Sobre macacos pelados


Este post é um texto em duas partes complementares, cada uma em um blog diferente. Aqui discuto como perdemos nossos pêlos, sob efeito da evolução e de parasitas, e no Papo de Homem como apareceram os tons de pele das mulatas, morenas e outras.

chimpanze_pelado.jpg

Opa, macaco errado! ©RedEyedRex

ResearchBlogging.org

Uma diferença óbvia entre nós e outras espécies de primatas é que somos pelados. Aliás. isso fica claro pelo desconforto que este chimpanzé de um zoológico da Índia causa em muitas pessoas. Nossas semelhanças ficam bem mais claras sem os pêlos. Mas qual foi o motivo para ficarmos pelados?

Parasitas! O que mais você esperava deste blog, afinal. Antes de continuar, que fique claro que muito do que vou escrever é especulação – como quase tudo acerca de nosso passado evolutivo. Claro que embasada por evidências, nelas podemos confiar. Clique no read on e aproveite…



Outras hipóteses

Já foi dito que perdemos nossos pêlos ao trocarmos as árvores
da selva pelo calor da savana, como forma de regular melhor nossa
temperatura. Mas pêlos são simplesmente isolantes, e não aquecedores.
Sem pêlos, aquecemos mais rapidamente sob o Sol, já que a pele absorve
o calor. Também perdemos água para resfriar o corpo com o suor, e
durante a noite (que é bem fria em ambientes desérticos) perdemos mais
calor para o ambiente. Ou seja, perder os pêlos para regular
temperatura na savana não é bom negócio.

A maioria das outras vertentes de pensamento mudam um pouco o contexto, mas também se baseia na idéia
de que menos pêlos melhoram a regulação de temperatura. Há a
idéia do homem aquático, segundo a qual muitas de nossas
características atuais foram selecionadas em um período em que
passávamos muito tempo dentro da água. Mas a água conduz calor melhor
do que o ar, e mamíferos aquáticos um tamanho parecido com o nosso, como as focas, possuem uma densa camada de pêlos. Apenas animais grandes como as baleias, que possuem uma superfície (que perde calor) muito menor em relação ao seu volume, perderam os pêlos.

Por fim, os parasitas

Pulga.jpg

Pulga, um privilégio dos humanos.

Nada mais natural do que se perguntar: por que os outros primatas, que
também sofrem com parasitas como carrapatos, também não perderam o
pêlo?
Temos mais parasitas!
Diferente dos outros, nós hominídeos estabelecemos moradias em locais
definidos, e por longos períodos de tempo. Tanto que somos os únicos
primatas atacados por pulgas
, que possuem um ciclo de vida longo
dependente de uma moradia fixa do hospedeiro.

Além do tamanho de população que podemos atingir em nossos bandos,
comida farta e terreno fértil para a troca de sugadores de sangue.
Sugadores estes que trazem doenças graves como tifo, peste bubônica e
outras Logo, quem tinha menos pêlos, era mais saudável. Tanto que, um
procedimento bem comum em locais de grande aglomeração (e um certo
controle sobre os aglomerados) como presídios e alojamentos militares é
raspar o cabelo, ou pelo menos mantê-lo bem curto.

Submetidos a essa pressão seletiva, homens que escolhessem mulheres com
menos pêlos teriam filhos mais saudáveis, já que são elas que passavam
mais tempo no lar e cuidando das crianças. – Embora eu tenha minhas
ressalvas em concordar com uma suposição de preferência de um período
tão distante, o fato de que, atualmente, 98% das mulheres preferirem
depilar pernas e axilas, como forma de ficarem mais atraentes, diz alguma coisa. [1] referência completa, para os parágrafos anteriores também.

O surgimento da pele escura para nos proteger do Sol (inferido pelo nosso DNA) bate com 1,2 milhão de anos atrás, próximo do período que as população começam a aumentyar em tamanho e permanência em um mesmo local.

E quando passamos a nos vestir?

Parasitas não dão trégua, e são eles que nos indicam quando passamos a usar roupas (e compensar a perda de pêlos).

Possuímos três tipos de piolhos, mas o piolho púbico (ou chato) fica de lado por hoje.

