Ateus, saiam do armário


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” – Idiota cego!… Imoral!
– Ei, vamos ter um pouco de respeito aqui!”

Dia desses, escrevi no twitter sobre o acidente de avião em que uma criança sobreviveu: antes que você diga que a menina foi salva por deus, pense que ele matou os outros 100 e tantos”. Meu twitter, minha opinião, quem me segue o faz por opção. Mas recebi a seguinte resposta: “só p/ constar: babaca imbecil. bestas quadradas como esse tipinho aí me estressa.”

Depois de argumentar com a pessoa, com mais respeito do que merecia, mais essa: “não basta carregar essa certeza com vc?” De novo, meu twitter, minha opinião, não forcei ninguém a ler isso. A conversa descambou depois, e um block resolveu tudo. Mas o que aconteceu está longe de ser incomum.

Se dizer ateu no Brasil é garantia de agressão gratuita e ignorância em defesa da liberdade e do respeito à religião. São pouquíssimos os religiosos praticantes que sabem começar e manter uma conversa respeitosa sobre religião com um ateu.

Deixo a discussão para o excelente post do Biscoito Fino, aqui vai um trecho:

Apesar do caráter laico da República Federativa do Brasil, garantido
na nossa constituição, as religiões ainda gozam desses estranhos
privilégios: não pagam impostos, por exemplo. A pior parte é que elas
podem dar palpite em absolutamente tudo — desde o currículo escolar
até o útero alheio – mas, no momento em que são questionadas, o debate
é silenciado com aquele mais cretino dos argumentos, ah, tem que respeitar minha religião.

Entendam o ponto de vista d’ O Biscoito Fino e a Massa sobre isso: tem que respeitar religião porra nenhuma. Tem que acabar com essa história de que, todas vezes que apontamos a misoginia, a homofobia, os estupros de crianças,
a guerra anticiência, os séculos de lambança obscurantista, sempre
aparece alguém para dizer “ah, tem que respeitar minha religião”.

Ideias não foram feitas para serem “respeitadas”. Ideias foram
feitas para serem debatidas, questionadas, copiadas, circuladas,
disseminadas, combatidas e defendidas, parodiadas e criticadas. De
preferência com argumentos. Seres humanos merecem respeito. Pregação
contra o que seres humanos são, por sua própria essência e identidade
(gênero, raça, orientação sexual) não pode ser confundida com sátira
antirreligiosa. A maioria dos carolas adora confundir sátira
antirreligiosa com ataque misógino ou homofóbico. Não entendem que sua
superstição é, essa sim, uma opção.

Continue lendo.

Em tempo, estado laico? Não o nosso.


22 responses to “Ateus, saiam do armário”

  1. Muito bom post Atila!
    Em expecial: “Ideias foram feitas para serem debatidas, questionadas, copiadas, circuladas, disseminadas, combatidas e defendidas, parodiadas e criticadas. De preferência com argumentos.”
    Excelente colocação, parabéns!
    ()’s.
    C.

  2. O problema todo não é o respeito à religião adotada ou então a decisão de não seguir religião alguma ou mesmo acreditar em Deus (eu acredito)ou alguma outra coisa (RÁ talvez :P), o problema real é a falta de respeito para com o próximo. Se todos respeitassem a opinião alheia, não haveriam tantas guerras. É a eterna mania de criticar o que a outra pessoa pensa/segue e ainda pior, tentar “convertê-la”, isso sim é o fim!
    Abração

  3. Ops…
    Eu tinha entendido que o Biscoito Fino também era seu blog, vi que não é… : |
    Mas o parabéns continua valendo, pois com certeza vc concorda com o post, ou nem teria citado. : )
    Valeu por dividi-lo conosco.
    ; )
    C.

  4. Mas esse é o ponto do post, Neto. Toda religião precisa pregar para crescer, batem de porta em porta, chamam pessoas para o culto, e fazem isso por séculos. Por que não podemos convencer os outros a serem ateus? (Com respeito, claro). Por que não debater, criticar, se é uma idéia, uma opção que a pessoa fez?

