Hidrelétrica x Termelétrica

Estudos recentes realizados por Alexandre Kemenes, do Inpe, revelam que pelo menos 4 usinas hidrelétricas da Amazônia produzem mais carbono equivalente do que uma usina termelétrica movida a carvão vegetal (considerado o combustível mais poluente). As usinas estudadas foram Balbina, no rio Uatumã e Tucuruí, Samuel e Curuá-Uana.
A usina de Balbina, a melhor estudada, teve o índice de carbono equivalente calculado e, surpreendentemente, a usina emite 10x carbono equivalente que uma usina termelétrica que produz a mesma potência (míseros 250 MW para uma área alagada de 2600 Km2).
Mas de onde vêm os gases do efeito estufa de usinas hidrelétricas?
Áreas alagadas muito grandes e profundas construídas sobre uma área florestal não desmatada, aliada ao clima amazônico são os grande fatores que fazem dos reservatórios destas usinas grandes vilões. Kemenes explica que a estabilidade climática da Amazônia produz extratos térmicos nas diferentes profundidades do lago. Maiores temperaturas permitem maior quantidade de gases dissolvidos na água.
O Processo
No fundo do lago há intensa atividade biológica, que torna o ambiente pobre em oxigênio. O ambiente anóxio aliado a grande quantidade de matéria orgânica deixada pelo não-desmatamento da floresta que foi alagada, promove a ação de bactérias anaeróbicas, que produzem altas taxas de metano (CH4) e gás carbônico (CO2).
Os lagos de alta profundidade provocam um outro fenômeno físico: a pressão hidrostástica, que mantém os gases aprisionados no fundo do lago.
Os gases chegam à atmosfera por 3 caminhos distintos:
1) Naturalmente – o aumento da concentração destes gases no fundo do lago produz bolhas de CH4 e CO2 que são lançados à atmosfera;
2) Pela atividade das turbinas das barragens – que trazem os gases aprisionados no fundo do lago para próximo à superfície;
3) À Jusante da barragem, onde pode haver maior movimentação de águas (e por isso eliminação do extrato térmico) e diminuição da profundidade (e consequente diminuição da pressão hidrostática).
Saiba mais:
+Agência FAPESP
+Geophysical Research Letters

Discussão - 5 comentários

  1. Helder Marques disse:

    O lago da usina do Samuel, em Candeias do Jamari, RO, é um espetáculo deplorável. Um paliteiro de troncos de árvores mortas, um inferno de miséria e mosquitos nas margens.Agora o governo aprovou na marra a construção de usinas no Rio Madeira. Imagine o resultado!

  2. Breno Guimarães-Souza disse:

    Esse pesquisador participou de uma mesa redonda no congresso brasileiro de limnologia falando sobre esse assunto. O assunto gerou muita discussão e o representante de furnas ,que tb participava da mesa, mostrou um fato na metodoligia desse trabalho que realmente superestimava em muito os valores realmente emitidos. Eu sou biólogo e concordei com o representante de furnas. Mesmo assim, esse é um assunto polêmico e que ainda vai gerar muita discussão.Gostei muito do blog, também tenho um blog sobre ecologia e mudanças globais, dê uma olhada:http://discutindoecologia.blogspot.com/Abraços

  3. Paula Signorini disse:

    Pois é Breno...Eu também ouvi falar sobre isso! O autor se defende dizendo que um funcionário de FURNAS deu a informação de que o fluxo de água que vai para as turbinas passa rente ao fundo do lago, e por isso faria sentido adotar a metodologia. De qualquer maneira, aparentemente a metodologia já foi usada em outros estudos e em outros países que possuem hidrelétricas. Acho que o assunto é polêmico, ainda mais porque as usinas estudadas são pequenas, com lagos grandes e com baixa capacidade de geração de energia, o que não necessariamente reflete a realidade nacional.

