A atuação da OMS durante a gripe suína de 2009


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©hmerinomx

Em março de 2011, como parte de seu sistema de avaliação, a OMS divulgou o rascunho dos comentários de um comitê de avaliadores externos [pdf] sobre a maneira com que a pandemia de Influenza A (H1N1) 2009 foi conduzida. O rascunho foi apresentado e comentado em um congresso em maio de 2011. Ele contém críticas, elogios e sugestões sobre a atuação da OMS, e também sobre o mundo como um todo, com uma conclusão bastante cruel (tradução livre): 
“O mundo está mal preparado para responder a uma pandemia de influenza severa, ou qualquer emergência de saúde pública global similar, ameaçadora. […] a realidade inevitável é que dezenas de milhões de pessoas estariam sob risco de morte em uma pandemia global severa.”
As críticas mais duras foram em relação à maneira como a OMS tratou a comunicação e a divulgação em torno da pandemia de 2009. Mais duras não só pelo que ocorreu, mas pelo fato de que muito do que não foi feito era possível. A OMS não tem poder de alterar a maneira com que os países tratam a legislação em torno das vacinas, nem de criar um novo antiviral que resolva a ameaça da gripe, mas pode mudar sua definição e política de pandemias.
Segundo o comitê externo, a definição de pandemia baseada na abrangência geográfica do patógeno, e não na severidade como se dava a entender, assustou o público quando o nível de alerta foi elevado ao máximo. Muitos vincularam a mudança do nível de alerta a sintomas que o vírus causaria, e na falta destes sintomas atribuíram à OMS o interesse em aumentar o nível de alerta para favorecer laboratórios produtores de vacina. E houve mais suspeitas sem fundamento em torno da produção de vacinas.
De acordo os avaliadores, o pano de fundo da tomada de decisões da OMS foi o pior dos cenários, a ameaça do H5N1, e não houve exagero no alerta levantado. Decisões precisavam ser tomadas rapidamente durante o começo da pandemia, e vacinas precisavam ser produzidas o mais cedo possível. Com base no tipo de prejuízo que um vírus como este poderia causar, a política adotada foi a de evitar qualquer morte desnecessária, de forma que em momentos de incerteza, optou-se pelas ações mais seguras. Em momentos de dúvida, foi preferível errar por excesso de precaução.
Tais medidas ativas associadas a problemas de comunicação que o comitê julgou que poderiam ser evitados deram margem a queixas. Como os nomes dos consultores que participaram do planejamento foram divulgados apenas ao fim da pandemia, após 10 de agosto de 2010, conflitos de interesse foram explicitados tarde demais. O fato de consultores terem trabalhado na produção de vacinas, embora essencial para trazer experiência e embasamento para o planejamento, tal vínculo não foi declarado adequadamente, o que levantou suspeitas evitáveis de favorecimento de fabricantes de vacinas. Desnecessárias pois segundo os avaliadores não foram encontradas evidências de influência comercial na tomada de decisões.
Ainda de acordo com a avaliação externa, burocracia, problemas de legislação e transporte fizeram com que milhões de doses de vacina sobrassem sem uso. Vacinas estas que por motivos fora do alcance da OMS demoraram muito para serem produzidas em ovos, e ficaram indisponíveis em muitos países pobres. Também alheio à OMS mas criticada foi a forma com que alguns países tentaram conter a pandemia, barrando a entrada de produtos derivados de porcos, quando se sabia que o Influenza é transmitido por via respiratória e não pela comida.
Por fim, foram feitos elogios e sugestões por parte do comitê. Entre os elogios estão a distribuição eficaz de mais de 3 milhões de doses de antivirais para mais de 72 países, a detecção precoce dos casos e a quantidade de testes realizados, embora estes números precisem ser ainda mais altos em caso de uma pandemia mais severa. A pronta produção e distribuição por parte da OMS de uma linhagem vacinal de Influenza, utilizada por diversos laboratórios para a produção dos milhões de doses também foi elogiada e mencionada como importantíssima em casos futuros. E para garantir a distribuição em tempo hábil, acordos prévios sobre a legislação de vacinas deveriam ser feitos entre países e fabricantes para garantir que este não será um limitador.
Para resolver o problema da burocracia, pois entenderam que a quantidade de documentos avulsos produzidos pela OMS e cobrados para a confirmação de casos em laboratório, os avaliadores sugerem a criação de padrões de envio e avaliação de documentos. Quanto ao nível de alerta que confundiu a população, sugerem que a pandemia seja quebrada em três etapas: normal, em alerta e pandemia estabelecida. Mesmo assim, a severidade de uma pandemia emergente deve ser monitorada e considerada em decisões, levando em conta fatores como o número de casos, número de mortes, internações em hospitais e outros.
O painel também sugere a criação de um fundo de $100 milhões para prevenção e montagem de um grupo de experts em emergências a postos. A reserva de 10% de doses de vacinas por parte dos produtores, para serem destinadas a países pobres e uma presença maior e mais clara da OMS para o público, através de seu site e de redes sociais, ajudando o esclarecimento do público onde ele busca mais informação também foi recomendada.
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2 responses to “A atuação da OMS durante a gripe suína de 2009”

  1. Atila, vc tem acompanhado a gripe H5N1 neste ano? Me parece que teremos uma epidemia de baixa amplitude, talvez por que as pessoas já estejam imunizadas em sua maioria.
    Vc tem informaçãos obre a percentagem de virus H5N1 relativamente aos virus das gripes sazonais anteriores a 2009?
    OFF TOPIC: Qual é o link para aquele seu post premiado sobre a Toxoplasmose?

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