Yes, nós temos complexidade irredutível


Sou obrigado a reconhecer que a biologia possui sim muita complexidade irredutível.

mecanismo ©Sergei Golyshev

ResearchBlogging.org

O criacionismo sempre foi uma crença baseada nas falhas da biologia. Por muito tempo, um dos principais argumentos que utilizavam para justificar um criador era a ausência de formas intermediárias. Como os seres humanos não foram criados por um ser maior, se não encontramos os passos que podem ter conduzido o caminho?

 Mas, conforme fomos estudando o meio natural mais e mais, fomos descobrindo fósseis de espécies extintas com características comuns a diferentes espécies atuais, como baleias com pernas. Claro, nunca encontraremos um intermediário de fato, já que as chances do fóssil preservado ser realmente o ascendente de algum organismo atual é remota, mas os organismos próximos achados são mais do que suficiente. – Recomendo o livro A história de quando éramos Peixes, de Neil Shubin, para quem quiser acompanhar o processo de descoberta e interpretação de um dos primeiros tetrápodes com patas, que nos ajudou a entender a transição do ambiente aquático para o terrestre.

O argumento caiu por terra de vez com a era da biologia molecular, quando começamos a recuper através do DNA e das proteínas por ele produzidas muito da história que os fósseis não registram, permitindo inclusive a contrução de “árvores da vida“, onde estudando genes compartilhados por organismos tão distantes quanto humanos e bactérias pudemos ver que temos todos uma origem comum.

Foi quando criacionistas começaram a mudar a linha de argumentação. Mascarados pelo Design Inteligente tentaram dar uma cara mais científica ao argumento de um Criador e passaram a utilizar o que chamam de complexidade irredutível. Segundo eles, funções complexas que dependem de muitos intermediários que não podem funcionar por conta própria são a prova de um Designer. Assim como um relógio que só funciona por inteiro, um flagelo bacteriano ou um olho não teriam intemediários funcionais que fossem selecionados, e só poderiam existir se alguém (ou algo) os desenhasse por completo.

Infelizmente, para eles, mesmo este argumento está sendo derrubado. Olhos imperfeitos ainda são olhos (como o próprio Darwin disse), e surgiram várias vezes. Bactérias cultivadas durantes anos são capazes de desenvolver sob nossos olhos vias aparentemente irredutíveis, flagelos podem ter se originado de proteínas secretoras e até programas de computador simulando a seleção natural conseguem isso [pdf]. O processo de argumentar usando ignorância vai mal, a ponto de Behe precisar se desmentir.

Eis que, num ato de compaixão desmedida, eu resolvi dar uma ajuda à esse pessoal que carece de motivos para manter as crenças em pé. Deve ser muito desconsolador ficar sem um alicerce, a ponto de precisarem falar as porcarias que falam, e em alguns casos mentir na cara dura. Então vou mostrar a eles que temos de fato muita complexidade que não pode ser desfeita.

 

redes

 

Peguem como exemplo um estudo recente publicado na PNAS. Pesquisadores compararam a rede regulatória de dois sistemas. Um sistema biológico, a bactéria Escherichia coli, já que ela possui muitos de seus genes conhecidos (trata-se de um dos organismos mais estudados) e um sistema operacional, o Linux, pois seu código é de acesso livre e seu desenvolvimento é muito bem documentado.

Os genes (fatores de transcrissão) de E. coli e os comandos do Linux foram classificados em três categorias: as reguladoras, funções que apenas invocam outras, e não são chamadas (controladas) por ninguém (em amarelo acima); as controladoras, chamam e são evocadas por outras funções (em verde); e as efetoras, funções que apenas realizam tarefas, sendo chamadas sem controlar mais ninguém (em roxo).

As diferenças entre os sistemas foram impressionantes. A primeira delas, que já fica clara com a figura, é a distribuição das funções. Em E. coli, menos de 5% das funções são controladoras ou reguladoras, a maioria é efetora. Estes genes, geralmente enzimas, obedecem a poucos reguladores. Já no Linux, 80% das funções são reguladoras ou controladoras, e muitas delas chamas os mesmos efetores.

Por consequência, há uma diferença nos módulos funcionais também. Módulos são conjuntos de controladores e efetores sob ação de um mesmo regulador (imagine uma pirâmide com um ponto amarelo controlando vários roxos e verdes acima). O sistema da E. coli é altamente modular, e pouquíssimos módulos possuem funções compartilhadas (chamadas de genéricas) com outros. Já no sistema criado por Linus Torvalds, muitos comandos utilizados por um regulador são chamados por outro, de maneira que vários módulos se sobrepõe. A função printk por exemplo, que faz a impressão na tela do computador, é chamada por mais de 90% dos módulos, enquanto a função mais genérica de E. coli atende a 20% dos módulos.