  4. Leonor Esteves disse:

    Bom dia!
    Meu comentário, refere-se ao fato de, ao se comparar alternativas de geração elétrica, ser necessário levarem-se, em consideração, distintos parâmetros. As termoelétricas utilizam incineração: queima de combustível. Seu impacto é, portanto, muito grande. Não se limita, apenas, ao CO2.
    Anexo, a seguir, um texto de cinco anos atrás, mas pertinente, para este tema.
    Att.
    Leonor Esteves
    Dioxina - estudo de caso
    http://www.chemicalbodyburden.org/cs_dioxin.htm
    A dioxina é uma das substâncias químicas mais estudadas no planeta. É encontrada tanto no ambiente como em nossos suprimentos alimentares. É causadora de uma série de adversidades na saúde, incluindo câncer, deformidades de nascimento, diabetes, agressão ao processo de desenvolvimento e do aprendizado, endometriose e anormalidades no sistema imunológico. É o carcinogênico animal mais potente jamais testado anteriormente.
    P. O que é a dioxina e como é gerada ?
    R. A dioxina é uma família de substâncias químicas que contém carbono, hidrogênio e cloro. Existem 75 (setenta e cinco) diferentes formas de dioxinas, sendo a mais tóxica a 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina ou TCDD. Esta molécula é mais conhecida comumente como a substância tóxica presente no Agente Laranja*, em Love Canal/New York** e em Times Beach/ Missouri**. A dioxina não é produzida deliberadamente. Entretanto é um subproduto não intencional de processos industriais em que se utiliza ou queima gás cloro na presença de materiais orgânicos. De acordo com a EPA/USA (nt.: Environmental Protection Agency/Agência de Proteção Ambiental dos USA), as fontes primevas da geração de dioxinas são os incineradores de lixo hospitalar e doméstico, além de queimas desregradas. Fontes adicionais incluem processos industriais que empregam cloro para fabricar produtos de consumo como a resina plástica PVC (polivinil cloreto), agrotóxicos e fábricas de celulose que utilizam cloro para branquear a polpa para o processo de produção de papel branco.
    * (nt.: arma química,teria sido a alternativa química à bomba atômica empregada para o término da guerra no Japão. Após a guerra, passa a ser utilizada como herbicida – um de seus nomes comerciais era Tordon. No Vietnam de herbicida retorna à origem, ser arma de guerra).
    **(nt.: vazamento ou utilização de óleos contaminados com produtos clorados, na década de setenta. As cidades tiveram que ser evacuadas e “desintoxicadas”).
    P. Sabemos se a dioxina está presente em nossos corpos? Como teria chegado lá?
    R. De acordo com a EPA, o nível médio de dioxina encontrada na população em geral norte-americana, está num nível, ou próximo, de já ser identificado como gerador de efeitos adversos em termos de saúde animal e mesmo humana. A EPA dá esta interpretação para informar de que há uma pequena, ou nenhuma, “margem de exposição”, subentendendo-se daí que estamos perto “do ponto máximo” e que quaisquer exposições adicionais à dioxina podem resultar em efeitos danosos à saúde. Algumas pessoas já atingiram níveis, no limite orgânico, de tal forma que acima deste valor já passariam a sofrer efetivamente lesões em sua saúde física.
    A EPA determinou que 90% da dioxina que os norte-americanos estão expostos, provém do alimento que nós regularmente ingerimos como carne, laticínios e peixes. Os animais, tanto leiteiro como de engorde, absorvem a dioxina através do pasto ou alimentam–se com produtos que foram contaminados pela dioxina presente na atmosfera ou por aquela que se fixa sobre o solo e as plantas. Assim o animal absorve e acumula dioxina em seus músculos e órgãos que utilizamos como alimento. Acumula-se em nossos organismos quando comemos alimentos ricos em gorduras como carnes de gado e de peixe, além dos produtos lácteos.
    As dioxinas presentes na atmosfera podem ser levadas, através do vento, a longas distâncias de suas fontes de geração. Pesquisas demonstraram que a população que vive nas regiões do Ártico apresenta um dos mais altos níveis de dioxinas em seus corpos. Somam-se a ela outros poluentes persistentes mesmo que estejam a milhares de quilômetros das fontes mais intensas. Eventualmente, as dioxinas atmosféricas se assentam em regiões diversas quando se transformam no contaminante prioritário de nossos suprimentos alimentares. As dioxinas que são descarregadas ou chegam aos lençóis d’água, precipitam-se para o fundo onde se imiscuem com o sedimento.
