kindle, via XKCD

Já tem alguns meses que comprei um kindle através de uma amiga que estava nos EUA, não é todo mundo que pode pagar R$ 963,32 por aqui. Mas, deixando de lado o custo absurdo do aparelho no Brasil, e a enorme falta de títulos em português, existem algumas coisas passei a apreciar e recomendo.

Antes de tudo, aprendi com o Alex Castro a não me desesperar mais para comprar livros. Antigamente, eu não podia passar em um sebo ou livraria sem sair com vários títulos que ficavam (alguns ainda estão) parados na estante por tempo indefinido, esperando o dia em que vou parar para ler o que comprei. Não tenho muitos livros na estante, na maioria mantenho o que vou reler em algum momento ou consultar. Mas era aquela aflição de não saber se ia achar o livro em outro lugar, então tinha que levar. Cheguei a deixar o telefone em sebos para me ligarem quando tivesem o título que procurava, antes de descobrir a maravilha dos livros usados na Amazon.

Já no kindle, não tem motivo mais para isso, a qualquer momento o livro está disponível, e vai ser baixado em menos de um minuto. Só compro o próximo quando acabo o que estou lendo (e não que tenha lido muitos), ou alguma promoção muito boa. Também não tenho necessidade de andar com 200 livros salvos na memória. Estou lendo um, tenho ele, quando quiser o próximo, é só baixar. 

Sem entrar na discussão de quanto papel está sendo salvo, quantas árvores deixaram de ser derrubadas e blá, blá, blá, que seria hipocrisia da minha parte usar como argumento por dois motivos: não foi por isso que comprei o gadget, e não faço idéia do quão realmente ecológica é a alternativa, uma vez que eucalipto é replantado e nem sei quanto de poluição foi gerada para fazer o kindle. Vai saber quantos livros são necessários para ele valer a economia de papel.

Também tem o preço, a maioria dos ebooks que quero na Amazon estão entre $11,50 e $20. Ainda é muito, já que graças à pressão de editoras que não entenderam que não tem mais volta, muitos livros custam mais na versão eletrônica do que em papel impresso. Por vezes até a capa dura custa menos. Agora, para quem pagava no mínimo $12,50 de frete mais o preço do livro, e tinha que esperar uns dois meses no frete mais barato, o preço do ebook é muito melhor. Não que eu reclame dos preços e do frete dos livros lá fora, comparados ao preço da maioria dos livros em português, e dada a variedade, comprar um usado em inglês e esperar a entrega ainda sai muito mais barato. Especialmente no caso de livros universitários. ‒ Achava um absurdo ter pago R$140 no Alberts, e acabo de descobrir que passou de R$350!

Eu já havia diminuído bastante a vontade de comprar livros impressos. Desde 2009 desenvolvi o hábito de ouvir audiolivros. O tempo todo. Para caminhar até o laboratório, caminhar até o restaurante universitário, lavar louça, limpar a casa, pegar ônibus, metrô, qualquer atividade que não precise de atenção direta. Aproveito o tempo, “leio” um livro e ainda treino o inglês. Mas, para livros que não foram narrados, não tinha muita alternativa. Agora tenho, e mais barata.

Livro impresso agora, só por três motivos: se não existir versão digital, óbvio; ou a versão impressa é muito melhor do que a digital, como a edição ilustrada do Origem das Espécies ($15 lá fora) – quando um livro desse tamanho e com tantas imagens custaria menos de R$30 aqui (vide Alberts)?; ou, no melhor dos casos, o livro está autografado. Sim, depois que descobri o AbeBooks pretendo comprar algumas edições autografadas dos autores que mais admiro. Sem contar escritores como a Rebecca Skloot que vendem diretamente cópias autografadas, com direito à inscrição. Além das raras ocasiões em que conheço o autor!

Ainda tem a facilidade de ler as coisas no Kindle ao invés do computador. Graças a um plugin do Chrome, qualquer coisa que tenha mais do que dois parágrafos eu mando para ele e depois leio. Incluindo artigos. O que me levou à pergunta que desencadeou este post. Por que as revistas ainda não adotaram o formato epub? Quase todos periódicos ainda usam o bendito pdf, que não pode ser redimensionado facilmente, dificulta anotação e a maioria das pessoas usa o nojento do programa da Adobe para ler. O kindle é compatível com o pdf, mas ainda sim é bastante incômodo ter que acertar o tamanho do zoom, e ficar passeando com o cursor para ler artigos com duas colunas, ou seja, quase todos. 

Já o epub é um pacote zip, que permite texto redimensionável para qualquer tela, figuras em tamanho livre, material suplementar junto, além da possibilidade de um arquivo índice com todas as informações sobre o artigo, autores, revista, títulos e tudo o mais, que poderia ser lido por programas como as tags de um mp3. Facilitaria a vida de um programa como o Mendeley e a minha também. Adeus imprimir um artigo, adeus imprimir um artigo e descobrir depois que tudo está nos dados suplementares.

Enquanto não fazem isso, seguem algumas dicas para kindle (e outros) que tem me ajudado bastante:

A Saraiva e a Livraria Cultura têm livros em português, com bons títulos inclusive (pelo menos vi o Vida Imortal lá no meio), mas também parece sofrer do mal do ebook caro.

O Briss é um programa que corta pdfs em série, ótimo para cortar páginas com duas colunas e redimensioná-las para caber melhor na tela.

O Calibre é uma benção, gerencia livros, converte inclusive pdfs (nem sempre bem), baixa os feeds de blogs que escolhi e manda pro kindle no dia da semana escolhido, via e-mail ou cabo e garante que você não vai perder o que comprou.

O Reddit tem uma thread só sobre o kindle, onde sempre aparecem boas dicas.

O Projeto Gutemberg tem milhares de ebooks grátis com conteúdo de copyright expirado, como o ótimo A Pior Jornada do Mundo, sobre a expedição para descobrir o pólo Sul que chegou em segundo lugar. Em inglês.

O DealExtreme tem capa a $10 e luz para leitura de LED dupla a $5, bem mais baratos do que o olho ou rim que os acessórios costumam custar.

Uma ótima ferramenta para achar novos livros de interesse é o GoodReads. Dizem que também é rede social, mas chega de redes, né.

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