Esquilo suicida? Nem perto


 
Se você achou muito extrema a atitude tomada pelo esquilo aos 20 segundos e, como alguns dos que vi compartilhando o vídeo, pensou que o esquilo estivesse tentando se matar, fique tranquilo. Como descrevi neste post, a gravidade é um problema mortal apenas para os grandes animais. Os pequenos podem até aproveitar a queda para planar.
Como o volume corporal aumenta mais rapidamente do que o tamanho, animais maiores possuem muita massa para uma pequena área absorver o impacto de uma queda. Já para animais pequenos, a massa menor é distribuída sobre uma área proporcionalmente maior, que pode absorver o impacto sem grandes problemas. Para o esquilo, mesmo quedas de alturas muito grandes têm pouco impacto. Vide a severidade dos machucados em gatos, que acima de nove andares diminui:

Vi o vídeo primeiro no Chongas.

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6 responses to “Esquilo suicida? Nem perto”

  1. “Como o volume corporal aumenta mais rapidamente do que o tamanho”
    Bem, como volume tb é uma medida de tamanho, acho que ficaria melhor falar em comprimento (ou tamanho linear).
    Mas quanto ao impacto. Acho que é menos uma questão de área de absorção do que uma menor velocidade terminal (aliada à menor massa, resultando em uma menor quantidade total de movimento – no que redunda em menor impacto ao fim da queda).
    O gráfico do gato parece que é explicado do seguinte modo. Maior a altura, maior a velocidade – até atingir a velocidade terminal, aí pra qualquer altura maior, a velocidade final é a mesma – começa a se formar um platô a partir do 6o andar. A queda da severidade dos machucados é interpretada como um maior tempo de queda permitir uma melhor reação do gato: consegue virar seu corpo com as patas para baixo e se preparar para o impacto – parcialmente absorvido pelo movimento de flexão. O que está um tanto em desacordo com a visão de área de absorção de impacto – já que as patas têm uma área total menor do que as costas ou os flancos.
    []s,
    Roberto Takata

  2. Oi Atila,
    Esse exemplo dos gatos caindo de prédios é na verdade um ótimo exemplo de como a forma com que fazemos amostragem afeta os dados e consequentemente as conclusões. Um ponto interessante desses dados – que é discutido no livro do Whitlock & Schluter (The analysis of biological data) e se não me engano em um episódio do RadioLab – é que o tamanho amostral para cada andar apresenta a mesma curva em formato de sino do que o número de machucados por gato. Nos andares baixo (e.g., andar 1) o número de gatos na amostra é pequeno, o número de gatos vai aumentando, até o quinto andar (34 gatos machucados) e depois começa a diminuir até terem só 13 gatos entre os andares de 9 à 32 (o número é tão pequeno que eles precisam juntar os dados de 23 andares!) Uma das explicações usadas para entender esse padrão para o número de gatos por andar é que a intensidade dos machucados é baixa em andares baixos (logo os gatos não são nem levados para o veterinário), vai aumentando (aparentemente cair do quinto andar quebra os gatos o suficiente para que os donos os levem ao veterinário) e depois do quinto andar a gravidade dos machucados aumenta tanto que os gatos começam a morrer e nem chegam ao veterinário (vide o pequeno tamanho amostral).
    Que tal? Faz sentido?
    Abraços,
    Eduardo Santos

  3. @Eduardo Santos,
    Em Vnuk et al. 2003. Feline high-rise syndrome: 119 cases (1998-2001) não há essa distribuição de sino. Há, sim, claro, uma queda para andares mais altos, mas não um aumento progressivo até o 5o andar. (O caso com andar mais alto é o 16o – a partir do 7o os dados são agrupados.)
    Mas as curvas de ferimentos também é um tanto distinta da apresentada por Diamond (modificada de Whitney &. Mehlhoff 1987). A frequência de fraturas tem um pico no 3o andar e cai a partir daí. A de trauma torácido tem pico no 4o andar, cai e aumenta a partir do 7o andar – passando o pico do 4o andar.
    O score de ferimentos aumenta do 2o para o 3o, é mais ou menos similar entre o 3o e o 6o andar. E é maior para a classe de 7 andares ou mais.
    Não parece ser um efeito de amostragem a redução de índice de ferimentos em Whitney &. Mehlhoff 1987 para andares superiores a 9.
    Aqui o gráfico original de W&M87:
    http://spiff.rit.edu/classes/phys311.old/lectures/termvel/catfall.jpg
    ———
    Pena apenas q não tem as barras de erro.
    []s,
    Roberto Takata

  4. @Roberto Takata,
    Eu tinha baixado esse artigo do Vnuk et al 2003 ontem, mas não tive tempo de ler na hora de escrever o comentário anterior.
    Posso até entender a explicação da velocidade terminal para explicar um platô na magnitude dos ferimentos sofridos por gatos que caem de andares altos (vamos dizer acima de 7 andares). Mas continuo achando que a amostragem não é ideal. E em nenhum dos artigos- W&M87 ou Vetal2003 – os autores mencionam a possibilidade de que os padrões observados são simplesmente uma consequência de uma amostragem limitada para andares mais elevados. Mais uma vez, em Vetal2003, eles agrupam o tamanho amostral dos gatos a partir do sétimo andar, indicando que são pouquíssimos gatos que conseguem cair destes andares e chegam a ser levados para o veterinário. Em nenhum momento os autores mencionam a taxa de mortalidade dos gatos antes deles chegarem ao veterinário (imagino o quão difícil seria coletar esses dados!). Mas talvez isso ajudasse a responder a pergunta.
    Não acredito que nenhum comitê de ética vai deixar a gente fazer um experimento, mas seria interessante jogar uns modelos de gatos (estilo Mythbusters) controlando para o tamanho amostral ao longo dos andares para ter uma amostra mais adequada. Outra coisa. Acho que já existem dados suficientes na literatura para alguém fazer uma meta-análise sobre esse efeito =)
    Vou aproveitar a oportunidade para convida-los para um seminário que vou apresentar na USP daqui a duas semanas quando chego no Brasil. O seminário vai ser no dia 9/10 às 17h. O seminário vai ser no departamento de Ecologia, para o grupo do professor Glauco Machado, com quem devo começar meu pós-doc em janeiro ou fevereiro.
    Fica o convite e um abraço
    Eduardo Santos

  5. @Eduardo Santos,
    Uma possibilidade de estudo mais controlado é jogar gatos naqueles túneis de vento verticais – talvez seja preciso colocar em uma cave digital para simular a parte visual da queda. Ou usar bonecos realísticos com sensores.
    Não acredito que seja questão de mortalidade pela queda ser maior em andares acima do 7o. Uma vez que se atinja a velocidade terminal, ceteris paribus, o dano deve ser o mesmo – independentemente do tempo em que se esteja viajando a essa velocidade (ou, equivalentemente, a distância que se tenha viajado). O baixo número para andares muito altos deve ser pelo menor número de casos – talvez os donos sejam mais cuidadosos (passem a usar com mais frequência redes ou mesmo não abram as janelas) e também a quantidade de prédios mais altos são menores.
    No caso de W&M87, o número amostral 13 para andares superiores é razoável e bem comparável com uns 20 de andares inferiores – e maior do que os 9 para os andares 8 a 9. Sim, quanto maior o número amostral melhor, mas já dá um bom indicador. Se você plotar o tamanho amostral de cada classe com o índice de ferimentos, não teremos uma curva do sino, mas um U deitado (com a boca voltada para o lado negativo do eixo x).
    []s,
    Roberto Takata

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