    P. Como as dioxinas afetam nossa saúde?
    R. A exposição à dioxina pode levar a uma série de efeitos danosos à nossa saúde incluindo câncer, defeito de nascimento, diabetes, retardamento no desenvolvimento e na aprendizagem, endometriose e anormalidades no sistema imunológico.
    A dioxina é um conhecido carcinogênico. A IARC - International Agency for Research on Cancer/Agência Internacional de Pesquisas em Câncer -, uma das filiadas à Organização Mundial da Saúde, classificou-a, em 1977, como um notório carcinogênico humano. Em janeiro de 2001, o Department of Healthy and Human Services’ National Toxicology Program-USA/Programa Nacional de Toxicologia do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos USA classificou-a como carcinogênico humano. O mesmo também fez, em setembro de 2000, o Setor de Saúde da EPA. Neste seu documento, projeta um risco efetivo de câncer de um para cem, para a maioria das pessoas sensíveis que utilizam uma dieta rica em gorduras animais. Em outras palavras, o risco de se ter câncer, acima ou além dos riscos de outras fontes, é de um para cem para algumas pessoas. Este é um cenário profundamente dramático. Isto em relação às pessoas mais sensíveis, em torno de cinco por cento da população que consome dioxina. Para um cidadão médio a EPA estima um nível de risco de um para mil o que é também é um sério risco. O nível geral que considera como “aceitável” é de um para um milhão.
    A dioxina causa também uma série de efeitos negativos além do câncer. Estão entre eles, os danos aos sistemas reprodutivo, imunológico, endócrino e ao desenvolvimento tanto de humanos como de outros animais. Estudos em animais mostraram que exposições à dioxina estão associadas com a endometriose, à diminuição da fertilidade, inabilidade de levar a gestação a termo, abaixamento nos níveis de testosterona, decréscimo na contagem de espermatozóides, defeitos de nascimento e inabilidade na aprendizagem. Em crianças, a exposição à dioxina poderá gerar déficit em seus QI’s, efeitos negativos sobre a psicomotricidade e ao neurodesenvolvimento além de alterações comportamentais incluindo-se a hiperatividade. Pesquisas feitas com trabalhadores foram detectados baixos níveis de testosterona, diminuição no tamanho dos testículos e defeitos de nascimento nas proles dos veteranos norte-americanos do Vietnam expostos ao Agente Laranja.
    Efeitos sobre o sistema imunológico parecem ser um dos tópicos finais mais sensíveis pesquisados. Estudos com animais mostraram que há um decréscimo nas respostas imunológicas e o incremento na suscetibilidade a doenças infecciosas. Em estudos com humanos a dioxina estava associada com a depressão do sistema imunológico e alterações no status imunológico favorecendo ao crescimento de infecções. A dioxina também causa disfunções nas atividades normais dos hormônios, mensageiros químicos que o organismo se utiliza para crescer e manter o equilíbrio orgânico. A dioxina interfere com os níveis dos hormônios da tireóide tanto em crianças como em adultos, alterando a tolerância à glicose e está sendo associada à diabetes.
    P. Como o governo está regulamentando a dioxina?
    R. Apesar das alarmantes informações a respeito dos perigos da dioxina, o Chlorine Chemistry Council/Conselho das Indústrias Químicas do Cloro desfecharam um ataque para aniquilar quaisquer esforços para eliminar a dioxina ou adotar o princípio da precaução. Um dos principais alvos da indústria química foi o trabalho da EPA, chamado “Exposure and Human Health Reassessment of 2,3,7,8-Tetrachlorodibenzo-p-Dioxin (TCDD) and Related Compounds/Reavaliação sobre exposição e saúde humana à 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD) e substâncias correlatas”, que identifica as fontes e os efeitos danosos à saúde e exposição à dioxina. A EPA desenvolveu esta pesquisa durante os últimos vinte anos. Liberou sua minuta final em 2000 e o relatório final esperava-se que tivesse sido liberado em 2001. Infelizmente a EPA continua omitindo o prazo derradeiro e esquiva-se em liberá-lo. Assim que este relatório for liberado a EPA começará a desenvolver políticas adequadas para limitar a quantidade de dioxina liberada em no ambiente. A indústria química não quer a publicação deste documento (chamado normalmente como “Reavaliação da Dioxina”) por temor de que isto vá implicá-los numa maior crise em relação à saúde pública.