Outra característica interessante é a persistência e conservação das funções. Uma função persistente é mantida em várias bactérias (no caso foram 200 genomas comparados com o dela) ou conservada nas diferentes versões do OS. Em E. coli, 71 dos 72 comandos mais persistentes são efetores específicos, enzimas que possuem funções muito importantes e são bastante conservadas, apresentando poucas mudan
ças entre organismos. Já no Linux, comandos de todos os tipos são persistentes, mas principalmente reguladores e controladores. Destes, observaram-se perimitia dois grupos, alguns módulos são muito conservados, mas vários passaram por revisões frequentes (alguns em todas versões).

Os motivos para estas diferenças estão na maneira como estes sistemas são desenhados e na finalidade. A bactéria é mutada ao acaso, e precisa ser funcional e selecionada ao fim de cada mudança, enquanto o sistema operacional é feito por programadores, e seu desenho é feito visando economia de tempo e programação. Para os programadores, é mais prático tirar proveito de funções já desenvolvidas e frequentemente invocadas, as genéricas. Assim, alguns reguladores importantes são mantidos, e os comandos genéricos precisam ser constantemente atualizados para atuar em todos os módulos atrelados. É um crescimento de cima para baixo. Mas se uma destas funções genéricas falha, o sistema falha, o que o torna menos robusto.

Já a Escherichia está restrita pela complexidade irredutível. Módulos que realizam funções importantes estão sob pressão constante e não podem ser modificados facilmente, daí o seu isolamento e conservação. Para que haja um novo módulo, um efetor precisa ser criado (por mutação, duplicação ou outros processos geradores de diversidade) e depois ele passa a ser regulado por outros comandos, um crescimento de baixo para cima. Assim, mesmo que um módulo falhe, os outros se mantém de pé, fazendo um sistema robusto que permite que a bactéria trabalhe bem obrigado, apesar da mutações e mudanças a que está sujeita.

Na presença de um designer, módulos podem ser modificados mesmo que estejam atrelados a outros, que são arrumados para que tudo funcione. Daí a assinatura do sistema operacional. Já uma bactéria que está sendo modificada ao acaso e selecionada, precisa funcionar em cada etapa e por isso possui um sistema irredutivelmente complexo, que não pode ser modificado da mesma forma. É justamente esta complexidade que prende o organismo à condição atual e só permite mudanças externas, autônomas, que acrescentam novos módulos ao invés de bagunçar tudo que está presente.

Conforme nossa compreensão dos organismos aumenta, e temos como mapear redes de interação, podemos ver este tipo de assinatura que apenas a evolução pode deixar. Assumir que um criador está limitado às mesmas condições que ela para atuar não acrescenta nada.

Resta saber o que o estudo de formas de vida mais complexas como mamíferos pode nos trazer, com mais comandos atrelados em uma rede. Mas já posso adiantar que um criador inútil é tudo o que não precisamos.


Yan, K., Fang, G., Bhardwaj, N., Alexander, R., & Gerstein, M. (2010). Comparing genomes to computer operating systems in terms of the topology and evolution of their regulatory control networks Proceedings of the National Academy of Sciences DOI: 10.1073/pnas.0914771107

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18 responses to “Yes, nós temos complexidade irredutível”

  1. Cada bactéria pode “re-escrever” cada porção de seu código informacional de suas ações. Isso não existe dentro de um sistema operacional, a não ser que cada aplicação tenha esse direito e capacidade automativa (AI). No futuro, isso seria possível, dentro de um escopo de segurança definido pelo usuário. [X] Busque por soluções por mim [ ] Soluções arriscadas?
    Assim, o OS automata vai re-compilando seu código.

  2. E se a mente humana não fosse capaz de entender o “design”, por ele não ser nada parecido com a efemeridade da vida? Ou se o próprio “criador” fosse todos esses processos acima descritos?
    Ao contrário do que foi postado, não é uma teoria baseada em ignorância, mas sim em um CAMPO DO CONHECIMENTO, da mesma forma que a Ciência. Creio que falta um pouco mais de leitura e conhecimento do mundo “acientífico” para se publicar algo com qualidade e saber realmente o que se está comentando, não generalizando o resto do conhecimento como pura ignorância (sendo esta consideração, sim, ignorância de outro assunto e fundamentalismo científico, ao estilo cavalo com viseira em fundamentalistas religiosos).

