
Nota: eu li a versão em inglês do livro, Your Inner FIsh, já que saiu mais barato importar o livro do que comprar por aqui (afinal, o dólar vale bem menos do que o real… peraí!). Para uma crítica do livro em português, além dos detalhes, leiam a resenha do Observações Impertinentes.
Escrito pelo paleontólogo Neil Shubin, orgulhoso responsável pelo grupo que encontrou o Tiktaalik roseae, um fóssil transicional. Um peixe com características que são encontradas apenas nos vertebrados terrestres, e ajuda a ilustrar como se deu a transição dos vertebrados do ambiente aquático para o terrestre.
O livro trata justamente deste tema, como surgiram os vertebrados terrestres, e o papel que as estruturas encontradas em peixes desempenham atualmente. Neil Shubin é extremamente didático, e explica com muita competência o passo-a-passo de sua descoberta. É uma delícia acompanhar a argumentação de como fomos mudando e adaptando estruturas, a famosa gambiarra evolutiva, e como isso ajuda a explicar uma série de características atuais, da perfeição do nosso ouvido interno ao bizarro caminho que alguns nervos e vasos fazem em nosso pescoço, passando pelo serviço mal feito que causa nosso reflexo do soluço.
A primeira parte do livro é um exemplo de como tratar evolução. O paleontólogo descreve como a busca por fósseis não é um processo aleatório, e que, apesar de contar com a sorte, depende de muito conhecimento prévio e planejamento. Ele explica quais são os tipos de solo mais propícios à fossilização, e qual a estimativa da origem dos vertebrados terrestres, o que determina a idade das rochas em que esperamos este tipo de fóssil. Mostrando como a teoria da Evolução é capaz de fazer predições testáveis, ele mostra como o fóssil foi encontrado justamente onde se esperava. Depois de muita busca, claro.
Deixo aqui um trecho que mostra como a descoberta de um fóssil de transição, quando ele levou uma réplica do fóssil á pré-escola do filho para demonstrar com o que trabalhava (tradução livre minha)c– filhos de paleontologistas devem ser os mais orgulhosos no mostre-e-conte, talvez depois dos filhos de engolidores de espadas:
“As vinte crianças de 4 e 5 anos estavam se comportando surpreendentemente bem enquanto eu descrevia como tinhamos trabalhado no Ártico para encontrar o fóssil, e mostrei a eles os dentes afiados do animal. Então perguntei o que achavam que ele era. A primeira criança disse que era um crocodilo ou um jacaré. Quando perguntei por que, disse que ele tinha uma cabeça chata com olhos em cima como crocodilos ou lagartos. E dentes grandes também. Outras crianças discordaram. Quando escolhi a mão erguida de uma dessas crianças, ouvi: Não, não é um crocodilo, é um peixe, pois ele tem escamas e nadadeiras.Então outra criança gritou, “Talvez ele seja ambos.” A mensagem do Tiktaalik é tão clara que até crianças da pré-escola podem ver.“
Uma ótima demonstração da idade mental de quem contesta a evolução.
hehehehe, a Ultima frase foi ótima!
Atila, a expressão “fóssil transicional” não é redundante, tendo em vista que cada achado é uma espécie entre dois graus de evolução?
Esse termo me incomoda às vezes, como “alopatia”, porque eu acho que foi inventado por criacionistas para usarem para detratar a ciência.
@Igor,
Conconrdo contigo que todo fóssil é uma transição, mas uso o termo aqui (e sem me informar melhor sobre ele) pra tratar de um marco importante. Ia argumentar que a maioria dos fósseis marca linhagens que não tiveram continuidade, mas pode muito bem ser o caso dessa.
Uou! Grato, muito grato pela menção ao ObsImp.
Falando em transição, um ótimo artigo que conta a transição de mamíferos terrestres para cetáceos:
http://www.springerlink.com/content/whn1654v74t64301/
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[]s,
Roberto Takata
Muito bom, obrigada pela indicação!
Otima a sua resenha. Estou fazendo um trabalho de zoologia sobre esse livro e estou adorando. Pensei que a leitura seria maçante, mas muito pelo contrario, é muito estimulante!