Honesto que mente ou desonesto que se controla?


Uma questão bem pertinente sobre honestidade. Em uma situação onde você pode levar vantagem sendo desonesto, o que acontece, você tende a mentir mas se contém ou você tende a ser honesto e faz uma forcinha para mentir?

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ResearchBlogging.orgSegundo House et al., pessoas sempre mentem, mas qual é o ponto
de partida? Nosso cérebro precisa se controlar ativamente para mentir ou para não
mentir? Pesquisar esse tipo de resposta sempre é complicado, uma vez
que quando você vira para o voluntário e fala: “Mente na sua
resposta”, ele já sabe que tem que mentir, e as respostas mudam. Não é avaliada a escolha de mentir.

Mas um grupo do departamento de psicologia de Harvard achou uma solução
bem elegante. A intenção foi observar por fMRI (ressonância
magnética funcional, também muito usada por House et al.) regiões associadas a conflito, controle cognitivo e inibição de respostas.  – Aos interessados, córtex cingulado anterior, região dorsolateral e ventrolateral do córtex pré-frontal.

Se as pessoas tendem a ser honestas e fazem esforço para mentir, a
região de controle deve acender ao serem desonestas. Já se tendem a
mentir levar vantagem sempre, precisam ativar a região de controle para se
comportar honestamente, e ela fica inativa quando estão sendo
desonestas.

Um experimento que desse a oportunidade para ganho desonesto foi
bolado. Os voluntários eram chamados para um experimento que
verificaria a paranormalidade das pessoas através do lançamento de moedas.
Assim, haviam duas situações para medir a atividade nervosa: na primeira,
o voluntário dava o palpite de qual lado ele achava que cairia para
cima, cara ou coroa, e a moeda era jogada. Para cada acerto ele ganhava
$3 e para cada erro perdia o mesmo valor. Esta era a atividade normal
do cérebro, já que a pessoa não tinha controle sobre os ganhos; na
segunda, o voluntário dizia qual o palpite que ele tinha pensado depois
do lançamento ser feito. Ele dizia se tinha acertado ou errado, e ganhava ou
perdia $3 novamente. Aqui, a pessoa tinha a oportunidade de mentir o
palpite, e ser recompensada, sem saber que o teste era montado
justamente para medir isso.

Como as chances de uma moeda dar cara ou coroa são de 50%, e ninguém
consegue prever o futuro – se você acha que paranormais existem, está
no blog errado – detectar os desonestos foi bem simples.
Qualquer um que acertasse menos do que 53% dos lançamentos era
classificado como honesto, os que acertavam entre 53 e 68% eram postos
de quarentena, no grupo ambíguo, e quem acertava 69% ou mais ganhava o
rótulo de desonesto (aliás, na cara larga, alguns chegaram a “acertar” 100%).

Na situação em que não havia escolha, e nas que havia mas as pessoas
tinham acertado o lado da moeda, não houve diferença nos tempos de
resposta nem na atividade das regiões de controle do cérebro. Aqui, o ganho era honesto. Já quando
havia a opção de mentir, as pessoas honestas não demoravam mais para
responder que haviam perdido, bem como não tinham atividade nervosa alterada. Os
indivíduos desonestos acendiam as regiões de controle e levavam bem
mais tempo para responder se haviam ganho.

Esse tempo de resposta mais longo indica a tomada de decisão sobre o
que responder. E quanto mais desonesta a pessoa, mais atividade nas
regiões de controle.

O estudo não resolve se a maior atividade dos centros de conflito e
tomada de decisão é porque os indivíduos desonestos precisam se
esforçar para mentir ou decidir se compensa ou não mentir naquela
situação. Mas mostra que nossa honestidade é espontânea.

Não é o grande estudo final sobre o comportamento humano, e nenhum vai ser, mas abre portas para novos testes. Será que quem mente demora para resolver mentir ou para escolher quando mentir? O que muda em pessoas honestas ou desonestas? Qual a motivação dos honestos?

Como sempre em ciência, uma pergunta respondida abre portas para muitas outras novas.

Fonte:

Greene, J., & Paxton, J. (2009). Patterns of neural activity associated with honest and dishonest moral decisions Proceedings of the National Academy of Sciences, 106 (30), 12506-12511 DOI: 10.1073/pnas.0900152106


2 responses to “Honesto que mente ou desonesto que se controla?”

  1. Noooossa!Super interessante o estudo!
    Apesar de que raciocinando um pouco e discutindo com alguns amigos aqui..acho que isso ja era meio que senso comum..
    Todo mundo faz um certo esforço pra mentir.. inclusive quem tem um pouco de sensibilidade (principalmente mulheres) conseguem detectar um mentiroso à distancia exatamente por esses pequenos sinais…
    E isso já é uma habilidae humana mio que intrínseca..mnas enfim estudos como esse são sempre interessantes..
    Ótimo post..abraços

  2. É interessante o trabalho pq mostra bem claro que existem duas estratégias comportamentais bem definidas pelo funcionamento do cérebro. Espontâneo, como você disse.
    Até que ponto as pessoas “escolhem” serem honestas ou sacanas?

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