  3. @Dilson, vou responder seu comentário por partes:E se a mente humana não fosse capaz de entender o “design”, por ele não ser nada parecido com a efemeridade da vida? Ou se o próprio “criador” fosse todos esses processos acima descritos?Se a mente humana não é capaz de entender o design (DI) ou se ele for todos os processos acima, o design inteligente é uma idéia INÚTIL, pois não acrescenta em nada o que já sabemos. Se a evolução explica tudo sem assumir forças que não entendemos, pra que complicar?Ao contrário do que foi postado, não é uma teoria baseada em ignorância, mas sim em um CAMPO DO CONHECIMENTO, da mesma forma que a Ciência. Creio que falta um pouco mais de leitura e conhecimento do mundo “acientífico” para se publicar algo com qualidade e saber realmente o que se está comentando, não generalizando o resto do conhecimento como pura ignorância (sendo esta consideração, sim, ignorância de outro assunto e fundamentalismo científico, ao estilo cavalo com viseira em fundamentalistas religiosos).O nome dos travestis que o Ronaldo traçou também é um campo do conhecimento. E qual a utilidade disso?Não existem dados que demonstram DI, não existem experimentos que demonstram DI, não existem proposições que podem ser inferidas a partir dele. Tudo que o DI propõe é uma explicação para o que acham que a evolução não explica, ou seja, baseia-se em ignorância. DI é uma crença, e eu estou discutindo ciência, daí a consideração que tenho por ela.

  4. Qualquer mnodelo que se ponha permanentemente à prova é melhor do que um que tenta manter suas hipóteses a priori.
    Mas quem disse q as pessoas foram feitas para o pensamento lógico? Talves esta seja a grande piada do criador.

  5. @dilson: se a mente humana não for capaz de entender o “design”, então blasfemos são os que defendem o DI como científico. Pelo que entendi, o Atila critica essa visão comezinha da atuação do criador.
    A Ciência não se ocupa em dizer o que o criador é ou deixa de ser; quem afirma isso são os criacionistas, e cientistas e religiosos estão empenhados em dizer que isso é uma bobagem. Ou vai me dizer que algum estupendo conhecimento teológico nos permite entender o desígnio divino? (pois então, isso é o que afirmam os IDots).
    Sua reclamação equivale a dizer que devemos ter profundo conhecimento da língua chinesa para podermos nos comunicar em português. Ou que só pode entender a origem da diversidade biológica quem dança o frevo, sapateia e sabe assar uma empanada.

  6. Então isso prova que o cristianismo está certo e que devemos obedecer a Bíblia e queimar todos outros livros e também os pagãos?
    PS: #nemli

  7. Meus caros, vejo q não entenderam o que propus… não estpou defendendo o design inteligente, mas sim falando que não se pode ter um fundamentalismo científico;. Como a religião, a ciência foi inventada por gente e como a religião a ciência têm absurdas propostas. Sim, existem “provas”, mas tudo na ciência não está só na teoria? Não nos baseamos em teorias (como os criacionistas) e como os mesmos “achamos” provas para elas?
    Como a religião, a ciência é um valor cultural, não algo feito por si em que todos devem crer (daí seríamos igual aos cristãos que foram “civilizar” os demais povos).
    E o pragmatismo tem lugar no discurso d vcs. Vc vai na festa pq tem utilidade? Vc fica discutindo diferença entre bacteria e programa d PC pq tem utilidade? (para mim ambas as coisas são inúteis, pq mesmo sem experiências é óbvia a diferença e limitação de um programa de computador)… e Carlos, não fiz referência alguma ao cristianismo. Se achas que religião = cristianismo, precisa saber que existem das mais inúmeras religiões.
    Qntas lendas de povos antigos e considerados primitivos apenas confirmam o q a ciência pesquisa? Daí para eles, pra q serve a ciência?
    Meu objetivo aqui seria colocar um pensamento crítico, ou melhor, incitá-lo… mas vejo q muitos são fundamentalistas como os criacionistas e que, como os mesmos, têm espírito de rebanho, ou seja, não pensam por si.

  8. @Dilson
    Sinto, mas você está errado em vários pontos (citados à seguir) e não pratica o tal pensamento crítico que você mesmo procura suscitar.

    não estpou defendendo o design inteligente, mas sim falando que não se pode ter um fundamentalismo científico;.

