Abrindo caminho para nadar


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Helicobacter pylori. Fonte.

ResearchBlogging.orgHelicobacter pylori é aquela bactéria nada gentil que vive nos nossos
estômagos e dá uma ajudinha em uma úlcera ocasional. Além da capacidade
impressionante de sobreviver em um ambiente com pH 2, a bolsa de
esterilização que é o nosso estômago, ela ainda consegue se mover
através do muco estomacal, que é bem espesso.

Se pensava que
os 4 a 6 flagelos dela – aqueles longos prolongamentos – fossem responsáveis
pela façanha, mas tem mais envolvido. Quando nós patinamos no gelo –
nós com um pesar, eu até hoje não tive a oportunidade – aproveitamos
uma mudança nas propriedades do gelo para fazer isso. Quando a lâmina
dos patins encosta no gelo, a pressão do corpo todo é concentrada em
uma área muito pequena. Com isso, o gelo naquele local derrete, e é
sobre essa água do gelo derretido que deslizamos. O que a H. pylori faz é quase isso, mas com o pH.

O
muco do estômago é feito de proteínas, principalmente mucina gástrica,
e é bem espesso, com uma consistência de gel. Ele serve para proteger a
parede do estômago das próprias enzimas. Quando esse muco é
danificado, aparecem as primeiras irritações estomacais que originam as
úlceras. Mas a consistência depende do pH.

No pH neutro das
células onde é produzido, o mudo é viscoso, mas líquido. Só no pH ácido
que ele adquire a consistência de um gel. Essa diferença facilita a expressão e transporte da proteína para o local certo. O que os pesquisadores
fizeram foi colorir o meio de cultura da H. pilory com uma
substância que brilha mais em pH neutro e aproveitar o meio de vida da
bactéria.

Para aguentar o abiente ácido do estômago, a Helicobacter degrada uréia do aparelho digestivo e forra sua parede externa com uma camada de íons negativos, que aumentam o pH localmente.
Medindo o brilho ao redor da bactéria, eles perceberam que, ao invés de
usar os flagelos para abrir o meio como um saca-rolha como se pensava,
ela simplesmente neutraliza o pH ao seu redor, deixando a mucina mais
fluída e nadando.

Como nós fazemos com os patins, por que se mover do
jeito mais difícil quando podemos alterar o ambiente?

Fonte:

Jonathan P. Cellia, Bradley S. Turnerb, Nezam H. Afdhalb, Sarah Keatesb, Ionita Ghiranb, Ciaran P. Kellyb, Randy H. Ewoldtc, Gareth H. McKinleyc, Peter Sod, Shyamsunder Erramillia, & Rama Bansila (2009). Helicobacter pylori moves through mucus by reducing mucin viscoelasticity PNAS : 10.1073/pnas.0903438106


8 responses to “Abrindo caminho para nadar”

  1. Interessante…
    A redução da proteção do estômago é (leia-se: pode ser) devido ao movimento da bactéria… E eu que sempre imaginei que a bactéria se alimentava do muco…

  2. meu namorado tem essa bacteria a 3 anos fez tratamento com antibioticos e não melhora o q se pode ser feito ele passa muito mal…existe uma planta medicinal q mate essa bacteria

  3. Oi Eliane,
    Sinceramente não sei o que pode ajudar seu companheiro. Já ouvi falar de tratamentos com outros antibióticos para os casos de resistência, como parece ser o dele. Mas meu conhecimento médico acaba por aí. Infelizmente, tudo o que posso fazer é recomendar a visita a um gastroenterologista. Estimo melhoras.

  4. Muito interessante a forma de ação da H. pylori.
    É como se ela ‘adaptasse’ o pH do meio estomacal às suas próprias condições.
    Apesar de saber que a bactéria habita no estômago devido ao pH ácido, queria entender se isso acontece só no estômago mesmo ou dependendo do estágio do caso a bactéria pode chegar a colonizar outras estruturas adjacentes, como esôfago ou intestino (jejuno/ileo)?

  5. @Isabella,
    Não faço a menor idéia 🙂
    Imagino que no intestino o pH seja muito alto pra ela, pelo menos na maior parte do tempo. Além de ser habitado por uma série de outras bactérias já especializadas.

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