Lições da ESOF 2014 (Parte 1)

Pôr-do-Sol

Pôr-do-Sol
Pôr-do-Sol depois das 10 da noite em Copenhague

Como dá para perceber por aqui, ando bastante ocupado com o pós-doc ultimamente – conforme a pós chega ao fim, 10% dos posts de blogueiros acadêmicos contém justificativas para atrasos, pode reparar. Também mudei o meu foco: o pouco tempo que sobrou tenho usado em outra iniciativa, o Nerdologia.
Há bastante tempo já estava incomodado com o interesse público por ciência escrita, como desabafei aqui. O que me motivou a partir para vídeos e uma outra abordagem de divulgação científica, que ainda vou explorar em outro post. A iniciativa funcionou e superou qualquer expectativa que eu tivesse. Realmente não esperava ter tanta gente interessada em tão pouco tempo. O que deixa clara a competência dos envolvidos nos vídeos: Alexandre Ottoni, Deive Pazos e Rodrigo Tucano.
Como já aconteceu com o Lablogatórios, que virou ScienceBlogs Brasil, parece ser mais fácil conseguir reconhecimento internacional do que no Brasil. Fui convidado pelo comunicador de ciência Jens Degett a participar de uma sessão sobre o futuro da comunicação científica no Euroscience Open Forum 2014, em Copenhague (o lugar feio da foto que abre o post). Que me ensinou lições valiosas logo na abertura.
Ciência é assunto real
Cerimônia de abertura do ESOF 2014
O evento foi sediado pela cervejaria Carlsberg – mais sobre isso em instantes – e aberto pela Sua Majestade Margrethe II, que aparece no telão aí em cima. O vídeo todo da abertura está ao final do post, se quiser adiantar para a simpatia da rainha falando sobre a importância da ciência para a Dinamarca, avance para 4:30. A fala é curta: a receita de como lidar com o futuro é a ciência. E passou uma ótima mensagem, fiquei impressionado demais com a atitude da rainha de participar em um evento científico.
Em tempos de crise, ciência é o futuro
Logo depois da rainha, música nórdica com o grupo dinamarquês Dreamer’s Circus (muito boa, por sinal). E depois a fala do presidente do Comitê Europeu de Pesquisa, José Manuel Barroso. Que também reforçou a mensagem: a ciência é responsável por muito do que temos hoje, em qualidade de vida e tecnologia, e é o futuro da humanidade. Tanto que, em tempos de crise e com todo tipo de orçamento sendo cortado, a verba para pesquisa em ciência do comitê aumentou em 30%. E foi direcionada para verbas de pesquisa que estão vinculadas aos pesquisadores dos países participantes, independente de nacionalidade ou instituição.
Meu respeito à Carlsberg
Do alto da minha ignorância, estava achando curioso o fato do evento ser hospedado dentro da antiga fábrica da cervejaria Carlsberg. Achei que fosse só por conta da paixão dos dinamarqueses por cerveja –Nos cafés da convenção, as opções eram frutas, cookies, água, café de garrafa térmica (juro) e quatro torneiras de chope diferentes. Além de garrafas de cerveja premium.
Mas a fala da ministra do Ensino Superior e da Ciência explicou tudo. Segundo Sofie Carsten Nielsen, ciência é nossa amiga, a receita para o futuro (novamente) e a Carlsberg representa isso muito bem. Fundada em 1847, eles têm um laboratório de pesquisa desde 1875! Entre outros avanços como desenvolver o conceito de pH, foram os primeiros a conseguir isolar a levedura durante a produção de cerveja. Por isso mesmo, a levedura usada para fazer cerveja lager se chama Saccharomyces carlsbergensis. Não patentearam o método, ajudaram várias outras cervejarias a desenvolver a produção de cerveja, e ainda são financiadores de muita pesquisa feita na Dinamarca. Impressionante.
A ciência nos aproxima
Para completar a cerimônia, um debate que me arrepiou, entre a apresentadora Dominique Leglu, a física e porta-voz do CERN Fabiola Gianotti, e o diretor do centro Rolf-Dieter Heuer. Gianotti explicou como o CERN é composto por cerca de 10 mil pesquisadores de todos os cantos do mundo, de países que muitas vezes não se falam em outras áreas. Como mulheres participam cada vez mais da pesquisa e como mesmo pesquisadores jovens contribuem com ideias.
Para completar, com anos de experiência, Heuer fez algumas observações fundamentais. Depois de mais de 60 anos de pesquisa e bilhões investidos, o CERN está longe de se justificar só com o bóson de Higgs. Não que toda ciência tenha que levar a algo aplicado, mas o centro, que passou a ser mundial, não só europeu, desenvolveu e compartilhou tecnologias como a internet e aceleradores de partículas. Para não falar da internet, maior ferramenta de compartilhamento de gatos que a humanidade concebeu, por mais que pareçam algo exótico e restrito à centros de pesquisa, são mais de 30 mil aceleradores de partículas no mundo, usados tanto na indústria como em centros médicos.
 
O que recebi da abertura (e do Fórum como um todo) e vou levar por muito tempo:
Ciência é o que nos propiciou a tecnologia e a qualidade de vida que temos hoje. Ciência é o que nos aproxima, compartilhamos e construímos conhecimento juntos. Ciência é o futuro.
 
[youtube_sc url=”http://youtu.be/S8ounqcqw3Q”]
 


7 responses to “Lições da ESOF 2014 (Parte 1)”

  1. A relação da Carlsberg com cerveja não para por aí. Eles deram uma casa para o Niels Bohr depois que ele ganhou o Nobel. Mas não era uma casa comum. Era uma casa com ligação direta com a fábrica, com cerveja infinita, gratuita e direto da torneira (http://www.forbes.com/sites/alexknapp/2012/11/28/for-winning-the-nobel-prize-niels-bohr-got-a-house-with-free-beer/).
    Eu e o Tucano falamos sobre isso e outras coisas mais sobre as curiosidades do mundo cervejeiro no Scicast 😉
    http://www.scicast.com.br/scicast-021-cerveja-com-tucano-e-luiz-bento/

  2. Caro Átila, desvendei funcionamento do CÉREBRO HUMANO. Fv, leia últm post: Ensaio Sobre o Racismo – e a origem das emoções humanas (blog: cerebro selvagem). Ajd-me divulgá-la. OBG.

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