Pesquisas científicas me fazem rir!

Tenho problemas com generalizações. Fato.

O primeiro caso público foi aquele famigerado estudo da professora Luisa Lobo, que dizia que todos os blogs femininos eram diários. Veja bem. O meu problema com isso é com o “todos”, não com o “femininos”, menos ainda com o “diários”. O caso terminou na rádio CBN, onde Tania Morales, entre outras coisas, me fez falar – indignada – sobre a entrevista da semana anterior, que tinha sido com a professora. Saiba mais aqui.

O segundo caso é recentíssimo. A generalista da vez é a jornalista, mestre em mídias pela London School of Economics com o trabalho Ethics versus the need to sell or the Tabloidization of the British press, que eu traduzo como “Ética versus a necessidade de vender ou A tabloidização da imprensa britânica”.

Atualmente diretora da sucursal da revista Época no Rio de Janeiro, a jornalista acaba de afirmar que “O besteirol na ciência é melhor que no Senado” – isso, obviamente, analisando quatro pesquisas científicas e citando alguns indicados para o prêmio IgNobel – não sem se sentir penalizada pelo mau uso das estatísticas.

Difícil mesmo é tentar contrariar as conclusões da nossa generalista: “Ler sobre pesquisas científicas de universidades respeitadas é uma receita certa para dar risada”. Não consegui mesmo chorar frente às novas descobertas sobre o vírus HPV – e a produção da vacina para homens e mulheres. Também não consegui chorar frente aos estudos sobre células-tronco, e as possíveis esperanças que isso traz para milhares de portadores de distrofia muscular. Não consegui chorar frente aos avanços com os estudos sobre bioenergia, nem sobre a que diz respeito ao levantamento da biota brasileira

Diga-se de passagem, também não consigo chorar quando meu computador funciona, nem quando a internet me permite pesquisar e escrever. Não choro quando alguém me oferece comida aquecida no microndas, nem quando posso acessar um acervo incrível de obras raras à distância de um clique. Não choro se posso visitar museus on line, não choro quando vou de carro flex para o trabalho, nem quando o ar condicionado do trem está ligado quando o calor lá fora é imenso.

Enfim… difícil mesmo é não dar risada e agradecer como a vida é boa com tanta pesquisa científica de qualidade! 

Pena, que – sem contrariar as estatísticas – nem toda produção é sensacional, e em algumas situações, os investimentos não dão retorno. Funciona mais ou menos como pagar salário para um jornalista, que, vez ou outra, escreve um besteirol em cadeia nacional.

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[UPDATE] 

Leia mais sobre esse assunto no SBb:

Brontossauros em meu Jardim – Cara Ruth de Aquino,

100nexos – “Mas isso eu já sabia”

Rainha Vermelha – Ciência e o óbvio

Geófagos – É muito fácil ser um jornalista frívolo

n-Dimensional – Nunca é tarde para uma autocrítica

Ecce medicus – Conselho de Darwin para Ruth

Psicológico – Sobre pesquisa em psicologia

RNAm – Analisando a polêmica “palhaçada científica” de Ruth

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Discussão - 10 comentários

  1. jorge disse:

    torço para q invertidas como essa q vc deu na Ruth de Aquino, potencializadas pela internet, ajude na 'descagaçao de regra' de alguns muitos cobra-criadas do jornalismo brazuca. Jo Soares adora dar esse tipo de zoada gratuita tb, mas ele ainda tem a desculpa de ser humorista. E nao é só com a ciencia, mas tambem meio ambiente, musica, artes em geral, e outros. Sao apenas bobos-da-corte, reverberando boçalidades q compartilham em presunçosos petit-committes. Rapidamente ficam anacronicos e irrelevantes.

  2. E eu torço pra que mais gente use essa ferramenta que tanto gostamos - os blogs - para não deixar esses "fenômenos da opinião" passarem em branco...

  3. Carlos Hotta disse:

    A Ruth de Aquino definitivamente não pensou muito na hora de escrever... tentou ser engraçada e acabou falando besteira!

  4. Gostaria de dar pra isso o nome de "prazo". Prefiro pensar que ela TINHA que escrever alguma coisa, não sabia o quê, pensou, pensou e saiu aquilo... Mas isso é só o que eu gostaria que fosse.

  5. L. Felipe B disse:

    Tiro no pé! talvez confundam a reação da blogosfera brasileira
    como autoproteção, mas acredito que seja mais um tipo de surpresa, pessoas que teoricamente teriam algo a acrescentar, com estudo, e que são diretamente benefeciadas pela mesma ciencia que repudiam...
    abração Paula, primeiro comentario no seu blogue! e primeiro no science blgos brazil 😉
    layout ta bonito...

  6. Acho que só confunde reação com autoproteção quem ainda não percebeu que estamos discutindo o assunto na esfera profissional - não é nada pessoal.
    Um comentário daqueles não pode ser lido e esquecido.
    Quando lemos criticamente - e deixamos de nos expressarde alguma maneira - assumimos um caráter passional de consentimento e condescendência incompatíveis com nossa posição de divulgadores de Ciência. Por isso temos que responder, sim!
    Seja bem vindo ao ScienceBlogs Brasil!

  7. Li e reli o comentário da senhora (provavelmente senhorita) Ruth e cheguei a uma conclusão: Ela não aceitou o convite para ser madrinha do ScienceBlogs Brazil. hehehe

  8. O jornalismo, na maioria das vezes, é o local da tagalerice, do falatório. As rotinas produtivas - dentre elas a velocidade - força-os a produzir opinião como se fossem prestidigitaroes, tirando idéias da cartola.
    O tempo das idéias no jornalismo é fundamentalmente diferente do tempo das idéias na ciência. A Ruth caiu nesse buraco.
    Ah! Não falem mal do bobo da corte. Ele é uma das figuras intelectualmente mais instigantes da comédia dell´arte.

  9. Paula,
    Só agora, depois de tomar conhecimento do assunto por nosso fórum e ler o post do Osame, foi que li seu post. EXCELENTE! Não há nada mais a ser dito, pelo menos não a uma pessoa minimamente inteligente. Interessante que a dita jornalista tenha defendido uma dissertação sobre a mercantilização da mídia britânica. Há duas opções possíveis: ou ela não entendeu bem o assunto do próprio trabalho ou entendeu bem demais e resolveu utilizar as mesmas estratégias da mídia de má qualidade. Acho que fico com a segunda. Ela deveria ler seu post.

  10. Ela merece fazer parte da população afetada pela crise.....

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