Métricas alternativas são realmente alternativas?


Depois de uma apresentação sobre métricas alternativas e redes sociais pelo SciELO, fui convidado pela ABEC (Associação Brasileira de Editores Científicos) a escrever sobre o tema no blog deles, o que fiz com alegria. Abaixo um pedaço do post, o texto completo você confere aqui.

Uma métrica ainda é alternativa se ela é adotada por todos? Fonte: Altmetric.com
Uma métrica ainda é alternativa se ela é adotada por todos? Fonte: Altmetric.com

 

Como cada rede tem seu uso, as métricas que elas geram falam sobre diferentes impactos que um artigo pode ter. Citações no Twitter provavelmente indicam que pesquisadores estão compartilhando o artigo. Ou que um Kardashian da ciência com muitos seguidores compartilhou o trabalho – com mais de 55 mil seguidores no Twitter e 145 citações, o meu índice é pouco mais de 260, escandalosamente entre os mais altos. Citações no Facebook indicam um artigo com apelo mais popular, que pessoas estão compartilhando com amigos. Citações na Wikipédia indicam um artigo com um impacto tão importante na área que merece ser citado para referências. Citações no Snapchat… não faço ideia do que queiram dizer, eu realmente não faço parte dessa demografia. O ponto é, sabendo onde um artigo é compartilhado, podemos estimar o apelo que aquela pesquisa tem.
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As métricas alternativas podem ser grandes preditoras de citações. Isso várias área para área, de revista para revista. Mas enquanto as citações levam meses a anos para ocorrer – e junto com elas mudanças em fator de impacto – compartilhamentos no Twitter acontecem em menos de uma semana após a publicação de um artigo. E em áreas onde pesquisadores se comunicam bastante por essa rede, há grandes chances de um artigo muito compartilhado em dias estar entre os mais citados anos depois [4]. Veja o impacto do artigo recente sobre a detecção de ondas gravitacionais [5]. Ele foi citado em agências de notícia (centenas, mas apenas 65 foram indexadas), blogs (37), Twitter (4292 tuítes), Facebook (72 páginas), Wikipédia (37 artigos!), 147 usuários de Google Plus (nem sabia que ainda tinham tantos usuários), 2 páginas do Reddit e 3 fóruns de perguntas. Tantas fontes diferentes que ficou em 14º na lista de mais de 4,7 milhões de artigos acompanhados e bateu o recorde de score da Altmetric para o intervalo de tempo desde a publicação (no período em que este post foi escrito, menos de um mês). Mereceu até um quadrinho próprio no XKCD – que defendo ser uma excelente métrica de impacto. Alguém desinformado poderia até achar que é um artigo digno de um Nobel.
Sabendo desse poder preditivo dessas métricas, virtualmente todos os jornais adotaram o score da Altmetric para seus artigos. Sem falar em outras iniciativas do tipo. Discutam o que quiserem sobre métricas alternativas, que não são confiáveis, que podem ser manipuladas, que deveriam indicar quanto o impacto de um artigo é negativo (sua repercussão vêm de problemas que ele apresenta, não do valor da pesquisa). Mas quando uma empresa lançada em 2011 gera valores que são adotados por quase todos os periódicos, acho que atingimos um consenso de que são números importantes. Nem o sistema métrico, que é o que é, foi adotado por todos os países – Estados Unidos, estou olhando para vocês.
Não só são números importantes como as casas editoras correram para medir os dados na fonte. A Elsevier comprou a Mendeley, até então a maior rede de armazenamento e compartilhamento de artigos, que gera uma das métricas mais relacionadas com citações. A Thomson Reuters sempre foi dona do Journal Citation Reports, que gera o Fator de Impacto, e do EndNote, uma das ferramentas de gerenciamento de citações mais adotadas (e pirateadas) no meio acadêmico. A McMillan não só é dona da Altmetric, como desenvolveu o leitor de artigos ReadCube. E forçou seu crescimento liberando o compartilhamento de artigos da Nature para não assinantes, apenas dentro da plataforma ReadCube.
O motivo é o mesmo que leva o Facebook a monitorar os dados de seus usuários para anúncios e comprar redes promissoras como o WhatsApp: dados. Quanto mais dados de uso e compartilhamento de artigos, mais fácil saber qual pesquisa é popular no momento e pode render citações futuras. Quanto mais citações, maior o fator de impacto. De alternativas essas métricas não tem nada. Viraram não só o padrão de revistas como certamente estão ditando a direção do que serão os próximos artigos aceitos por periódicos importantes. E o mercado de publicação, como vários outros, segue silenciosamente monitorando e predizendo o futuro com base em dados presentes. Avaliar a qualidade da pesquisa fica por conta de quem lê e compartilha.
 

O restante do texto e as fontes estão aqui.


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