H1N1, mais de 90 anos entre nós: a origem e história desse vírus


Onde foi parar o vírus de 1918, e de onde vieram os vírus atuais?

H1N1 de 1918 recuperado.

ResearchBlogging.org
A pandemia atual tem nos assustado e levantado perguntas sobre a relação entre este H1N1 e o H1N1 de 1918, o causador da gripe espanhola. E ainda, qual a diferença dele para outros vírus como o H2N2 e o corriqueiro H3N2? Eles são muito mais íntimos do que você imagina.

O Influenza A tem o seu material genético organizado em pedaços. São 8 genes, em 8 fragmentos de RNA, que produzem 11 proteínas. Tudo o que ele precisa para invadir uma célula, dominar a maquinaria celular para produzir cópias suas e partir para a próxima. Sua patogenia, os sintomas e a virulência, são diretamente dependentes destes genes e da combinação entre diferentes linhagens deles, que vêm e vão através do rearranjo, a mistura dos genes de vírus diferentes que infectam uma mesma célula.

O primeiro registro certo e confiável que temos do H1N1 é o isolado de 1918, de corpos preservados no gelo do Alaska e em amostras de tecido em formol. Sabemos agora que ele já circulava em humanos desde pelo menos 1907, e que o vírus suíno detectado em 1931 que se imaginava ter se originado do vírus da gripe espanhola circulava paralelamente a ele, e uma origem comum. [2]

Embora a chamada gripe espanhola tenha acabado em 1919, o vírus não sumiu. Ele se tornou a linhagem predominante em humanos, e continuou circulando e mudando durante os próximos 38 anos. Mudou o suficiente para escapar do sistema imune dos hospedeiros, mas não o suficiente para causar grandes estragos como antes.

Mas algo ocorreu em 1957. Neste ano, o H1N1 que havia mudado entre 3 e 6 anos antes [2] explodiu. Ele adquiriu 3 de seus 8 genes de um vírus aviário, Hemaglutinina, Neuraminidase e um dos integrantes da polimerase viral – enzima que faz a cópia do seu material genético – o PB1. Com isso, o recém formado H2N2, que ainda carregava grande parte do H1N1 mas escapava do sistema imune das pessoas, infectou milhões no mundo todo, causando a chamada Gripe Asiática. O H2N2 substituiu completamente o H1N1 e seria o vírus dominante pelos próximos 11 anos.

Em 1968, mais um evento marcante na história do Influenza. O vírus havia recebido dois novos genes, a Hemaglutinina e PB1 novamente, em 1966 [2]. Agora ele explodia na Gripe de Hong Kong como H3N2. Ainda carregava genes do H1N1 de 1918 e a Neuraminidase 2, mas sua nova Hemaglutinina garantiu mais uma vez o passe pelo sistema imune e a consequente pandemia. Embora os genes compartilhados devam ter contribuído para alguma imunidade de fundo, suficiente para a pandemia de 1968 ser menos severa do que a de 1957.

Agora, em 1977, um novo incidente. E desta vez, inédito. O H1N1 voltou a circular, causando a pandemia da Gripe Russa. Mas não precisou adquirir nenhum gene novo para isso. A linhagem de 1977 era idêntica ao H1N1 de 1951. Em algum teste de vacinas, provavelmente na União Soviética ou no Leste Asiático, o vírus H1N1 vazou do laboratório. Os 26 anos até então foram suficientes para uma geração toda sem imunidade. – Aviso aos conspiracionistas de plantão: quando um vírus vaza de um laboratório, como nesse caso, isso fica bem evidente pela grande semelhança com a linhagem original. E não, não é o caso da gripe atual.

O H1N1 de 1951 reintroduzido em 1977 e o H3N2 de 1968 circulam até hoje, e talvez coexistam porque temos uma população grande o suficiente para manter a transmissão de ambos. Foi esse H3N2 e duas linhagens suínas de H1N1, uma delas derivada diretamente do vírus suíno de 1918, que deram origem ao novo H1N1, causador da gripe suína.