    E o que seria fundamentalismo científico? A convixão de que testabilidade, falseabilidade, repetitibilidade e revisão por pares formam a base de qualquer conhecimento confiável? Ou a creną irracional de que se deve validar e submeter a testes tudo que se diz científico? Fundamentalismo científico é uma expressão que só se vê usada por que não segue o método científico e mesmo assim quer ser aceito como ciência.

    Como a religião, a ciência foi inventada por gente e como a religião a ciência têm absurdas propostas. Sim, existem “provas”, mas tudo na ciência não está só na teoria? Não nos baseamos em teorias (como os criacionistas) e como os mesmos “achamos” provas para elas?

    Não. Não é assim não. Long story short: baseado em observações de algum fenômeno eu tenho um “palpite” de que algo é verdadeiro; formulo uma conjectura ou hipótese; defino testes que podem demonstrar que a conjectura é verdadeira nos casos testados (testabilidade); realizo os testes e eles “passam”; defino testes que podem mostrar que ela é falsa (hipótese de falseabilidade); realizo os teste e eles passam; demonstro, através de testes, que a conjectura permite fazer projeções sobre o comportamento futuro do fenômeno estudado; submeto meus resultados para publicação com peer review; após revisão de outros cientistas da área os resultados são publicados; agora eu tenho uma tese; após outros cientistas repetirem os meus experimentos (repetitibilidade), confirmarem os meus resultados e aceitarem as minhas conclusões, eu tenho uma teoria.
    O problema com DI’s e outras propostas criacionistas é que eles não passam da etapa de conjectura. Eles não partem da observação do fenômeno e procuram explicações para o mesmo. Eles já tem a explicação (foi Deus) e tentam invalidar tudo o que vá contra a tal explicação. Se você não vê a BRUTAL diferença entre uma coisa e outra, você realmente tem problemas em entender o que é ciência.

    Como a religião, a ciência é um valor cultural, não algo feito por si em que todos devem crer (daí seríamos igual aos cristãos que foram “civilizar” os demais povos).

    Novamente um enorme problema em entender o que é ciência. Ciência não tem nada a ver com valor cultural. Um átomo se comporta da mesma forma aqui, no Japão ou no Marrocos e os mesmo testes vão mostrar os mesmos resultados não importa onde ou em que cultura você os realize. A prova matemática de um teorema será correta ou não independentemente de em que língua, cultura ou tempo você a escreva.

    Qntas lendas de povos antigos e considerados primitivos apenas confirmam o q a ciência pesquisa? Daí para eles, pra q serve a ciência?

    Boa pergunta. Quantas lendas de povos antigos e considerados primitivos apenas confirmam o q a ciência pesquisa? Não, sério, quantas? E se eles perguntarem pra que serve a ciência, mostre uma televisão pra eles.

  9. @Jefferson,
    meu muito obrigado pela sua grandiosa resposta ao nosso caro colega Dilson.
    Conseguiu exteriorizar exatamente o que ele precisa ler, nao no sentido ofensivo, pois de fato nao foi. mas foi claro como era necessário.
    Parabéns pela resposta tao energica e tao clara!

