Pandemic 2 e lições para pandemias reais


Pandemic 2
é um jogo em flash muito bom. Nele, você é um parasita cujo objetivo é
matar todos os seres humanos. O valor deste jogo é que ele é muito bem
embasado. Com certeza houve uma boa consultoria durante a construção.

Então, vamos aproveitar o jogo (que claro, você vai querer jogar) e ver o que
tiramos de lição sobre pandemias dele. (como o post é longo, com várias imagens, tem mais depois do read more)

A
primeira etapa é escolher um tipo de doença. Adorei a descrição:
Vírus,
evolução mais rápida – fato, com um tempo de geração mais curta, e DNA
e RNA polimerases (enzimas que copiam o material genético) mais
propensas ao erro, eles mutam muito mais; mais afetados pelo ambiente –
não entendi bem este, acho que todos estão sujeitos ao ambiente, mas de
repente é pela jogabilidade; bônus para infectividade – gripe é um
ótimo exemplo disso.
Bactérias, evolução mais lenta – elas mutam menos
do que os vírus, e têm uma geração mais rápida do que os parasitas,
legal; bônus por resistência a drogas – isso é uma das coisas mais
importantes em bactérias. Os vírus são mais suscetíveis a vacinas do
que elas (deixando de lado o HIV, que contraria ambos, resistência a
drogas e vacinas) e a resistência a antibióticos é uma das maiores
preocupações de quem trabalha com saúde, vide a tuberculose
multirresistente;
Parasitas (aqui entendo como eucariontes, como
malária ou solitárias), baixa visibilidade – realmente, a maioria dos
parasitas maiores causa sintomas inexpecíficos, como cansaço, febre e
outros, que tornam o diagnóstico mais difícil, frequentemente passam
desapercebidos.

Em seguida, você escolhe um nome para a doença.
Curiosidade: vírus costumam ser nomeados de acordo com o lugar onde
foram descobertos, como Ebola, Hantavírus (por causa do rio Hanta),
vírus de Rift Valley, febre do Oeste do Nilo, Lassa e Marburg
.

Agora
você começa em algum ponto aleatório do planeta. Você infecta pessoas
por diferentes vias, fronteiras (gripe suína nos EUA), navios ou aviões
(gripe no Chile, Inglaterra e Japão), ressaltando o papel das viagens
na transmissão de doenças. Há várias formas também, como vetores
(artrópodes e roedores, como a dengue usando o Aedes aegypti) e
reservatórios de água (cólera é uma das doenças que faz isso com a
ajuda da diarréia que causa) ou pelo ar. Lá embaixo você acompanha o tempo
passando e a velocidade com que isso acontece (no começo, acelerar o
tempo ajuda a deixar o jogo mais animado.

Conforme aumenta o
número de pessoas infectadas, você ganha mais pontos evolutivos (já
conto para quê eles servem), e mais vermelhos ficam os países. Mas nem
tudo está a seu favor. Quando os governos começam a perceber sua doença
se espalhando, eles passam a fechar portos, aeroportos e reservatórios
de água. Dá para acompanhar isso pelas notícias do lado esquerdo. Nessa hora você realmente vai ter raiva de Madagascar, eles fecham os portos por qualquer coisa,
e já era. Por isso, até você invadir todos os países, é bom passar
desapercebido. Este é o ponto que não atingimos com a pandemia (agora é
oficial
) de gripe suína, países inspecionaram os turistas que
foram para o médico, mas nenhum deles fechou os aeroportos.
Teoricamente, a escala da OMS serve de guia para as medidas sanitárias
que os governos devem adotar, mas como não depende da
gravidade da doença (e isso deve mudar logo), ela não está sendo levada
tão a sério.

No menu World
você acompanha o que está causando. As regiões limpas são as que você
ainda não infectou, antes de infectar todas elas, é bom não causar
muitos sintomas. As regiões da direita são as completamente atacadas,
onde todos já morreram. Preste atenção em Vaccine Status,
quando sua doença for notada a humanidade vai começar a desenvolver uma
vacina contra você. A vacina tem que ser desenvolvida e entregue.
Quanto mais resistente a drogas você for, mais tempo ela demora para
ser desenvolvida, e quanto mais hospitais abertos (as cruzes do mapa), menos tempo ela leva
para ser entregue. Caso a vacina seja desenvolvida e entregue, você
perde o jogo.