E vendo o rolo que é essa história, o vai-e-vem de genes, vocês devem entender porque reluto em chamá-la de Gripe A H1N1. A figura abaixo resume bem o histórico dos últimos 90 e tantos anos de convivência entre nós e o H1N1, clique para ampliar:

linha_do_tempo_influenza.jpeg
Fonte: The New England Journal of Medicine [3]

Como podemos ver pela figura acima, você, eu e provavelmente todas as pessoas do mundo já tiveram seu contato com o vírus de 1918, seja pela terceira ou quarta geração. Trocando e mudando seus genes, ele conseguiu permanecer por mais de um século entre nós (considerando a introdução apontada pelo artigo [2]).

Observação importante: O artigo [2] descreve a estimação da entrada dos vírus pandêmicos e mostra que eles circularam por anos antes de se espalharem mundialmente. O que deixa claríssima a necessidade de monitorarmos com muita atenção quais são os vírus circulantes, sem deixarmos de lado as linhagens minoritárias, que podem ser as próximas a causar estrago.

Fontes (em ordem de importância para o texto):

[1] Palese, P. (2004). Influenza: old and new threats Nature Medicine, 10 (12s) DOI: 10.1038/nm1141(pdf)
[2] Smith, G., Bahl, J., Vijaykrishna, D., Zhang, J., Poon, L., Chen, H., Webster, R., Peiris, J., & Guan, Y. (2009). From the Cover: Dating the emergence of pandemic influenza viruses Proceedings of the National Academy of Sciences, 106 (28), 11709-11712 DOI: 10.1073/pnas.0904991106
[3] Morens, D., Taubenberger, J., & Fauci, A. (2009). The Persistent Legacy of the 1918 Influenza Virus New England Journal of Medicine, 361 (3), 225-229 DOI: 10.1056/NEJMp0904819

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65 responses to “H1N1, mais de 90 anos entre nós: a origem e história desse vírus”

  1. Oi Átila!Poxa que legal seu blog!Estou fazendo um seminário sobre H1N1 para uma disciplina da faculdade( faço Ciências biológicas na UFMG). Estou me baseando em alguns dos seus posts.Fiquei com uma dúvida:Uma variante do H1N1 causa a gípe espanhola?

  2. eu acho que essa gripe foi criada pelo grupo dos elluminatis
    dois criadores rockefeller,rotschild com intuito de reduzir a populaçao em cerca de 80% para que sobrem so 20% para que
    seja introduzido o chip com o numero 666.voce acredita nisso. NAO TOME A VACINA.

  3. Atila, hoje aqui em Macae-RJ comecou a ser divulgado na rádio que pessoas que tomaram a vacina e estão fazendo testes de HIV, estao recebendo o resultado como positivo mesmo sem estarem infectadas com o vírus. Pode haver alguma ligação entre as duas doenças? O que você acha da vacina?

  4. Oi Atila.
    Achei muito bom o seu Blog e gostaria de deixar algumas dúvidas a respeito da vacina contra a H1N1.
    Tenho percebido que todos meus conhecidos ficaram resfriados logo após tomarem essa vacina, e há também um caso de uma parente (sadia), grávida de cinco meses,que após a vacinação sofreu uma cesariana de emergência,e seu bebê teve que ficar na UTI (com problemas respiratórios)e não resistiu.
    minha dúvida é: Se a vacina é a utilização (introdução) do próprio vírus, e a propagação dessa doença se dá pelo contágio respiratório, será que quem está sendo vacinado também não está passando o vírus? e quem já adquiriu a doença, também esta sendo vacinado? como essas pessoas estão sendo filtradas?
    Um fato muito interessante, mas que não sei se tem algo a ver com esse “novo” vírus é que o resfriado comum a um tempo atrás, tinham como sintoma basicamente, tosse,muco (catarro), coriza e dor de cabeça, hoje em dia, o resfriado comum já adquiriu outros sintomas, tenho três filhos, e ultimamente todos tem apresentado os mesmos toda vez que ficam resfriados, tosse,muco,dor de cabeça,febre sem identificação de inflamação (acima de 38,5)dores no corpo, falta de apetite,vômitos,problemas intestinais e dores abdominais,e segundo os médicos que os atende,são sempre causados por uma “virose”, e após mais ou menos uns dez dias acabam melhorando.
    Qual seria o real motivo de digamos,esses resfriados estarem mudando? será que é devido aos novos vírus “fabricados para vacinas”, pois os sintomas são os mesmos mas não desenvolvem a doença.
    Abraços!!