O piolho de cabeça (Pediculus humanus capitis) e o piolho de corpo (P. humanus corporis ou P. h. humanus) são bem próximos. Mas enquanto o piolho de cabeça é bem autônomo, e pode passar a vida toda conosco, agarrado e pondo ovos no cabelo, seu primo que vive no nosso corpo deposita os ovos nas nossas roupas. Ou seja, o surgimento do piolho de corpo deve coincidir com o surgimento do nosso uso de roupas.

A análise de sequencias de piolhos revelou muitas coisas interessantes. Para começar, o piolho de corpo divergiu do piolho de cabeça. Isso indica que já enfrentávamos o problema em nossa cabeça, e quando surgiu um ambiente novo a ser explorado, ele aproveitou a deixa. Mais importante, a inferência molecular sugere que essa separação ocorreu entre 72 e 42 mil anos atrás, ou seja, começamos a usar roupas bem recentemente. Pelo menos o tipo de roupa que propicia um ambiente para ele.

Se o piolho de corpo viesse de um parasita não humano, poderíamos supor um período em que usávamos roupas mas o parasita não tinha a oportunidade de nos infectar, mas por vir de alguém que já nos é familiar, o período com roupas e sem aproveitadores deve ter sido bem curto, já que um nicho ecológico vazio não costuma ficar inexplorado por muito tempo.

Também foi visto que a diversidade genética dos piolhos é bem maior na África, o que reforça a hipótese de que surgiram lá e nos acompanharam em nossa saída do continente. Provavelmente o uso de roupas veio como consequência da exploração de novos ambientes, mais frios. Ou talvez foi o que possibilitou essa exploração. [2]

E depois que os pêlos foram embora, o que aconteceu com nossa pele?

Aor perder os pêlos, ficamos sujeitos aos raios ultra-violetas. Para nos proteger deles, produzimos melanina sob nossa pele, o que dá o tom escuro. Mas isso, e o aparecimento dos tons de pele e de cabelo fica para o texto de continuação, no Papo de Homem…

Fontes:

[1] Rantala, M. (2007). Evolution of nakedness in Homo sapiens Journal of Zoology, 273 (1), 1-7 DOI: 10.1111/j.1469-7998.2007.00295.x (pdf)

[2] Kittler, R., Kayser, M., & Stoneking, M. (2003). Molecular Evolution of Pediculus humanus and the Origin of Clothing Current Biology, 13 (16), 1414-1417 DOI: 10.1016/S0960-9822(03)00507-4 (pdf)

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16 responses to “Sobre macacos pelados”

  1. Ótimo texto! Primeira explicação que leio sobre a dolorosa cultura de arrancar pelos! Sempre sonhei com uma explicação mais “xinfrim” pra poder ignorar este costume e viver feliz e sem dor com meus pelos!!!
    #aliás, com a reforma cai o acento diferencial de “pêlo”#

  2. “Submetidos a essa pressão seletiva, homens que escolhessem mulheres com menos pêlos teriam filhos mais saudáveis, já que são elas que passavam mais tempo no lar e cuidando das crianças. – Embora eu tenha minhas ressalvas em concordar com uma suposição de preferência de um período tão distante […]”
    Segue um comentário/pergunta de leigo:
    A escolha não precisa envolver uma intenção consciente ou se basear em um conhecimento de suas conseqüências. Não seria possível afirmar que aqueles que, por qualquer motivo, preferiram as mulheres com menos pelos foram aleatoriamente beneficiados pela seleção natural? Nesse caso, não há nenhuma necessidade de supor a existência de uma ordem de preferências consciente e estabelecida com base em uma observação da realidade.

  3. Acho que eu não vou mais reclamar por ter pouco cabelo! Adorei este post!
    Ah Átila, se puder e se achar interessante faça um post sobre Auto-hemoterapia, gostaria de saber sua posição sobre o assunto! Abraços!

  4. Belo post, Átila. Fiquei pensando no estrago que as doenças transmitidas por pulgas e carrapatos fazem. Doenças novas (arthropode-borne diseases) vem sendo descritas e várias apareceram nos últimos anos (ver aqui http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15845235?ordinalpos=15&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DefaultReportPanel.Pubmed_RVDocSum).
    Entretanto, apesar do estrago feito pela Peste, esse foi um fenômeno relativamente recente (apenas depois que nos aglomeramos em cidades). Acho pouco provável que tenha havido uma pressão seletiva tão poderosa a ponto de selecionar “macacos” menos peludos como mais aptos.
    O que você acha da neotenia?