Pensando na gripe suína, o desenvolvimento da
vacina está sendo feita em tempo recorde, normalmente leva mais de 6
meses. E a entrega deve ser bem desigual, com os países desenvolvidos
antes. Uma premissa do jogo que não é bem real é que, para todas as
doenças, vacinas eficazes são desenvolvidas. Na verdade, doenças com
vacinas eficientes são minoria. Em alguns casos, como a gripe, ela
funciona por um certo período de tempo, antes que o vírus mute o
suficiente para escapar (no caso do HIV ele muta
em pouquíssimo tempo, a ponto de a vacina não funcionar por completo).
Em outros, a vacina pode agravar a doença, como no caso da dengue, onde
uma resposta imune incompleta pode desencadear a forma hemorrágica.

No menu Disease,
está a melhor parte. Aqui você usa seus pontos evolutivos para ganhar
ou perder características. Claro que um organismo não escolhe o que
quer ou não causar, nem perde ou ganha capacidades desta forma, mas
deste jeito o jogo flui muito mais. Aqui, o que você compra vai
influenciar em três coisas, na sua letalidade, infectividade e
visibilidade. Adquirir resistência ao frio ou ao calor ajuda você a
aumentar sua infectividade e a atingir mais regiões, resistir a umidade
é necessário para ser transmitido através da água.

Os sintomas
que as doenças causam são ótimos. Além de uma descrição bem legal ao
clicar, e do custo diferente, cada sintoma possui um tipo de
influência. Febre aumenta a letalidade sem aumentar a visibilidade,
assim você mata mais sem ser percebido. Vômito aumenta sua
infectividade mas é facilmente notado. E por aí vai.

Acho esta
a parte mais completa do jogo. Aqui entendemos a diferença entre o
Ebola e a Gripe, e porque esta última causa mais medo. O Ebola é um dos
vírus mais letais, mas seus sintomas o tornam facilmente
detectável – convenhamos que alguém vomitando e transpirando sangue se
destaca na multidão – de forma que é rapidamente notado e combatido.
Enquanto a gripe causa mais febre (difícil de ser percebida, e sintoma
de várias outras doenças) e espirros, que a ajudam a se espalhar mais.

Aqui
fica a diversão. Para mim, a melhor estratégia foi causar poucos
sintomas no começo, até atingir todas as regiões – já disse que
Madagascar dá raiva? – e depois caprichar nos sintomas, com hemorragia,
diarréia, vômitos e o que mais ajudar a matar o povo rapidinho.

Logo o planeta todo fica vermelhinho, e sucesso.

Então que tal aprender mais sobre pandemias jogando aqui?

Post inspirado pelo ótimo podcast sobre virologia TWIV (This Week In Virology), para quem está com o inglês em dia.

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18 responses to “Pandemic 2 e lições para pandemias reais”

  1. Quando li o título, corri para ler o post.
    O jogo me pareceu sensacional, entretanto apresenta uma barreira intransponível para nossos estudantes (pelo menos na escola onde trabalho)e para mim também. Nosso inglês é menos que básico.
    De qualquer modo estou repassando a dica para os colegas professores.
    Valeu!

  2. Realmente Amara, a língua é uma barreira fortíssima nesse jogo.
    De repente uma aula integrada com o professor de inglês, mostrando para os alunos como funciona e lendo a descrição dos sintomas pode ser produtiva.

  3. Esse jogo é sensacional, “Maldita Madagascar”, faço parte de um clube de jogos de tabuleiros, e no nosso acervo teos um jogo chamdo Pandemic: http://www.boardgamegeek.com/boardgame/30549
    Os jogadores são especialistas e tentam controlar a infecção que se espalha. Na verdade são os jogadores contra o jogo. Mais detalhes estão o site.

  4. Muito interessante. Deixei para mais tarde já que o jogo parece exigir uma certa dedicação e tempo.
    O outro dia você estava fazendo uma pesquisa sobre quais posts gostaríamos de ver mais… Tá aí. Joguinhos de biologia rulez!

  5. Coo infectar Madagascar:comecem com um parasita,coloquem como único sintoma febre e como modo de transmissão da doença,por roedores somente.E resistencia ao calor,frio e umidade.Demora um pouco mas funciona.

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