O que li de melhor em 2017

Celular com o audiolivro do Scale

Celular com o audiolivro do Scale
Se você está pensando em aproveitar o fim do ano para ler algo ou presentear alguém, e eu puder ajudar com alguma dica do que li, aqui vão as melhores leituras deste ano. Sem uma ordem fixa, simplesmente na ordem que ouvi, com os livros em português primeiro. Os elogios podem parecer repetitivos, mas são realmente os melhores que li. [Ah, se puder comprar com o links de afiliado que uso abaixo, agradeço. Se não puder, agradeço de qualquer forma e boa leitura 😉]

Impérios Da Comunicação e The Attention Merchants: The Epic Scramble to Get Inside Our Heads, por Tim Wu

Impérios da Comunicação é um livro que foi escrito em 2011 e ainda é completamente atual. Tim Wu é professor de direito em Columbia e estuda a relação com informação e tecnologia. Já vi a expressão net neutrality atribuída a ele.
O livro todo é um argumento muito bem apresentado em favor da neutralidade da rede e da importância de não se deixar que interesses específicos de alguma corporação escolha o que circula ou não na web. Começa com uma história de como surgiram e cresceram os monopólios de mídia nos EUA, começando pelo telefone e passando pelo cinema, rádio e TV.
Sua explicação sobre como a verticalização da indústria (controle da produção à distribuição) e o monopólio facilitam censura e atrasam o desenvolvimento de muita coisa é impressionante. E termina com uma discussão sobre o que está se passando com a Apple e o Google controlando (ou não) o que consumimos nos computadores modernos, os celulares. Tranquilamente um dos melhores livros que vi no ano e um dos com ideias de maior consequência. Recomendo muito a qualquer um que usa a internet.
Tanto que pouco depois ouvi o próximo, Attention Merchants. Excelente continuação sobre como surgiram as mídias de broadcast e como acontece o monopólio da informação. Neste livro ele discute como a publicidade surgiu junto dessas mídias e como surge o comércio da atenção de quem as consome. O livro passa pela publicidade no jornal, no rádio e na TV, para em seguida falar da internet. E ao mesmo tempo discute o vai e vem entre as forças do conteúdo popular, para atrair muita atenção e vender a preço de atacado, e o conteúdo de qualidade, que muitas vezes pode ser pago e sem publicidade. Um livro bastante importante e atual, nestes tempos de conteúdo pago v.s. ads, clickbait e venda de informação pessoal. E, neste caso, como o livro é do final de 2016, não sofre do mal do primeiro e insere o Facebook na discussão do controle de informação e venda de dados.

A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo, por Joshua Foer

Ótimo livro sobre memória, com um título mais legal em inglês (Moonwalking with Einstein). O autor começa a investigar como funcionava o sistema de memorização usado até a popularização dos livros e acaba se inscrevendo no campeonato americano de memória (e concorrendo).
O principal do livro, como funciona o palácio mental e os sistemas de memorização, é algo que poderia ser resumido em bem poucas páginas. Mas o embrulho dessa mensagem é muito bom, com histórias e feitos de memorização, o caminho do autor se preparando para o campeonato e uma série de comentários sobre a cultura da memorização que gostei bastante. Aquele livro que além de informar ainda é divertido e entretém.
Legal para quem quiser entender mais sobre memória, sobre talento e treino, e quem sabe até aprender técnicas para memorização. Com o bônus surpresa de destruir muito do que eu acreditava do Nascido em um dia azul: o Joshua Foer dá uma boa explicação porque o Daniel Tammet parece ser muito mais um memorizador do que um savant.

Os Inovadores: Uma Biografia da Revolução Digital, por Walter Isaacson

Vi este livro recomendado em vários lugares, imaginei que fosse bom, mas mesmo assim me surpreendi. Uma história do começo da computação, de Babbage e Lovelace até tempos recentes. Com direito ao papel das programadoras dos primeiros computadores, que não me lembro de ter encontrado em outros livros.
Walter Isaacson tem uma abordagem conciliadora, que passa por duas formas de descrever criações. Uma é a do “gênio”, de uma pessoa responsável por uma grande invenção que muda o mundo, e ele descreve a vida e o papel de muitos indivíduos. Outra abordagem é a do grupo, de como criações dependem de uma mentalidade e da participação de muita gente e só se confirmam com a adoção por outras pessoas. As duas se complementam e deixam o livro pessoal e compreensivo ao mesmo tempo. Além de ser o primeiro livro sobre a história da computação ou da internet que realmente conecta a adoção das tecnologias com o uso para interação social.

