Mudanças climáticas no passado

Mudanças climáticas são eventos corriqueiros na história da Terra. Períodos de glaciação e de aquecimento global sempre estiveram presentes e não são exatamente uma novidade. Então qual a diferença entre os eventos do passado e o evento atual de aquecimento global?
A partir de dados coletados em anéis anuais de crescimento nos lenhos de árvores e corais, sedimentos oceânicos, gelo Antártico, registros documentados, entre outros é possível retirar evidências de mudanças climáticas, em escala global, no passado geológico da Terra. Entre as causas destas mudanças climáticas do passado, encontram-se movimentação das placas tectônicas, variação da órbita da Terra ao redor do Sol, mudanças na quantidade de radiação emitida pelo Sol, erupções vulcânicas, colisões cósmicas e emissão de partículas comumente denominadas “aerosóis” na atmosfera. Todas estas variáveis são levadas em consideração pelos especialistas que estudam aquecimento global.
De acordo com os modelos teóricos existentes, qualquer um dos eventos citados como causas de mudanças climáticas podem ser amplificados por outro evento, o aumento da concentração de gases do efeito estufa (GEE), principalmente gás carbônico e metano, na atmosfera. Estes dois gases são naturalmente estocados em grandes quantidades em turfa, tundra e sedimentos oceânicos durante períodos de clima mais frio e são liberados na atmosfera durante períodos de clima mais quente. Sendo assim o aquecimento aumenta a concentração destes gases na atmosfera, que por sua vez induz o aumento da temperatura na superfície terrestre, que aumenta ainda mais a liberação destes gases, num processo de retro-alimentação positivo.
Quanto mais GEE na atmosfera maior a possibilidade de amplificação dos danos causados pelos eventos naturais e maior a possibilidade do aquecimento global per se. Esta é a preocupação atual. Com uma população de 6 bilhões de habitantes e fronteiras controladas para migrações, um evento deste porte seria catastrófico. Pessoas morreriam ou seriam obrigadas a se exilar em outros países. Os gastos envolvendo realocação de pessoas, reconstrução de cidades e outras atitudes governamentais seriam imensos, podendo causar problemas econômicos em diversos países. Isso sem falar em animais e plantações.
Um exemplo interessantíssimo foi registrado no ano de 1816, conhecido como “o ano sem verão” no hemisfério norte. Após a erupção do vulcão no Monte Tambora, na Indonésia, em 1815, imensas quantidades de sujeira e gases vulcânicos foram injetados na termosfera (120-600 Km de altitude). A grande quantidade de cinzas no céu provocava pores-do-sol espetaculares ao mesmo tempo em que causava tempestades e inundações. Na Hungria nevou marrom. Na Itália, a neve era vermelha. A China experimentou uma queda na produção de arroz, dada pelas baixas temperaturas. Várias plantações da Europa foram devastadas. O evento causou 200.000 mortes na Europa, duas vezes mais do que a média. Por outro lado, JMW Turner pintou os mais lindos quadros retratando pôr-do-sol. Karl Drais, alemão, inventou o velocípede, precursor da bicicleta, dada a alta mortalidade dos cavalos e falta de meios de transporte. Joseph Smith e família se mudaram para Nova York, onde, em 1830, fundaram a igreja mórmom “Jesus Cristo dos Últimos Dias”. O verão chuvoso e intempestuoso forçou Mary Shelley, John William Polidori e amigos terem que aproveitar o verão dentro de casa. Eles decidiram então apostar quem seria capaz de escrever a história mais aterrorizante, levando Shelley escrever “Frankenstein” e Polidori escrever “The Vampyre”. 1816 foi um ano para se guardar na memória.
Leia mais:
1816 – “Year Without a Summer”
Climate Change – A. Barrie Pittock

Discussão - 8 comentários

  1. Giseli disse:

    Olá Paula, sou Giseli do bloghttp://www.ambiental.tur.br/blog/gostei muito do seu blog e da analogia que vc fez nesse último texto. Incrível como a catástrofe resultou em algumas descobertas prodigiosas tanto na arte quanto na ciência.Os textos não são chatos e imagino que num blog de ciência, isso seja muito bom de se ver. Porque juntar um monte de informações técnicas de maneira boa de ler.Um abraço.

  2. Paula disse:

    Oi GiseleMuito obrigada pelo elogio. O blog ainda eh novo e eu ainda sofro um pouco pra tentar "traduzir" a linguagem cientifica, mas acho que vai indo.Visitei seu blog ontem mesmo. Cada lugar lindo e bom de viajar, hein?AbracoPaula

  3. Giseli disse:

    Hei, Paula, realmente linguagem técnica é sempre uma coisa chata, mas, vc tá indo, eu acho. Se você gostou do blog, teria interesse em escrever algo sobre por exemplo?? e lincá-lo no seu, claro.ObrigadaGiseli

  4. Paula disse:

    Oi Gisele!Claro que sim! Eu vi que vcs tem um projeto de neutralizacao do carbono produzido pelas viagens. Tecnicamente ainda eh dificil falar sobre neutralizacao total, pq a metodologia para os calculos ainda eh um pouco empirica. Sugestoes para temas sao bem vindas! Aih, se vc gostar do texto, a gente estabelece o link, que tal? AbracoPaula

  5. Giseli disse:

    Escreva o texto como você quiser e mencionando a Ambiental, por mim tá tudo ótimo, você escreve super bem.Já linkei seu blog no da Ambiental.Um abração

  6. Paula disse:

    Ok!Meus posts pra hoje e amanha jah estao reservados. Vou pensar num texto pra segunda feira!AbracoPaula

  7. Giseli disse:

    Obrigada pela sua atenção Paula. Vou ficar aguardando.Um abração e bom feriado para você!

  8. Joao disse:

    Olá Paula, gostei muito do seu blog. Incrível como a catástrofe resultou em algumas descobertas magnificas e mudanças no meio como se analiza a natureza. Voce escreve de uma maneira aberta e ler os seus textos é como se tivessemos a ouvir algo de alguém em pessoa!

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