A ciência dos vampiros


Este post serve para chamar a atenção dos futuros cientistas para um campo que vem sendo completamente negligenciado na ciência, os vampiros. E falo dos vampiros de verdade, e não da globeleza ou qualquer coisa purpurinada que brilhe no Sol. Dito isso, vamos ao filão que estamos perdendo:

Vampiros produzem ótimos anti-coagulantes e anestésicos
Assim  como as sanguessugas produzem hirudina, uma substância que impede o sangue de coagular para se alimentar, os vampiros devem fazer o mesmo. Já notaram quanto sangue sai de uma mordida sem formar um coágulo? Ainda mais. Pouquíssimas vezes vi pessoas gritando quando são mordidas por vampiros, o que indica que eles devem possuir um ótimo anestésico de efeito local e rápido na saliva. Provavelmente opiáceos, dada a cara de “tô gostando” que vemos em alguns filmes e séries.
Isso faz todo sentido, uma vez que a evolução deve favorecer vampiros que não assustem suas presas e consigam se alimentar por mais tempo, e sem chamar atenção.

Vampiros possuem ótimas telomerases
Quando cultivamos células extraídas de tecidos animais em cultura, elas morrem após algumas gerações (a não ser que sejam células tumorais). Isso acontece porque a cada divisão celular, as pontas dos cromossomos, os telômeros, perdem um pedaço. Por isso, imagina-se que, mesmo que as pessoas não morram por conta de doenças, existe um limite para a longevidade determinado pelo tamanho dos telômeros.
Como quem os repara é a telomerase, vampiros devem possuir telomerases extremamente eficientes. É a única forma de viverem tanto quanto afirmam. Vampiros mentem?

Vampiros são sensíveis à luz UV
Um dos tipos de câncer mais comuns é o câncer de pele ou melanoma. A principal causa deste tipo de câncer são os raios ultravioleta que destroem o DNA, principalmente formando dímeros de timina, um dos componentes do ácido nucléico. Como vampiros são extremamente sensíveis à luz UV, imagino que um dos motivos seja um sistema de reparo de DNA extremamente ineficiente.
Comparando os genes responsáveis pelo reparo de DNA em pessoas normais com os de vampiros, podemos saber quais são as mutações que dão margem para uma maior sensibilidade à luz solar e uma consequente propensão ao câncer de pele.

Outra explicação pode ser a porfíria, doença de herança genética que interfere na síntese de hemaglutinina do grupo heme (carregador de oxigênio) da hemoglobina. [brigado Karl, foi culpa do Influenza] Na verdade é um grupo de doenças associadas com esta via metabólica. Os sintomas mais visíveis da porfíria são as lesões de pele causadas por extrema sensibilidade à luz. Também pode haver o acúmulo de precursores do grupo heme nos dentes e nas unhas, deixando-os avermelhados. Vampiros são candidatos certeiros a porfíria.

A cura da hemocromatose
Uma doença seríssima, que se imagina ter sido a precursora das sangrias, é a hemocromatose. Ela é causada pelo acúmulo de ferro nos órgãos, causado por uma incapacidade de processá-lo, geralmente hereditária. Vampiros precisam digerir litros de sangue periodicamente, e devem possuir enzimas muito eficientes, com grande potencial para o desenvolvimento de remédios.

Vampiros podem ser vetores de doenças
Animais hematófagos são potencias vetores de doenças, uma vez que abrem caminho para que vírus, bactérias e outros parasitas entrem na corrente sanguínea. Carrapatos podem transmitir a Rickettsia sp. causadora da febre maculosa; pernilongos transmitem dengue, febre amarela, malária e um sem número de outras doenças; o barbeiro transmite a Doença de Chagas; morcegos hematófagos transmitem raiva. Dado o tamanho da ferida envolvida e o tanto de sangue trocado, vampiros podem ser vetores poderosos. Por mais que não contraiam doenças, podem manter o patógeno viável na boca por um certo tempo. Vai saber quais são os hábitos higiênicos de um vampiro da Idade Média.

Quem sabe não transmitam raiva com a mordida? Imaginem a campanha “Agosto, mês da vacinação. Traga seu vampiro.” ou “Seja um vampiro consciente, vacine-se e proteja sua comida.”.

Portanto, não perca tempo. Prepare já o seu artigo para o Journal of Dracula Studies.

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13 responses to “A ciência dos vampiros”

  1. Quando leio textos tão bons assim me pergunto de onde vem tanta criatividade, mas dessa vez, juro que me perguntei de onde vem tanta sabedoria unida a tanta criatividade e a um humor impressionante?
    Confesso, no entanto, que fiquei meio assustada com a parte das doenças: Caramba, já tenho que tomar cuidado com tanta coisa e agora tenho que andar preparada pra uma mordida infectada? Existe camisinha de dente canino especial para vampiros? Onde eu compro? Se tiver uma de menta melhor ainda.. vai que o hálito do coitado não é tão agradável! Quero deixar uns pares dentro da bolsa.. nunca se sabe quando vai rolar uma mordidinha na nuca…
    =D

  2. Posso citar mais uma?
    Terapias gênicas.
    No momento do “abraço” (não, não é na mordida que o indivíduo é vampirizado) o vampiro transmite suas características genéticas através do seu sangue para o neotanato. Importante frisar que a transferência do genoma não se dá por via sexual. Um indivíduo adulto recebe de outro novos genes, que são assimilados por seu genoma e são expressos.
    Estudos nessa área podem elucidar como se desligar genes específicos, como alguns causadores de doenças, e adicionar outros de forma eficiente, mesmo em um organismo adulto.