De que é feito o universo?: A história por trás do prêmio Nobel de física, por Richard Panek

Que livro gostoso de ler. Panek explica da concepção da ideia de Big Bang à descoberta recente de matéria escura e energia escura. O livro é bem compreensivo e bem explicado, daqueles que expõe as perguntas e ideias que levam à formulação de uma nova teoria, além dos testes feitos depois que corroboram ela. Com uma explicação bem detalhada das descobertas de constantes.
Explicações como “segundo esta hipótese do Big Bang, o Universo ainda estaria a 1-4K de temperatura […] confirmaram a temperatura” e outras do tipo deixam muito claro o valor das ideias cientificas, como foram formuladas e porque foram consideradas válidas. Ele deixa muito claro o processo todo de como mudamos radicalmente nosso entendimento do Universo ao longo do Século XX e porque estamos mais perdidos do que nunca – o que é muito legal. Ele só saiu antes do Nobel de Física de 2011 para os propositores da expansão com energia escura, mas não está muito desatualizado.

The Dictator’s Handbook: Why Bad Behavior Is Almost Always Good Politics, por Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith

Cheguei no livro por conta do Rules for Rulers CGP Grey. E é excelente, me fez mudar a forma como vejo o mundo (político). Bruce Bueno De Mesquita trabalha com teoria dos jogos e o Alastair Smith trabalha com política. Os dois se juntaram para explicar a política do mundo sob o ponto de vista dos políticos fazendo de tudo para se manterem no poder. E o resultado ficou fantástico.
O livro mudou completamente a forma como vejo partidos, políticos e qualquer medida política. São basicamente pessoas tentando tirar o maior proveito possível dentro da situação em que se encontram. Estamos vendo um pouco do outro lado no país, com escândalos e investigações rolando, e o livro explica muito bem o que está por trás. O que mais gostei é que, junto dos princípios, sempre apresentam situações que demonstram o que estão explicando. Achei a melhor explicação da política até o momento (para este leigo).

The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion, por Jonathan Haidt

Uma perspectiva diferente sobre moral, conservadorismo e o papel da religião. Haidt trabalhou com o que move as pessoas a tomar decisões morais, seguindo a linha mais recente de levar em conta o pensamento evolutivo nesse tipo de estudo. O resultado é muito bom.
Ele começa com uma avaliação muito boa do papel das emoções e da razão na tomada e na justificativa das decisões. A conclusão é basicamente que na maioria dos casos a decisão é emocional e a razão vem por cima depois para justificar a decisão tomada.
Em seguida parte para uma avaliação crítica de como a maior parte do pensamento e do estudo sobre moral recentes gira em torno da população universitária (as cobaias da maioria dos testes), em sua maioria branca, bastante educada, industrializada, rica e democrata (WEIRD). Um grupo que é bem distante da maioria das pessoas. E como isso deixou de lado uma série de outros princípios que ditam a moral. Haidt propõe seis princípios que ditam as decisões morais, Cuidado, Justiça, Liberdade, Lealdade, Autoridade e Santidade. Ainda termina com a melhor defesa da religião que já vi em um livro secular, falando sobre o papel de união de grupo e sensação de pertencimento, algo que Dawkins, Dennet ou Sam Harris raramente discutem. Achei uma ótima leitura, com várias ideias que não visito normalmente mas contribuem bastante para entender as pessoas.

Merchants of Doubt: How a Handful of Scientists Obscured the Truth on Issues from Tobacco Smoke to Global Warming, por Naomi Oreskes e Erik M. Conway

Uma ótima leitura ainda do ano passado, mas só ouvi depois do post de 2016. Então entra para esta lista. Impressionante a ligação entre negação do clima, negação que cigarro causa câncer e quais as causas de chuva ácida. E mais impressionante ainda que sejam promovidas pelo mesmo grupo político nos EUA. Nunca entendi porque discutir questão ambiental é instantaneamente rotulado de esquerda nos Estados Unidos até ler o livro. Naomi Oreskes e Erik M. Conway explicam como para parte da direita americana, qualquer tentativa de regulação ambiental = comunismo – o que ignora completamente o total descaso ambiental na União Soviética e na China. Daí a birra que têm com a agência ambiental americana, a EPA.
Os autores seguem discutem como surgiu o movimento de agências de relações públicas e cientistas aposentados que começaram atacando a noção de que cigarro causava câncer. Basicamente com a estratégia de questionar ligações, pedir mais estudos e atacar pessoalmente os cientistas envolvidos nesse tipo de pesquisa. Em seguida como o mesmo padrão se repetiu em diversas áreas de pesquisa, toda vez que um resultado pode ter implicações em regular uma indústria. Fica como um ótimo complemento ao A Espiral da Morte: Como a Humanidade Alterou a Máquina do Clima, enquanto o Claudio Angelo mostra o lado científico dos achados, este livro mostra mais o lado político.

Scale: The Universal Laws of Growth, Innovation, Sustainability, and the Pace of Life in Organisms, Cities, Economies, and Companies, por Geoffrey West

Um daqueles livros raros e excelentes que integra áreas enormes com conceitos claros, bem explicados e detalhados por alguém que entende muito do que está falando. Geoffrey West trabalhava com física de partículas, mas com a idade avançando, bateu aquele medo da morte e ele se envolveu com envelhecimento e fisiologia. E trabalhando no Santa Fe Institute, ele estava no centro da interdisciplinaridade.
Ao longo do livro, ele discute princípios gerais pelos quais o mundo opera quando mudamos de escala. O que acontece quando uma cidade cresce (crimes, poluição, uso de recurso), quando uma empresa cresce ou envelhece (chance de decaimento ou inovação), quando nós crescemos e envelhecemos. Tudo isso discutindo pesquisa recente, com explicações claras e sem nenhuma fórmula matemática. Ele faz um esforço enorme para deixar mesmo conceitos mais pesados como leis de potência e crescimento exponencial acessíveis. E para integrar isso tudo, conta várias histórias e detalha muitos assuntos, por isso o livro é enorme. Passa por tudo e vale muito a leitura.