  5. Talvez eu tenha me acostumado com a pregação teísta, que já me incomodou muito e não incomoda mais. Já a pregação ateísta, talvez por ser mais recente, me incomoda demais. Os ateus adoram reclamar dos teístas em quererem “impor as idéias deles” quando o que eu mais vejo (talvez por ser rodeado de ateus) é o desrespeito para com os teístas. Mas, assim, de looonge vejo muito mais pregação ateísta disfarçada de “bom humor”.
    Ou pelo menos, quando eu vejo um religioso ironizar um comentário ateu, é sempre uma pessoa ignorante e simples que vejo fazendo isso. Já no lado ateu a ironia vem de pessoas inteligentes, cultas, e por isso mesmo que mais me incomoda a grosseria.
    Enfim. Não sou uma pessoa de fé, fico aqui na minha, sem acreditar em existência ou não existência de nada, e talvez por isso preferia que vocês, crentes (teístas e ateístas), fossem menos fervorosos e chatos. Acho que a culpa é minha, se um dia eu me considerasse um iluminado “ó, eu SEI o segredo do mundo” fosse um penteleho também (será que é inveja minha?)

  6. e por que não deixar cada um acreditar no que bem entender – desde que, justamente, não metam a colher em prato alheio? achei que a tira pode ser redesenhada com o dawkins dando livrada num cara com camiseta de religioso.

  7. Arthur Clarke definiu a religião como uma psicopatologia. Eu chamo de câncer social.
    Em tempo esse negócio de “saia do armário” é algo meio gay, não?

  8. @maria,
    Entendo seu ponto, mas acho que o Dawkins é um dos poucos exemplos (o único que me lembro) de ateu pregador que conheço. Em compensação, sempre recebi pessoas batendo em minha porta pregando, e na escola católica que estudei, a aula de ensino religioso versava só sobre cristianismo, com direito a missas e pai-nosso quase sempre. Por que eles podem pregar e os ateus não (não que eu defenda a posição do Dawkins, acho que ela só reforça as diferenças)?

  9. é verdade que há mais pregadores religiosos do que pregadores ateus. mas o dawkins não é o único. outros ateus proeminentes, como o daniel dennett, fazem parte dessa onda de pregação que tem angariado uma legião de adeptos.
    eu não sigo nenhuma religião e não imagino que haja um deus (ou muitos). não professo nada não só porque respeito a intimidade de cada um, mas porque não tenho provas cabais (o que, sabemos, cientificamente não existe) da inexistência de deus (nem me interesso por encontrá-las).
    muito mais do que os pregadores de um lado e doutro, me interessam as pessoas que convivem com as duas coisas. está cheio de cientista, evolucionista inclusive, que cultiva alguma crença em deus. essas coisas não são incompatíveis.
    na palestra na flip, o dawkins prometeu demonstrar que minha visão está errada, de que não há nada de mau nas pessoas acreditarem em deus. não demonstrou, nem de longe. fiquei com pena, adoro quando argumentos convincentes me mostram algo que eu não sabia.

  10. Atila,
    Sou católico e não tenho problema nenhum em debater. Pelo contrário, adoro. Não acho que atitudes como a dessa menina no twitter desabonem a religião em si, embora sejam testemunhos inconvenientes. Igualmente, não acho que o ateísmo implique coisas toscas como essa: http://tr.im/qCzF
    Também defendo seu direito de ser ateu, de propagandear o ateísmo e de achar que religião equivale a superstição e que ter fé é burrice, e tal. Vi outro dia no seu twitter a piadinha do “God made me an atheist” e, pro meu referencial, é mais ou menos por aí mesmo. :c)
    Se quiser discutir religião comigo, estou às ordens.
    Abraço,
    André (@andlima)

  11. Bom, inicialmente gostaria de dizer que a tirinha é uma crítica muito bem feita. Quanto a agressão verbal que você sofreu Atila, se esta foi a primeira, não será a última, infelizmente.
    Eu li os comentários de MARIA, que achei interessantes também, dá pra fazer uma reflexão bem legal em cima disso.
    Então, eu pensei: o que seria pregar o ateísmo?
    Eu, por exemplo, coloquei essa tirinha no meu fotolog, porém não me sinto como uma pregadora ou muito menos como impositora do ateísmo. “meu fotolog, minha opnião”.
    Acontece, que o ateísmo não se estrutura como uma religião (e eu espero que isso nunca aconteça), por isso, acho difícil comparar à prepação religiosa, embora, como foi citado, Dawkins o faça bem. Também sou de acordo com “e por que não deixar cada um acreditar no que bem entender – desde que, justamente, não metam a colher em prato alheio?”
    mas me pergunto, e pergunto a todos: até que ponto isso é possível?
    Quero dizer, se existem cristãos fazendo protestos contra a qualquer lei favorável a homossexuais, logo estão metendo a colher na vida dos outros. O que me incomoda sobretudo é “A pior parte é que elas podem dar palpite em absolutamente tudo — desde o currículo escolar até o útero alheio”, por que religiosos têm esse direito? Digo, quanto a cidadão você pode votar contra ou a favor da relação aborto, relação estável de pessoas do mesmo sexo e por aí vai, mas se o discurso é de ambito religioso, eu diria que ‘caiu pro lado pessoal’, e detalhe, que esta é mais uma prova de que muitas pessoas votam ou agem baseadas no seu prórprio interesse, ou em qualquer conceito particular e não na reflexão sensata e coletiva em prol de uma sociedade.