  10. Primeiramente agradeço pelas críticas, elas sempre são construtivas.
    Segundo, sobre as lendas, basta ver as lendas maias e astecas do movimento do cosmos (e sua previsão do movimento do mesmo, baseado para eles na religião,é confirmado pela ciência). Também sobre textos de origens sumérias dizendo que no mundo era só água, quando a terra se elevou do meio dela (quem conhece a formação dos continentes pode ver mera semelhança). E quando algumas etnias indianas (fico devendo o nome delas, pois vi isso quando era ainda “filhote”) dizem que um gigante veio do mar e batalhou com outro gigante e formou o Himalaia (ver a movimentação do subcontinente indiano até o asiático) etc.
    Por qual motivo não estaria sendo crítico se eu não concordo com os extremos: nem o tolo criacionismo e nem o tolo cientificismo.
    Onde está o estudo de “cientistas” afirmando a não-culturalidade da ciência (ela surgiu do nada? não houve base cultural para ela ter sido criada?). Onde está o saber do “cientista” quando ‘afirma’ que é só mostrar uma televisão para alguém antigo para convencer ele que a ciência é certa. A ciência, então, é uma farsa como o que rola na televisão (aí concordo, cada um pesquisa o que quer com os métodos que quer para tentar provar o que quer, como o jornalista que seleciona as notícias de acordo com o que acha interessante; por issos casos Isabella passando meses na Tv, como se o resto do mundo não existisse). Que gente das Ciências Humanas não vejam tal ignorância e preconceito étnico, e o absurdo anacronismo inválido (como se todas as culturas tivessem os mesmos valores).
    O que é ser fundamentalista se não a não aceitação de opiniões divergentes da sua? Religiosos abominam a ciência por ela questionar deus (não todos os religiosos). Aí se tem um tipo de fundamentalismo. Cientistas abominam a religião por questionar a ciência (não todos os cientistas). Aí se tem outro fundamentalismo.
    Criacionistas, como cientistas, não são ignorantes, pois cada um tem sua forma de explicar o mundo, portanto, não são irracionais. Assim como os criacionistas (alguns) são ignorantes em relação à ciência, os cientistas (também alguns) são ignorantes em relação à religião.
    Só queria colocar alguma criticidade e evitar generalizações que vi no artigo. A escolha é de vocês, façam a diferença criticando (por favor, não levem ao ponto de acreditarem que estou me achando mais que alguém dizendo isso; isso vai contra meus ‘princípios), ou façam como um rebanho (analogia aos pastores e seus “súditos?”) aceitem um pensamento, sem crítica, e digam amém.
    Para os criacionistas deus é evidente e infalível. Para os cientistas a ciência é evidente e infalível (sim, há a questão de refutar ou não certa hipótese, mas estou falando da ciência no geral). Ambos não teriam um deus, que tem nome diferente e tem ações diferentes? Quando falam (sapientiae populi)de que a ciência está se tornando uma religião, com argumentos como os que vi, tenho maior convicção sobre isso.
    Abraços a todos e novamente obrigado pelas críticas.

  11. @Dilson
    Lendo seu texto eu começo a ter dúvidas se você realmente não entendeu ou se está sendo deliberadamente desonesto, por que algumas partes parecem ter sido distorcidas deliberadamente. Mas vamos assumir que tenha sido falta de entendimento mesmo e continuar.
    «sobre as lendas, basta ver as lendas maias e astecas do movimento do cosmos» — se você conhece as lendas Maias deveria saber também que eles acertaram tanto porque tinham os melhores observatórios da antiguidade e suas “lendas” sobre o movimento dos astros vieram de observações que se enquadram completamente naquilo que chamamos de ciência. Não vieram de inspiração divina e não se enquadram na classificação de “lenda” tanto quanto o teorema de Pitágoras não se enquadraria. E sendo sincero, até você deve ver que comparar dois gigantes lutando ao movimento de placas tectônicas passa bem longe do tal pensamento crítico.
    «Onde está o estudo de “cientistas” afirmando a não-culturalidade da ciência» — Onde estão os estudos nossos afirmando a negação da sua conjectura. É isso que você considera pensamento crítico? «Eu disse, agora quem quiser que prove que eu estou errado. Gotcha!» Não é assim que funciona. Você afirmou que ciência é um valor cultural. Cabe a você demonstrar tal coisa. Me adiantando a uma possível demonstração sua, já expus algumas objeções, baseadas na definição de ciência. A ciência estuda os fenômenos físicos, suas causas e efeitos. Se você acredita que estes fenômenos são influenciados pela cultura, o ônus da prova é seu.
    «Onde está o saber do “cientista” quando ‘afirma’ que é só mostrar uma televisão para alguém antigo para convencer ele que a ciência é certa.» — Sua pergunta original foi «Daí para eles, pra q serve a ciência?». A forma mais simples de mostrar a alguém para que serve alguma coisa é mostrar essa coisa sendo usada. A televisão é um excelente exemplo de uso de ciência aplica. Envolve teoria eletromagnética, ciência dos materiais, eletrônica e é tremendamente fácil de encontrar e transportar para ser mostrada ao nativo/antigo/criacionista/etc. Se você se “esqueceu” de qual tinha sido a sua pergunta e acabou distorcendo a resposta, espero isso que tenha refrescado a sua memória.
    «A ciência, então, é uma farsa como o que rola na televisão» — Exatamente qual foi a seqüência de raciocínio que levou você a sair de um exemplo de uso de ciência e chegar a “a ciência é uma farsa”? Vejamos, se eu tivesse dado um satélite como exemplo de uso da ciência sua conclusão é que ciência só pode ser feita no vácuo e em gravidade zero? WTF?
    «O que é ser fundamentalista se não a não aceitação de opiniões divergentes da sua?» — É não aceitar opiniões diferentes das suas mesmo quando se apresentam argumentos em contrário que a razão e o raciocínio coerente não podem refutar.
    «Para os criacionistas deus é evidente e infalível. Para os cientistas a ciência é evidente e infalível» — Não conheço nenhum cientista que considere a ciência infalível. É exatamente por isso que se coloca como obrigatório que uma nova tese passe pelos critérios de falseabilidade e revisão por pares. Quanto à parte do “evidente”, bom, o “evidente” da ciência pode ser testado e demonstrado. O “evidente” da religião não.
    Claro que você é livre para acreditar no que quiser. Se o seu “evidente” não pode ser demonstrado, por mim tudo bem. Continue pagando o dízimo e seja feliz. Mas não venha querer dizer o que é ou não ciência e o que deve ou não ser chamado ciência baseado no seu livro mágico (seja ele qual for). O que faz com que cientistas e demais pessoas de bom senso venham à frente para se manifestarem contra religião é o fato da religião se meter em ciência. Os católicos pararam de fazer isso (ou quase) e ninguém mais reclama dos católicos. Eles ficam lá e nós ficamos aqui. Os budistas também. Eles nunca se metem em ciência e nós nunca reclamamos deles.
    Ciência se ensina na aula de ciências e nas universidades. Religião se ensina na escola dominical. Nós aceitamos isso, por que é que vocês não?