  3. Adorei o texto, acho, OU MELHOR, tenho certeza de que não saberia escrever nem a metade. hehehe… Um dia um amigo sem noção me disse que isso (VAMPIROS, era a mais pura lenda urbana e que isso deveria ser cultuado por mais jovens, achei isso uma idiotice, coisa de quem conhece o mundo pelo computador e TV A CABO, mais não podia perder a amizade.
    olha, queria sugerir mais um assunto.
    Que tal você escrever algo sobre o chupa cabra, Zé do Caixão e a MULHER DE BRANCO da novela TIÊTA?
    PARABENS…

  4. @Gábi,
    Fiquei corado com os elogios 🙂 Camisinha é complicado, pois rasgaria com os caninos. Como nòa precisam preservar a sensibilidade do mordedor, porderia fazer dentaduras descartáveis, como aquelas de plástico. Mas ainda não resolve o problema da saliva, que precisa estar presente para anestesiar.
    @Rafael e Clauchow,
    O motivo é bem simples, tô falando de vampiros, e não emos.
    @Anderson,
    Boa, vou incluir a discussão no post em breve!

  5. Oi, comentei algumas coisas por Twitter mas resolvi deixar aqui um comentário.
    O autor de Blindsight, Peter Watts tentou bolar umas justificativas científicas pros vampiros em seu livro. Você pode ver as notas (com referências!) aqui:
    http://www.rifters.com/real/Blindsight.htm#Notes
    O livro não é sobre vampiros, e sim sobre primeiro contato, etc, etc, e é o que os gringos chamam de “hard sci-fi”, que é a ficção científica baseada em ciência “de verdade”. O livro é complicado de se ler pra quem não domina o inglês e alguns termos técnicos, mas lida com vários temas interessantes, vale muito a leitura. Eu li uma cópia física, mas para quem curte, basta pegar o livro no site do autor, que agora ele disponibilizou em CC. É um dos livros mais bacanas de sci-fi que eu li nos últimos tempos.
    Dando uma geralzona no caso dos vampiros, se vc. me permite falar mto nos seus comentários, haha, no livro os vampiros foram recriados geneticamente, e seriam uma sub-espécie de Homo sapiens já extinta. Ele diz que eles teriam uma série de enzimas mais adequadas a uma dieta carnívora e grande resistência à doenças priônicas (alto risco em canibalismo, aparentemente). Os vampiros de Watts também têm retinas quadricromáticas e o cérebro possui menos matéria branca, isolando os módulos corticais e os deixando mais efetivos, levando ao que ele descreve como “omnisavantic pattern-matching and analytical skills.” Tem também uma inversão paracêntrica no cromossomo X (Xq21.3) e a partir daí ele vai (biologicamente) viajando nas características de seus vampiros, haha.

  6. Ia mencionar também estudos de “evolução horizontal” e transferência lateral de genes tal como em procariotos, mas não consegui desenvolver bem o argumento, mas fica a dica.

  7. Vida eterna…sedutores, geralemnte bonitos e ricos…
    Mas de que adianta???
    Só agora a verdade, com os vampiros emos, vem a tona…Todo vampiro é broxa.
    Venão vejamos…
    Vampiros são mortos vivos, certo??
    E como mortos, não possuem corrente sanguinea, não possuindo corrente sanguinea…não conseguem preencher os corpos cavernosos do penis, e assim não conseguem ereção…
    Logo…tudo broxa

  8. ola. vc é interessante. nos veremos em breve, talvez vc possa comprender melhor meus sentimentos e possa me ensinar a conviver,…sabe pouco mais é o suficiente..
    \a

  9. Em parte tenho que concordar com o Antero – Seu boga. Mas o que acontece é que vampiros não apresentam libido sexual como os seres humanos, chegam a considerar como supérfluo. Analisemos a seguinte situação: Vejamos, vampiros não respiram, logo também não bocejam, não tossem, não ficam ofegantes. Acredite, isto pode afetar muito num comportamento de um indivíduo. Imaginem como seria o sexo incansável deles, sem fortes emoções, sem suspiros, sem orgasmo, chega a ser frustrante. Além disso, eles deveriam gastar o pouco e precioso sangue que tem pra se excitarem e satisfazerem-se com uma luxúria humana, o que só seria realmente prazeroso se viesse acompanhado de uma boa dose de sangue da presa e desejo de posse. Ai sim, pra eles não há nada melhor!

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