O Universo que gostava de fractais


Este Universo, como qualquer outro, tinha uma quantidade de energia constante. E, como vários outros, tinha uma tendência a dissipar esta energia de maneira a mantê-la igualmente distribuída. Mas neste Universo, a energia tinha uma maneira mais eficiente de se distribuir, ela se organizava para depois se desorganizar.

Ao invés de simplesmente se dispersar, a energia deu origem a formas complexas, as partículas. Estas se combinaram, interagiram de forma organizada e formaram os átomos de hidrogênio. Os átomos simples reagiram entre si no núcleo de estrelas e em um processo cíclico de complexidade crescente, a fusão, formaram átomos maiores como o carbono.

Ainda neste processo de auto-organização, onde padrões se repetem em um fractal dentro de um fractal, átomos se ligaram em moléculas. E moléculas formaram proteínas e ácidos nucléicos, que agora podiam converter a energia de fontes externas em mais entropia, se replicando, se combinando e se complexando.

Neste planeta, um filtro de complexidade que distribui a energia de sua estrela mais próxima em seus próprios fractais, um novo processo surgiu. Com a replicação e o erro, as novas moléculas sofreram evolução e foram selecionadas, um passo que acelerou ainda mais a auto-organização.

Mais estável e capaz de suportar mais informação, a molécula de DNA foi selecionada como o principal material genético, e o fractal cresceu em tamanho. Células com novas funções, células unidas e o sexo aumentaram ainda mais a variedade e a eficiência dos dissipadores de energia.

O fractal de células formou tecidos e os tecidos construíram organismos mais complexos. Dentro deles, vasos sanguíneos, vasos lenhosos, fibras, neurônios e diversos outros sistemas repetiram a estrutura fractal, como o brócoli romanesco da foto. Estes neurônios, conectados entre si, dispersando energia na forma de pulsos, geraram mais um sistema. Agora os animais e plantas podiam interagir entre si e aumentar a escala do fractal.

Como palmas que se sincronizam em uma platéia ou grãos de areia se amontoando, aves em grupo são capazes de adotar comportamentos completamente diferentes dos de um único indivíduo.

Dentre os vários vórtices de energia organizada, alguns animais foram capazes de avaliar a si mesmos. Pensamentos que se auto-organizaram foram capazes de avaliar suas condições. Alguns se perguntaram quem teria criado tudo aquilo à sua volta. Outros, que olharam apenas para uma escala pequena deste grande fractal, acusaram a vida de contrariar a entropia, ignorando o grande papel de dissipadora que ela tem.

Enquanto isso, um vórtice curioso se encantou com a capacidade de sistemas auto-organizadores de gerar diversidade espontaneamente. E para compartilhar esta cadeia de informação, ele resolveu dissipar energia agrupando palavras neste texto, contribuindo para aumentar a complexidade do sistema fractal que é a internet.

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9 responses to “O Universo que gostava de fractais”

  1. Muito bom o artigo!
    Gostaria de fazer uma sugestão: escreva sobre o quimerismo. É um assunto legal e que poucas pessoas, inclusive eu, conhecem.
    Abraços.

  2. Uau, hipnotizante. Takata (:D), porque as aves fazem isso? Elas tem noção de que o que fazem é belíssimo?
    A auto-organização das redes neurais é fascinante. É quase inacreditável que a estrutura tão simples de um neurônio* possa realizar tantas tarefas como reconhecimento de padrões, memorização, extrapolação a partir de conhecimento… a partir quase exclusivamente dos dados de entrada, e não de um programa no DNA.
    *Em computação, o modelo mais simples é simplesmente “Se a soma das tensões nas sinapses de entrada forem maiores que um limite, então assuma uma tensão (‘dispare’) que será passada para as sinapses de saída”.**
    **Rodapé em comentário é demais, eu sei. Mas todo nerd tem a necessidade de explicar o assunto e fazer digressões.

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