Porque a transmissão sexual de zika não é preocupante


Aedes aegypti, criado por Muhammad Mahdi Karim (www.micro2macro.net)
Aedes aegypti, o verdadeiro culpado, criado por Muhammad Mahdi Karim (www.micro2macro.net)

Então foi mesma confirmada (ou quase) a transmissão sexual do Zika, dessa vez em um casal de Dallas onde um dos parceiros havia voltado da Venezuela com Zika. O ponto é: isso é o de menos. Explico. Vírus podem ter diferentes tipos de transmissão, desde por algum tipo de contato, de pele infetada (herpes), fluídos (HCV), sexual (HIV) a elementos, como água (rotavírus) ou ar (gripe em gotículas de saliva).
Mas cada tipo de transmissão tem uma dinâmica e chances de contágio diferentes. Para um vírus causar uma epidemia, ele precisa infectar novas vítimas mais rapidamente do que os infectados se curam. Vírus que causam infecção aguda, aquela que dura poucos dias, como o zika, geralmente são transmitidos por meios que atingem mais pessoas. Pense na gripe ou no sarampo, que são muito bem transmitidos pelo ar e podem infectar quem está ao redor. Ou rotavírus e parvovírus que vão parar na água através de fezes ou vômito e podem se espalhar por grandes áreas. Já os vírus que são transmitidos por contato de fluídos ou contato sexual precisam infectar a pessoa por tempo suficiente para que os contatos mais raros aconteçam. HIV, HPV, HTLV, Hepatite C e outras doenças transmitidas dessa forma geralmente causam infecções que duram de meses a anos, possivelmente a vida toda, o que aumenta a chance do infectado ter contato com um ou mais parceiros.
No caso do Zika, o vírus circula no sangue apenas por um período de dias. Ele pode ser encontrado por um pouco mais de tempo na urina, tanto que muitos dos testes usam essa amostra agora. E ele foi o primeiro ou um dos primeiros vírus transmitidos por insetos e carrapatos (arbovírus) a ser encontrado no semen até oito semanas depois dos sintomas passarem e dele sumir do sangue. Mesmo assim é um período bem curto para essa rota de transmissão ser importante. Não sabemos quais as chances de contágio no contato com alguém infectado, mas dado o tempo curto, isso não é o suficiente para infectar mais pessoas do que as que se curam. Ou seja, a transmissão sexual não se mantém.
Transmissão sexual chama atenção, dá notícia, dá clique e gera conversa. Uma ou outra pessoa pode ser infectada assim, mas isso está longe de ser importante. Mas não deixe isso tirar a atenção do que realmente importa: tem mosquito Aedes suficiente para transmitir dengue, chikungunya e outros. Transmissão sexual é o de menos.

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