  5. Bem, faz bastante sentido. Mas quanto ao porque alguns individuos possuirem menos pelos do que outros – já que foi assim que a seleção pôde atuar – o que explica? Bem, se eu entendi bem, aqui entra a hipótese do livro O Macaco Nu, de Desmond Morris – eu não lembro o termo técnico, mas dizia que o corpo adulto conserva algumas características infantis, a falta de pêlos no caso – Faz sentido a hipótese de Morris, ou ele viajou ?

  6. @Carlos
    Não tenho problemas com a escolhe ser consciente ou não, acredito que a cultura seja um reflexo dos genes de qualquer forma.
    A questão é que esse tipo de comportamento não deixa evidências claras, de forma que psicologia evolutiva muitas vezes tem que lidar com o subjetivo.

  7. @Karl e Sandro,
    Acho a neotenia uma boa teoria para explicar muita coisa, mas ela não explica porque os pêlos estão entre as características que permanecem “infantis”. Pode muito bem ser o caso de perdermos os pêlos por neotenia, mas a pressão seletiva se dar pelos parasitas. Mas um fator complicador, é que desenvolvemos pêlos no corpo todo durante a gestação e depois perdemos. Ambos os argumentos foram retirados da primeira referência.
    Quanto à peste bubônica, realmente escolhi mal meu exemplo 🙂

  8. Peraí, os pelos que desenvolvemos durante a gestação são fâneros e são diferentes dos pelos dos adultos (precisaria dar uma pesquisada para saber se têm função diferente também). O fato de os perdermos durante a gestação pode ser mais um sinal de neotenia.
    O porquê de fazermos barba, de nossas mulheres se depilarem, nossos ETs imaginário serem pelados, têm a ver com nosso padrão neotênico de beleza, certo?

  9. Karl,
    Imaginando que os pêlos do bebê sejam os mesmos do adulto, pela neotenia eles não se desenvolveriam, e não apareceriam e seriam perdidos.
    A neotenia é um modo disso acontecer, mas a pressão que favorece ela pode ser outra. Como provavelmente desenvolvemos a pele escura 1,2 milhão de anos atrás, e provavelmente já tínhamos perdido o pêlo, seria o caso de ver como eram os esqueletos de quem vivia naquele tempo. Lembrando que a espécie humana aparece 200 mil anos atrás, marromenos.

  10. eu não depilo pelos ^^
    sim, eu gosto da exlicação parasitológica da coisa aí. tenho o mesmo fascínio que vc por parasitas.
    e quanto ao bobo da corte, ele é primo da rainha vermelha. pensei que já tivesse ouvido falar… fiz uma resenha sobre a rainha vermelha e o bobo da corte no boletim do pet até.
    tem na CH: http://cienciahoje.uol.com.br/142753

  11. Poxa, valeu pelo texto, gostei! Não conhecia a teoria do bobo da corte, mas ainda me divirto mais com a rainha 🙂

  12. A explicação gouldiana para a neotenia é o canal de parto. O desenvolvimento de nosso encéfalo encurtou nossa gestação para podermos nascer com um cabeção! De quebra, ficamos pelados. Pêlo de nenê é igual em baleia, rato, etc. Ou seja, em quem tem e também em quem não tem pêlo adulto.
    Ops. Quem veio primeiro, a pele escura ou a clara?