Everybody Lies: Big Data, New Data, and What the Internet Can Tell Us About Who We Really Are, por Seth Stephens-Davidowitz

Acertei em cheio nessa leitura! Seth Stephens-Davidowitz apresenta uma análise de como as pessoas se comportam, na mesma linha do Dataclisma: Quem somos quando achamos que ninguém está vendo. Mas enquanto Dataclisma fala do comportamento das pessoas dentro do OkCupid!, Everybody Lies fala de como as pessoas se comportam em geral. O autor usa uma série de dados de forma bastante inovadora, como tendências de buscas no Google (onde ele trabalha), buscas no PornHub, Facebook e outras fontes de big data para fazer o que ele chama de “sociologia de verdade” ou sociologia baseada em evidências. Os dados que ele mostra sobre preconceito (buscas por temas preconceituosos), insegurança de auto-imagem, inseguranças em relação aos filhos e afins mostram uma imagem bem mais crua e feia da sociedade do que o que pintamos com postagens em Facebook e Instagram.
Outros revelam informações no mínimo interessantes, sobre a diferença que se formar em Harvard pode fazer (nenhuma, o ponto parece estar em quem se forma), onde criar os filhos, como aumentar as chances de sucesso em um encontro… O livro lembra bastante uma versão mais nova e, na minha opinião, mais curiosa da abordagem inovadora de Freakonomics.
Se você não está interessado na revolução que o registro e a disponibilidade de dados está causando no mundo, e no estrago que empresas e governos conseguem fazer com o controle que têm sobre a informação, no mínimo vai curtir o livro pelos fatos curiosos e mórbidos que ele levanta dos dados. Saber por exemplo que o número de homens que buscam como fazer bem sexo oral nas mulheres é o mesmo que busca por como fazer sexo oral em si mesmo fala muito sobre como as pessoas pensam. Um livro para todos os gostos.

Behave: The Biology of Humans at Our Best and Worst, por Robert Sapolsky

Um dos melhores livros que já li, tranquilamente. Sapolsky trabalha com bioquímica do comportamento e entende muito do tema. Seu primeiro livro que li, Memórias de um Primata, explicava como ele fez sua pesquisa com babuínos selvagens, acompanhando os animais e coletando o sangue deles para entender como o estresse e o comportamento deles no bando influenciava o balanço de hormônios no sangue. E desde então ele tem escrito sobre comportamento e estresse.
Agora, mais de 20 anos depois, ele aproveita toda a experiência na área para escrever uma obra excelente. Um livro gigante, daquelas obras que descreve compreensivamente a área e vem amarrando as pontas de décadas de estudos, integrando como nos comportamos de mamíferos a primatas, de sociedades aos neurotransmissores no cérebro. De forma leve, bem-humorada, auto-crítica e fácil de acompanhar. Comparo ele tranquilamente com Sapiens, Aço Armas e outros na linha. Uma delícia de ler.
Sua explicação sobre comportamento humano explica muita coisa. Como nos desenvolvemos, como pensamos a respeito dos outros, de nós mesmos, do que fazemos… Ele compara sociedades, como diferentes etnias lidam de forma diferente com alguns problemas e como temos vários elementos em comum. Mais uma das obras que dá uma base biológica para como pensamos. Tive vários momentos “ahhhh, então é assim que…” ou “ahh, então é por isso que”.  Recomendadíssimo. Tenho certeza que alguma editora vai traduzir para o português, então mesmo para quem não lê em inglês, assim que sair, leia.

Now – The Physics of Time, por Richard Muller

Um livro de física bem denso, mas muito bem explicado, que revisa de física quântica à cosmologia ao livre-arbítrio, para explicar de onde vem a sensação de tempo e do agora. Nunca tinha pensado sobre o agora, o momento em que vivemos, foi uma ótima reflexão.
Muller trabalhou com física pesada e muita gente competente e entende muito bem do que explica. Simplifica o suficiente para um biólogo entender os conceitos e deixa o cálculo para o absolutamente necessário. A parte sobre como pensamos e livre-arbítrio é um pouco bobinha perto da explicação física, mas casa muito bem com o conteúdo.
Ele contrasta explicações anteriores para o tempo (a entropia de Eddington), para propor sua própria hipótese verificável: de que o tempo é criado junto com o espaço na expansão cósmica. O que tb publicou mais formalmente em artigos. Vale acompanhar se confirmam. Só não deu para ouvir tão acelerado, já que o conteúdo é pesado.

,

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *