Uma planta que cheira sua presa


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Ok, acho que exagerei na ilustração.
ResearchBlogging.orgPara falar de plantas, que semrpe deixo de lado por aqui, mas sem deixar de falar de parasitas, conheçam a Cuscuta. Também chamada de fios de ovos ou barba de bode (pelo menos pela minha avó), esta planta não parace uma planta. Não possui folhas ou raízes, apenas um caule sem cor e flores. E o motivo é bem simples.
A cuscuta depende quase ou inteiramente de uma planta hospedeira. Ao brotar do solo, ela encontra uma vítima na qual vai se enrolar e perder a raiz original, para produzir um novo tipo de estrutura, o haustório. Com este novo tipo de raiz, a cuscuta se liga ao floema da hospedeira, de onde vai sugar a seiva com açucar produzido pela fotossíntese. Na foto abaixo, você pode ver uma vinha que acabou de atacar um tomateiro e está se enrolando nele, e já se percebe a raiz original (na parte de baixo da planta) secando.
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©Colin Purrington
Enquanto muitos vegetais utilizam substâncias voláteis para sinalizar para outras plantas ou mesmo para insetos, esta parasita “cheira” suas hospedeiras para encontrar uma vítima. Literalmente. Diversas substâncias podem despertar respostas em plantas, mas geralmente o estímulo independe de direção, como a produção de moléculas contra insetos quando há uma folha sendo devorada nas imediações.
Já a cuscuta consegue seguir o cheiro e determinar a direção. Algumas espécies do gênero produzem um pequeno caule ao brotar da semente, e em seguida passam a crescer e girar até tocar em uma vítima próxima. Mas na espécie Cuscuta pentagona o crecimento ocorre na direção da planta mais próxima. Ela é capaz inclusive de escolher. Entre o cheiro de trigo e tomate, prefere seguir na direção do tomate, embora possa atacar o trigo se não tiver opção.
Parasitas costumam ser retratados com organismos simples, degenerados. No caso da cuscuta, plantas que perderam as folhas e deixaram de fazer fotossíntese. Acontece que este estilo de vida traz uma série de novos desafios, como a interação com o hospedeiro e seu sistema imune, obtenção de nutrientes, e outros.
Parasitas são tão ou mais complexos do que organismos de vida livre, e são uma grande fonte de inovações biológicas, criando novas funções e adaptando antigas, uma vitrine da evolução. Ao ponto de plantas, sempre vistas como organismos pacatos chegarem a caçar uma vítima. 
E se você não acha isto muito animador, imagine o que é estar no lugar do tomateiro, enquanto um tentáculo gira lentamente em sua frente, lhe cheira e passa a vir em sua direção. E você não pode fazer nada além de esperar enquanto ele lentamente se enrola sobre seu corpo, apertando cada vez mais e cravando raízes que vão até suas veias, e vão sugar o seu sangue para que ele possa florescer e se reproduzir. Um final bonito, ao menos.
Fonte:
Runyon, J. (2006). Volatile Chemical Cues Guide Host Location and Host Selection by Parasitic Plants Science, 313 (5795), 1964-1967 DOI: 10.1126/science.1131371
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7 responses to “Uma planta que cheira sua presa”

  1. Um nome popular bem comum para a planta é cipó-chumbo.
    Barba-de-bode é mais comumente aplicado para um tipo de capim. Mas pode haver variações regionais (parece que tem gente que chama a barba-de-velho, musgo epífito, tb de barba-de-bode).
    []s,
    Roberto Takata

  2. vish se eu fosse o tomateiro e visse tentaculos vindo em minha direçao o_O eu ia me sentir em um hentai oriental =)
    Barba de bode conheço por um capim tbm
    mas muito interrase o post (Y)

  3. Átila, não está na hora de compilar os melhores posts sobre parasitas (isso se vc já nao pensou em fazer) e montar um livro a respeito???
    eu seria o primerio a comprar, e aposto que muitos outros também, por que alem da base cientifica, a forma que tu escreve é ideal para divulgação cientifica!!! (tudo o que eu disse é obvio…)
    mas quem sabe! a editora que publica os livros da Dra. Suzana herculano poderia se interessar, se janao o fez!
    adorei o texto!
    grande abraço!

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