Passando a bola: como vírus se ajudam a ir além


ResearchBlogging.orgFormação de placa é um dos ensaios mais antigos que se faz em virologia. Trata-se de cultivar uma camada única de células, sejam elas de origem animal ou bactérias, e despejar sobre elas partículas virais diluídas o suficiente para que apenas uma delas consiga infectar uma célula e de lá se propagar, formando uma placa ou halo de células mortas para trás. Como as que não estão mais coloridas de azul abaixo. É útil para uma série de experimentos como medir a eficiência de um vírus, quantificar partículas infeciosas (quantos vírus são capazes de atacar células em uma solução), isolar linhagens viras (já que apenas um clone cresce em um halo) e testar compostos antivirais.


Fonte: Wiki.

Mas algo que desafiava o senso comum é a velocidade com que estes halos se formam. No caso do vírus vaccínia por exemplo, um parente da varíola que foi usado na produção de vacinas, o halo cresce 4 vezes mais rápido do que o ciclo do vírus permite. Isso quer dizer o seguinte: o vírus vaccinia se replica em uma célula e infecta a seguinte em 4X horas, mas a velocidade com que conquista terreno na placa indica que ele se replica em X horas. E o motivo disso é surpreendente.

Uma série de vírus são capazes de interferir na capacidade da célula recém invadida de ser atacada por novos vírus. O HIV por exemplo, possui proteínas que retiram da superfície da célula os receptores que usa para entrar (a maçaneta que ele usa), impedindo que novos vírus usem esta maçaneta, e diminuindo as chances dele se prender à ela quando sair da célula. Mas o que o vírus vaccínia faz vai além.

Ao entrar na célula, ele estimula a produção de proteínas tubulares chamadas actinas. Quando novas partículas entram na célula, esta actina forma tubos com o tamanho específico do vírus que expulsam a partícula recém chegada para a célula seguinte, aumentando o espalhamento de seus “irmãos”. Assim, em uma placa, as células vizinhas à que acabou de morrer já estão infectadas e lançando partículas virais para as próximas.

[update] O que o vírus faz é, ao entrar em uma célula, induzir a formação de tubos de actina que vão expulsar os prókximos que entrarem para as células vizinha. A actina já está presente na célula, o que o vírus faz é induzir a formação deste tipo de tubos.

Mas estou escrevendo demais apenas para mostrar estes vídeos:

Aqui, a formação de um halo. Uma partícula invade a célula do centro do vídeo e vai se replicando e destruindo as células e suas vizinhas, o chamado efeito citpático. Neste vídeo acelerado podemos ver o efeito destruidor da coisa, me lembra muito aquelas cenas de uma bomba sendo detonada e destruindo uma cidade do alto.

E o melhor de todos, a propagação do vírus na borda do halo. Foi colocado um marcador no vírus, a proteína GFP, que dá um brilho verde às células expressando partículas virais. Repare que o dano se propaga antes do vírus ser expresso, pois as células já estão mandando partículas adiante assim que são infectadas, antes do cilco viral estar completo.

Via Virology blog. Ah, se seu inglês estiver em dia, aproveite para ouvir o TWIV também, é muito bom.

Doceul, V., Hollinshead, M., van der Linden, L., & Smith, G. (2010). Repulsion of Superinfecting Virions: A Mechanism for Rapid Virus Spread Science DOI: 10.1126/science.1183173

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5 responses to “Passando a bola: como vírus se ajudam a ir além”

  1. Li o texto como se fosse o agente Smith falando com o Morpheus, rs. Só para ficar mais claro: as actinas expulsam os vírus que entram em uma célula já infectada, correto? Isso significa que o processo de infecção é mais lento que a produção dessa proteína? Como, exatamente, o vírus realiza a expressão do RNAm?
    Valeu Atila!
    Inté!

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