  5. Oi Atila.
    Achei muito bom o seu Blog e gostaria de deixar algumas dúvidas a respeito da vacina contra a H1N1.
    Tenho percebido que todos meus conhecidos ficaram resfriados logo após tomarem essa vacina, e há também um caso de uma parente (sadia), grávida de cinco meses,que após a vacinação sofreu uma cesariana de emergência,e seu bebê teve que ficar na UTI (com problemas respiratórios)e não resistiu.
    minha dúvida é: Se a vacina é a utilização (introdução) do próprio vírus, e a propagação dessa doença se dá pelo contágio respiratório, será que quem está sendo vacinado também não está passando o vírus? e quem já adquiriu a doença, também esta sendo vacinado? como essas pessoas estão sendo filtradas?
    Um fato muito interessante, mas que não sei se tem algo a ver com esse “novo” vírus é que o resfriado comum a um tempo atrás, tinham como sintoma basicamente, tosse,muco (catarro), coriza e dor de cabeça, hoje em dia, o resfriado comum já adquiriu outros sintomas, tenho três filhos, e ultimamente todos tem apresentado os mesmos toda vez que ficam resfriados, tosse,muco,dor de cabeça,febre sem identificação de inflamação (acima de 38,5)dores no corpo, falta de apetite,vômitos,problemas intestinais e dores abdominais,e segundo os médicos que os atende,são sempre causados por uma “virose”, e após mais ou menos uns dez dias acabam melhorando.
    Qual seria o real motivo de digamos,esses resfriados estarem mudando? será que é devido aos novos vírus “fabricados para vacinas”, pois os sintomas são os mesmos mas não desenvolvem a doença.
    Abraços!!

  6. @Ana Lucia,
    O vírus contido na vacina está inativado. Isso quer dizer que podemos desenvolver alguns sintomas da gripe, aqueles que correspondem ao nosso corpo reagindo: um pouco de febre, dor de cabeça e muco, por exemplo. Estes sintomas são produzidos pelo nosso sistema imune e não dependem da presença de um vírus ativo, e são esperados, já que estamos vacinando para desenvolver uma resposta imune. Quem já teve a doença já desenvolveu anticorpos contra o vírus e não precisa mais da vacina, mas não há complicações caso essa pessoa seja vacinada.
    Quanto à gravida, não foi encontrada associação entre a vacina e anomalias, então talvez seja uma infeliz coincidência.
    O resfriado é causado por um outro tipo de vírus, o Adenovírus. Este costuma causar sintomas menos severos, e atinge principalmente crianças. O que aconteceu há alguns anos é a entrada de uma nova linhagem que está causando mais sintomas. E sabemos que ela já circula há bastante tempo no mundo, mas só alguns anos atrás é que veio para o Brasil.

  7. Ola…,pienso que todo que acontece en el mundo de hoy, fenomenos e enfermedades es algo que acontecioron en el pasado.Ya el tiempo pasa,el hombre evoluciona,asi pasa tambien con los micro-macrorganismo, se adaptan al medio ambiente y en caso concreto de los patogenos puede haver una mutacion y adaptandose mejor medio ambiente que les toca vivir.Causando sintomas parecidos o similares y se produce la enfermedad.Lo que pasa es que el hombre no deve olvidar el pasado pero questionando el presente y comparando con el pasado alcersano el presente…,asi estaremos casi todos preparados de lo que vendra al fututo,…

  8. Atiala eu gostei do seu blog e da forma que vc elaborou esse texto.preciso das informaçãoes sobre as acões que foram desenvolvidas paralelas ao estudo do vírus.

  9. Átila, boa noite! Pesquisando sobre a gripe A H1N1, por ser objeto do meu tcc da pós em saúde pública que estou cursando, gostaria de obter sua opinião sobre a camp. de vacinação contra a gripe A, realizada em 2010. Ela era mesmo necessária, ou o governo acabou por realiza-la por uma cobrança da sociedade e que a mídia fez todo um apelo? E hoje, será que não temos mais registro de complicações e óbito causado por essa gripe? E óbitos por complicações da gripe comum (sazonal) não chega a ser superior ao da H1N1? Grata! Jacilene

    • Oi, Jacilene. Não conheço os números sobre a vacina e mortalidade por gripe, de maneira que não sei responder. Um epidemiologista seria mais indicado para responder as ótimas perguntas.

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