H1N1 resistente ao Tamiflu


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Para saber porque um vírus da gripe é mais perigoso do que outro, veja este outro texto.

influenza_h1n1.jpg

H1N1 de 1918 recriado em laboratório [fonte]

ResearchBlogging.orgSaiu nos jornais estes dias que a Roche registrou o primeiro caso de resistência ao Tamiflu (nome comercial do Oseltamivir) em uma garota de 9 anos na Dinamarca. Antes que as pessoas se desesperem e arranquem o cabelo, pois agora o apocalipse é inevitável, algumas considerações:

Um estudo da Nature Biotechnology deste mês de junho
apontava
, baseado na sequência genética e na estrutura predita da Neuraminidase, alvo de inibidores como oseltamivir e zanamivir (Relenza), que o H1N1 podia
desenvolver resistência ao Tamiflu facilmente. [1]

Isso acontece por causa de mutações que mudam o formato da neuraminidase, impedindo a ligação do antiviral. Mas o mesmo estudo apontou que o vírus resistente ainda seria suscetível ao zanamivir, e que essa droga deveria ser a preferencial para o tratamento. E esse foi o caso do vírus da garota, ele ainda era sensível ao zanamivir.

Além disso, o aparecimento de vírus resistentes ao Tamiflu é comum, e parece ser mais frequente em crianças. Um estudo no Japão verificou que isso ocorrreu em cerca de 16% das crianças com gripe comum tratadas. Duas possibilidades foram levantadas por eles para explicar isso, primeiro que a dose usada para crianças no Japão é padronizada, e não baseada no peso, o que leva a uma concentração de remédio por quilo do paciente inadequada em alguns casos.

Outro agravante é que crianças tiveram menos contatos com o Influenza ao longo da vida, e o sistema imune está menos preparado para combatê-lo, fazendo com que o período de tratamento seja mais longo e a supressão do vírus menos eficiente, aumentando as chances de uma variante resistente surgir e ser selecionada. [2]

Ou seja, com a quantidade de pacientes com gripe suína sendo tratados atualmente, é mais do que esperado que apareçam alguns vírus resistentes aqui ou acolá.

O grande perigo é a transmissão desse vírus. Uma outra linhagem de H1N1, que já estava circulando no hemisfério norte no começo do ano é “naturalmente” resistente ao Tamiflu, os vírus com a mutação na neuraminidase são 99% da população circulante. Isso indica que a linhagem resistente tem um bom fitness (se replica com eficiência, para não complicar a explicação do termo).

No caso do vírus da gripe suína (não gosto do nome H1N1, não é nada específico), o vírus resistente apareceu sob pressão seletiva da droga. Normalmente, vírus com mutações de resistência possuem um fitness menor, já que as mudanças na estrutura da neuraminidase comprometem a atividade dela, e ele só se dá bem porque os não mutantes são prejudicados pelo antiviral.

No caso do H1N1 de janeiro, uma outra mutação devolveu o fitness do vírus, e não é o caso de agora. Quando e se uma linhagem de gripe suína resistente começar a se espalhar, as coisas ficam mais preocupantes.

De qualquer forma, faço a ressalva: O Tamiflu é recomendado para pessoas especialmente sensíveis à gripe, crianças, idosos, grávidas. imunocomprometidos e outros. O uso indiscriminado, por prevenção ou apenas para aliviar os sintomas, só aumenta as chances de uma linhagem resistente ser selecionada e transmitida.

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Fontes:

[1] Soundararajan, V., Tharakaraman, K., Raman, R., Raguram, S., Shriver, Z., Sasisekharan, V., & Sasisekharan, R. (2009). Extrapolating from sequence–the 2009 H1N1 ‘swine’ influenza virus Nature Biotechnology, 27 (6), 510-513 DOI: 10.1038/nbt0609-510

[2] MOSCONA, A. (2004). Oseltamivir-resistant influenza? The Lancet, 364 (9436), 733-734 DOI: 10.1016/S0140-6736(04)16947-X

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111 responses to “H1N1 resistente ao Tamiflu”