  12. @Narayan,
    Pois é, uma coisa que me incomoda é essa postura tolerante com religiosos opinando nos mais diversos assuntos, e contra qualquer manifestação de ateus, por desrespeito à crença alheia. Também sou adepto do cada um com sua que a Maria mencionou, mas vejo muito mais ateus com essa postura do que religiosos.

  13. @ Isa,
    Li sim, adoro o que o Reinaldo escreve. Aliás, ele é uma das melhores pessoas para discutir sobre o tema. Valeu pela dica.

  14. Isso tudo é muito interessante. Eu acredito em Deus, e nada na minha é mais importante do que ele. Antes eu ficava muito irritado qndo alguem falava que Deus não existia mas isso era qndo eu era adolescente. Hoje vejo que não há nada como uma discussão saudável.
    Aliás, o meu melhor amigo no segundo grau era ateu, a gente sempre conversava sobre o assunto… rs.. Ele não conseguia entender pq eu acreditava… mas a gente conversava normal, eramos amigos..
    Outrossim, eu já vi mutios cristãos que não agem como deveriam, sendo grosseiros com as pessoas por aquelas serem homossexuais, ateias, etc… com isso nunca vou concordar, eu trato todos normalmente, uma amiga minha é lésbica e há esse meu amigo ateu… Eu não concordar com o que eles fazem ou pensam não significa q eu não goste deles.
    Abçs,
    Marcelo

  15. Eu penso que o ateu não duvida da existencia de “deus”. Ninguem sabe o que é isto. Não se pode duvidar de uma coisa que ninguem sabe o que é.É um substantivo de imaginação. O ateu deve portanto, agir concretamente. Duvidar do oráculo. O que esta por trás do oráculo. Como toda inspiração divina ou mediunidade, é escrita, lida e interpretada por gente; quais são os verdadeiros interesses dos mediuns, pastores, padres e etc. Os deuses não falavam em democracia.

  16. Amei o post. Não sou ateu, mas sim um agnóstico teísta. Não importa, enfim. O lance é que os carolas e teístas são, em sua maioria, um bando de ignorantes com a Bíblia debaixo do braço. Nesta hipótese, me aproximo mais dos ateus, mormente na hora que começam a querer nos apedrejar.
    E seja o que Deus quiser (irony mode on) 🙂

  17. Cada um tem o direito de acreditar no que quiser, tem muita gente que acredita naquele Deus indiano que tem trocentos braços, cabeça de elefante e outros penduricalhos… tem gosto pra tudo né?
    A Bíblia é um livro fabuloso, deveria ser entendida e estudada como literatura, assim como a mitologia grega, romana e afins. Podemos duvidar de tudo, até mesmo da existência de um Deus soberano, mas nunca poderemos negar que a Bíblia é um belíssimo livro, muito bem feito, mas extremamente fantasioso.

    • Pena que seus comentários terminaram com adjetivos que voce não demonstra serem logicamente justificados

  18. Ser ateu é ser dogmático pois, o ateu precisa crer que sua mente não é capaz de imaginar a existência de uma inteligência superior. É crer na impossibilidade de um Ser com Criatividade e Poder para habitar na Eternidade e gerar tudo que existe no Universo conhecido pelo homem. Ser Ateu é descrer na História, é não confiar no otimismo, é limitar a si e ao que está além de si. Ser ateu é aniquilar a inteligência, a verdade e a vida. Ser cientista é buscar a sabedoria, é crer que há o que ser descoberto, pois só vemos a superfície, a aparência, o que está coberto, mas pode ser des-coberto.Cuidado com a pressa do seu pensar.

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