evitar predadores (e alguns até curtem!), mas o Polyxenus não. A dúvida era, como ele se defende.

formiga.GIFSimples, ele é um porco espinho dos artrópodes. Quando uma formiga chega perto e tenta atacá-lo, ele libera espinhos que a deixam amarrada. Os espinhos possuem ganchos microscópicos, que se prendem às cerdas das formigas como as partes do velcro. Esta aqui ao lado tentou predar um Polyxenus e acabou morendo com as patas presas e as mandíbulas travadas.

Além de ficarem presas, as formigas possuem o hábito de se limpar, mas ao passar as patas pelo corpo na tentativa de se remover os espinhos só acabam mais presas pela defesa claustrofóbica. [1]

Polyxenus.jpg 

Formiga enroscada com os espinhos. ©Alex Wild

Este milípede ainda ajudou a entender os hábitos de uma formiga muito rara e estranha, a Thaumatomyrmex atrox. A T. atrox
(formiga maravilhosa) possui mandíbulas muito grandes e estranhas, e
por muito tempo se imaginou para que estas mandíbulas servem.
Mandíbulas são como as mãos da formiga, ou o bico das aves, ferramentas com as quais elas manipulam a comida.

O mistério das Thaumatomyrmex atrox foi resolvido por brasileiros (ela vive nas Américas Central e do Sul), que descobriram que estas formigas predam o Polyxenus fasciculatus. Elas seguram o milípede com as mandíbulas, e com as patas da frente empurram ele para cima e para baixo, arrancando os espinhos como se estivessem depenando uma galinha, e depois que já está peladinho elas podem comê-lo.[2]

Abaixo estão fotos da formiga maravilhosa, todas de Alex Wild, não faço idéia do trabalho que deu encontrar e fotografar um animal tão raro. O próprio Edward Wilson perseguiu estas formigas, mas não conseguiu desvendar o mistério das mandíbulas.

formiga
©Alex Wild

Thaumatomyrmex_atrox.JPG

©Alex Wild
T atrox.JPG
©Alex Wild
 Thaumatomyrmex.JPG

©Alex Wild

Fontes:

[1] Eisner, T, M Eisner, e M Deyrup. “Millipede defense: use of detachable bristles to entangle ants.” Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 93, no. 20 (Outubro 1, 1996): 10848-10851. – acesso livre

[2] Brandão, C. R. F., J. L. M. Diniz, e E. M. Tomotake. “Thaumatomyrmex strips millipedes for prey: a novel predatory behaviour in ants, and the first case of sympatry in the genus (Hymenoptera: Formicidae).” Insectes Sociaux 38, no. 4 (Dezembro 1, 1991): 335-344

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3 responses to “Como comer um velcro”

  1. Sensacional, esse desafio fiquei com preguiça de procurar a resposta, e olha que já visitei o blog do alex e dei umas fuçadas, mas não lembrava de ter visto sobre esse assunto.
    E ratificando, pra quem gosta de biologia ou melhor de insetos o blog do Alex e suas fotos são sensacionais. Além de mostrar as fotos ele comenta como as produziu além de dar várias dicas.
    Por esse blog penso num futuro, fazer um blog do mesmo estilo mas em versão tupiniquim.
    Um grande abraço!

  2. Caro Átila,
    Não sei se tem muito a ver, mas seu título dessa postagem me lembrou uma outra expressão, que não sei se você conhece: “colar um velcro”…
    Um abraço!

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