    A EPA estabeleceu algum critério para controlar a quantidade de dioxina que está sendo liberada na atmosfera com os seus “Padrões de Controle Máximos Constatáveis”. Já determinaram os padrões para duas fontes primárias de dioxinas, incineradores de lixos hospitalares e de resíduos sólidos urbanos. O real sucesso, no entanto, na redução das quantidades de dioxinas liberadas no ambiente vem do fechamento ou bloqueio de incineradores de lixos hospitalares e urbanos existentes, através dos esforços empreendidos pelas comunidades locais em todo o país. Agrega-se a isto o movimento feito por ativistas de base que lutaram e venceram, em muitas localidades, com programas para separar e reduzir os volumes de lixos que continham substâncias cloradas, tais como os com PVC, além de clamarem por alternativas tecnológicas para a disposição dos resíduos. É fundamental que continuemos na luta para eliminar a emissão industrial de dioxinas e não só a regulamentação e controle de sua liberação.
    Soma-se a isto, a Convenção de Estocolomo quanto aos Poluentes Orgânicos Persistentes (os POP’s) que é uma negociação internacional que tem o objetivo de eliminar as doze substâncias químicas extremamente perigosas entre elas as dioxinas e os furanos. A Convenção foi assinada em maio de 2001 e terá validade depois de ser ratificada por 50 (cinqüenta) países. Mesmo a administração Bush tendo firmado a Convenção de Estocolmo em maio de 2001, os USA ainda não ratificaram o tratado.
    P. Quem está trabalhando para eliminar as dioxinas e como posso cooperar?
    R. O Center for Health,Environment and Justice (CHEJ)/Centro para Saúde, Ambiente e Justiça, coordena a Alliance for Safe Alternatives/Aliança para Alternativas Seguras uma campanha nacional para eliminar as substâncias químicas tóxicas tais como a dioxina. Esta campanha é levada por mais de 500 (quinhentos) grupos, incluindo produtores rurais, grupos de justiça ambiental, grupos religiosos, defensores da saúde pública, veteranos da guerra do Vietnam,cientistas e líderes comunitários, todos trabalhando para excluir as substâncias persistentes do ar, do solo, da água e do alimento. Sabendo que o governo dos USA não está fazendo o bastante na regulamentação efetiva para proteger nossas comunidades destes químicos perigosos, o foco primário da campanha é trabalhar para que tanto no nível federal como local haja legislação e esforço político que extirpem tanto substâncias persistentes tipo dioxinas como suas fontes. Alternativas seguras aos processos produtivos e aos produtos comerciais que geram dioxinas existem. E estão disponíveis e podem ter custos mínimos, gerando enormes benefícios em relação à saúde pública. Os parceiros desta campanha também estão trabalhando para paralisar, bloquear ou limpar totalmente as fontes industriais destas substâncias químicas danosas.
    Para saber a respeito dos efeitos da dioxina sobre a saúde, desta campanha nacional ou mesmo o que se pode fazer para se envolver, contatar o CHEJ no fone 703-237-2249 ou pelo dioxin@chej.org, ou visitando o web site – http://www.vhej.org/.
    Texto preparado pelo Center for Health,Environment and Justice.
    Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, agosto de 2003, revisada em março de 2005

  5. Arnaldo Inácio do Carmo disse:

    Nosso mundo e o nosso Brasil , não mais precisa produzir energia eletrica, com base nas mega hidrelétricas, no carvão, óleo, gás natural ou urânio. Hoje, já dispomos do projeto de uma termoelétrica plenamente limpa, que visa o atendimento de todo o mundo, onde não precisamos de água para produção de vapor e com emissão zero de carbono. Esse projeto vem sendo apresentado a todos os empresários produtores de energia elétrica e ao governo brasileiro, bem como, a todos os demais governantes de todo o mundo.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.