  12. Enquanto a comparação do código do linux com E. colli é interessante, me pergunto se é proveitoso/seguro no Brasil ficar dando essas alfinetadas no fundamentalismo. Não temos muito disso por aqui, bem longe do nível que é nos EUA, e acho que esse tipo de coisa tende mais a dar um ar de legitimidade e talvez até a despertar o “ativismo” em alguns.
    Ainda um pouco ligado a isso, foi infeliz o comentário jamais encontraremos um fóssil intermediário “de fato”, sem uma explicação clara do que quer dizer por “de fato”. Não só há uma “provocação” desnecessária ao criacionismo, incitando-os a se manifestarem, mas ao mesmo tempo fornece um excelente material de para promoverem ignorância com citações descontextualizadas.
    Há algum tempo foi publicado um artigo sobre como, ao se refutar algum mito, há uma tendência ao tiro sair pela culatra, a ajudarmos acidentalmente a promovê-lo. O princípio da coisa é que as pessoas tendem mais a lembrar das repetições do que propõe o mito — que as pessoas freqüentemente fazem ao lidar com eles — do que das explicações de porque ele é falso, ou do que realmente é o caso. Não lembro bem, mas parte disso deve ser facilitado pelas pseudo-teorias alternativas serem mais simples, pedradas na vidraça, enquanto a ciência de verdade requer explicações mais complexas, mais do que meros quase slogans (explicaria porque o inverso não ocorre, por que quando os “alternativos” atacam a ciência, não ajudam acidentalmente a promovê-la, ainda que talvez isso também ocorra um pouco). Me impressiona como os cientistas deixam de levar esse tipo de coisa em consideração, e cada vez mais caem na armadilha de dar muita atenção ao fundamentalismo religioso e ao esoterismo, quando poderiam muito bem abordar os mesmos temas, o assunto real, sem dar perigosa atenção desnecessária a mitos irrelevantes.

  13. @Danniel,
    ENtendo sua preocupação e concordo que muitas vezes podemos evidenciar mais algo tentando combatê-lo. Mas o criacionismo é um movimento crescente no Brasil, vide a recente mudança do material escolar do Mackenzie, que agora só vai mostrar evolução para os alunos ao fim do ensino médio, mostrando criacionismo bem antes.

  14. Parece que nossa realidade se apresenta a cada segundo, como uma média ponderada do todo, isto para cada índivíduo que possui uma autoconsciência e juízo crítico.
    Nossos processos cerebrais se assemelham aos processamentos da E. colli e ao Linux, ou pelo menos os neurônios se comportam assim: sim, não, ou (a lógica de três estados).
    Nós mortais há muito tentamos criar um Deus para satisfação de nossa certeza maior (a morte). Contam que “Einstein em seu final de vida visitava diariamente seu jardim esperando encontrar-se e dialogar com o Jardineiro, o criador de toda aquela beleza que se reluzia em multicores(Deus). Confidenciou, com sua enfermeira, seus pensamentos e sua conclusão que o jardineiro era o próprio jardim e por quanto tempo se questionou e só então tão pouco antes de sua morte percebera”.
    O tempo tem início? O tempo tem fim? Só para o observador. Dentro da infinitude do tempo, toda esta salada cósmica se reformula. Quem sabe!

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