  1. Sou Farmacêutico Bioquímico e Indústrial, com especialização em gerenciamento ambiental na indústria e durante minha especialização trabalhei em uma tese na qual investigava a possibilidade de bactérias desenvolvolverem a resistência bacteriana aos antibióticos, relacionado-as ao esgoto sanitário de hospitais contendo antibióticos ativos oriundos eliminação pelas fezes e urina. Rapidamente constatei que 40% de todos os antibióticos administrados durante a internação, acabavam literalmente indo para o ralo, encontrei bactérias com multirresistência em todas as amostras. Por fim, sugeri que dentre as muitas possibilidades de uma bactéria multirresistentes do esgoto transmitir a resistência para alguma cepa de dentro do hospital, ela poderia ser carreada por formigas que habitam os esgotos e ambientes como cozinha ou ambulatório. Muito tem se falado da gripe e da suposta resistência do vírus ao Tamiflu, e pouco se falado de que estamos tão ou mais vulneráveis às bactérias multirressitentes no hospital e que num futuro próximo teremos multiresistência fora do hospital.
    Mas a minha pergunta é a respeito do uso do tamiflu. Como tem ocorrido em Curitiba, onde os dados estão mais confiáveis e o índice de mortalidade por 100 mil habitantes está em torno de 2,33 com uma tendência de estabilização. É fato que muitas das pessoas que morreram da gripe suina nao tomaram o medicamento dentro das 48 primeiras horas, tomaram em estágios avançados e de muita infecção e replicação viral, o que aumenta a possibilidade de surgirem virus resistentes por pressão de seleção.
    Não seria melhor, mais inteligente e menos arriscado , utilizar o medicamento dentro das 48 horas, isolando ou restringindo a circulação da pessoa que recebesse o medicamento, do que simplesmente negar o medicamento, que poderia ter feito a diferença entre a vida e a morte de pelo menos 600 pessoas no Brasil?
    Obrigado pelo espaço…
    Marcio

  2. Marcio Silva,
    O Ministério da Saúde orienta a população para que procure um médico imediatamente, caso perceba os primeiros sintomas da Influenza A (H1N1), ainda em quadro leve. Aos médicos, a orientação é que o tratamento adequado (que pode ou não ser o Tamiflu, dependendo do estado e das pré-condições de saúde do paciente) seja iniciado também imediatamente, sem que se aguarde 48 horas.
    Acontece que muitos pacientes só procuram atendimento médico quando os sintomas já apresentam quadro de agravamento. Para estes casos, que devem ser tratados com o Tamiflu, o tratamento também deve ser iniciado imediatamente, pois são grandes as chances destas 48 horas já terem se passado sem que o paciente tenha procurado atendimento e, consequentemente, não tenha recebido qualquer tratamento.
    O Ministério da Saúde reitera que, uma vez prescrito, o medicamento não pode ser negado ao paciente.
    Para mais informações:
    fernanda.scavacini@saude.gov.br
    Assessoria de Comunicação
    Ministério da Saúde

  3. Glaucia,
    O tratamento deve ser prescrito pelo médico, que avaliará o paciente e indicará o medicamento mais adequado para o caso específico, de acordo com os sintomas e com o histórico de saúde do paciente.
    Para mais informações:
    fernanda.scavacini@saude.gov.br
    Assessoria de Comunicação
    Ministério da Saúde

  4. OLÁ..
    GOSTARIA DE SABER SOBRE A VASINAÇÃO EM BEBÊS DE 0 A 5 MESÊS ?
    OQUE DEVO FAZER,ELA SERÁ VENDIDA PR ESSES BEBÊS?
    GRATA!!

  5. Olá Átila, adorei o artigo, muito esclarecedor, trabalho em um hospital particular no Rio de Janeiro, na área administrativa e gostei muito do que li. Continue assim, com sua paixão por ciência e nos dando boas informações. Deus te abençoe. Abs,

  6. @Lorete,
    O fato dele ter tomado Tamiflu não interfere na vacinação. Mas se ele teve gripe suína, não há necessidade de se vacinar para o H1N1 agora.

  7. olha eu estou com suspeita de hn1 e estou tomando tamiflu de 12 em 12 horas e mais um remedio de dor de cabeca e febre comecei centir dor no corpo com febre e etc. daew foi na escola que me passaram a informacao que era pra eu ir pro medico que poderia ser hn1 foi de noite e nao deu outra mais o medica disse que poder ser mais tembem pode apenas ser um forte resfriado. o bem e que o madica me deu o remedio antes de 48 horas . tipo em comecei a centir a febre a dor no corpo a dor na cabeca por volta da 1 hora da madrugada e foi no hospital la pelo meia noite e comecei a tomar o remedio por volta das duas horas da madrugada

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