  13. O Fim de uma Estupidez Muito Mal Inventada.
    Como o cigarro cria uma escravidão com sua fumaça, também a mentirada das igrejas (e troços esquisitos como isso) é terrível, porque não prende com ferro, prende com correntes de fumaça psicológica; que faz você ser escravizado por si mesmo. Como um cachorrinho e como um boi você aceita desgraçadamente uma vara e uma corda que domina o seu mais inestimável direito, o de ser livre. Você mesmo prende uma grossa corrente na sua cabeça, nas suas mãos, nas suas pernas, no seu pescoço. A mais cruel escravidão imposta a um ser que nasceu para usufruir da consciência.
    Você aceitou(?) a escravidão à invenção do Canalha Inatingível. Você adora essa invenção imposta por canalhas “espertos”, porque ela representa o egoísmo em imagem descomedida; a imagem do rei; que tudo pode, a tudo culpa os outros, tudo quanto é criatividade é dele, tudo de ruim é dos outros, e tudo de bom pertence a ele. Em fala comum: É o mimado preguiçoso que emburra se não for continuamente bajulado. A tristeza dessa imagem dana os que a adoram, porque adula o preguiçoso que ao fazer um pouco de trabalho já se prosta e fica enraivecido, porque acha o trabalho algo penoso, e tem ainda muito rancor contra os que são contentes com a Natureza; porque na realidade dela os capins crescem e precisam ser aparados, e isso contradiz a ilusão do cansativo descanso sem fim; um tipo de “céu” pra boi dormir. A mediocridade dessa invenção só é admitida porque você mesmo inveja uma tal sofrível e ridícula condição; que é o que você em seu egoísmo de “filho do dono” gostaria de ser (e também vive aluado atrás da idéia de que “dono”, “patrão”, é rico porque é vagabundo-enganador, um vida-mansa, como os falsos líderes que roubam os próprios degraus da escada em que sobem). A Natureza nem ao menos ri do que você corporal e psicologicamente colhe com isso. Ela repudia; e mostra os resultados desse estúpido pensar na Sociedade (que pena tanto quanto você); e mais agora ainda, em todo o ambiente prejudicado pelo coacervado grotesco e já repugnante do número de gente absurdamente em insano desvario.
    Aí meu(s) caro(s) você pergunta como é que todos podem aceitar ver tanta estampada desgraça, destruindo irreversivelmente ora um ora outro, e você se pega ainda mais “fiel” na mentira que os canalhas “mandantes” da vida das pessoas vestem, enfeitam, viciados no fumo de que vão continuar isso eternamente.
    Como? Se não fosse sua própria enganada condição psicológica você nunca aceitaria escutar coisas como a que um elemento que massacrou a cabeça de alguém que possa ter dito que a Justiça fica à direita da Verdade (frase prontinha pra ser usada com dissimulação e engodo pelos pulhas enganadores que traem a avidez humana pelo saber e a atolam de vez na fantasia); e nem em descuido você também se danaria a aceitar “humildemente” as tais “coisas que você não pode mudar”. Ah! No estender tão infinito do Universo se tem algo tão inequívoco como nosso flagrante de instante para ver e se deliciar com a vida; é a mudança ininterrupta que acontece inexoravelmente. Portanto, como consciência, só aceitando uma condição de covardia e submissão você dispensaria o seu valor como agente melhorador da sua própria vida e dos que desfrutam do mesmo instante de sorte que você. Então você tem a sortuda chance de viver que é muito menor do que a chance de morrer. E se você não aceita que a máxima lição da Natureza dá essa sorte a seu filho, ou ao(s) filho(s) de seu(s) amigo(s), e que isso já é suficiente para postar-se em sua vida com contentamento que assegure a própria beleza da vida; sinceramente só resta a você aceitar a mão da invencionice sobre sua cabeça; e afundar na falsa vanglória como aquele assassino que depois danou a “ditar” normas avêssas à liberdade humana.
    Então meu(s) caro(s), você é daninho a si mesmo, e nunca dará a chance a si próprio de pensar que o inventado Espantalho-Mor que vive(?) sentado num “trono” ( em que “altíssimo” só vai até à rala referência da atmosfera de nuvens de um planeta, pois daí pra lá essa noção de em cima e em baixo já não tem mais cabimento) precisa do seu tão parco e desassistido bolso. Que “poder” é esse? É a enganação parasita dos que não têm postura para encarar as dificuldades da vida como vemos em todo redor como é. E ao invés de viver sinceramente como um ser humano, consciente da necessidade de sua evolução, você espera ainda o refluxo da maior inundação dessa desgraça, que se dependesse de você nunca terminaria.
    Como você não suporta o sofrível e lastimável estado do seu desvalor para com seu próprio ser, então arraste um monte com você para o aumento dessa desgraceira. Apenas, então, nunca esqueça (refestelado ou não à custa disso): quanto mais você aumenta essa desgraça, maior é o tanto de esgoto que impedirá, quando você prumar a cabeça na esperança de se livrar; então verá o que fez aos outros.
    Haddammann Veron Sinn-Klyss.
    quarta-feira, 20 de maio de 2009

  14. se perdemos os pelos, por não perdemos também os cabelos da cabeça??? já que com a evoluçao, os pelos se foram, os cabelos da nossa cabeça também não teriam ido embora juntos com os pelos??? alguém pode me dar uma resposta??? ou seriamos uma especie que tinhamos só cabelos??

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