Mulheres na Ciência 7 – Sophie Germain

Sophie_Germain.jpgSophie Germain nasceu alguns anos antes da Revolução Francesa e, mesmo sem participar ativamente dos acontecimentos políticos da época, provocou sua própria revolução: uma revolução feminina que trouxe significativos avanços na Matemática e na Física.

Aos 13 anos e confinada em casa pelos pais, que temiam por sua segurança no ano da Queda da Bastilha, Sophie aventurou-se na biblioteca do pai, então diretor do Banco da França.
Na biblioteca, conheceu a história de Arquimedes. Conta-se que Arquimedes, um então velhinho morador de Siracusa, estava na praia imerso em pensamentos e rascunhos de algum problema na areia. Soldados romanos (que deveriam protegê-lo!) invadiram a praia e um deles deu-lhe ordens. Como estava desenhando seus raciocínios na areia, Arquimedes não obedeceu e então o soldado o matou.

Sophie Germain ficou impressionadíssima. Afinal, como poderia um homem ignorar ordens de um soldado por estar perdido em pensamentos? No mínimo, o objeto de estudo de Arquimedes deveria ser interessantíssimo e então, Sophie iniciou seus estudos seguindo no inspirador: a Matemática.
Obviamente, os pais de Sophie achavam inapropriado para uma mulher estudar (afinal, que homem se casaria com ela?) e tentaram persuadi-la a abandonar os estudos. Mas, como uma boa adolescente, Sophie contrariou os pais e começou a estudar a noite, escondida. Conformados de que a matemática era seu talento, os pais de Sophie incentivaram-na por toda sua vida.

Com 18 anos, no ano de 1794, foi fundada em Paris a Ecole Polytechnique, que pretendia “treinar matemáticos e cientistas para a nação”. Obviamente, mulheres não eram aceitas. E, como sempre, Sophie buscou uma maneira de estudar. Descobriu que um estudante chamado Le Blanc tinha abandonado seus estudos e resolveu interceptar sua correspondência. A partir de então, com o pseudônimo de Le Blanc, Sophie pode trocar correspondências com outros estudantes e iniciar seu estudo na Ecole Polytechnique.
Joseph Louis Lagrange, grande matemático da época, notou a rápida evolução de Le Blanc, que passou de um medíocre aluno a um aluno excepcional em pouco tempo. Quis então marcar uma reunião com o aluno, e descobriu os planos de Sophie. Lagrange tornou-se a partir de então, mentor, tutor e confidente de Sophie.

Em 1804, Sophie começou a se corresponder um excepcional matemático alemão, chamado Carl Friedrich Gauss, ainda usando o pseudônimo de Le Blanc, com medo de ser recusada por ser mulher. Gauss e Le Blanc trocaram muitas cartas, até Sophie saber que Napoleão pretendia invadir a Prussia. Sophie pediu a um general amigo da família que resgatasse Gauss antes da invasão. Gauss ficou imensamente feliz e quis saber quem era seu salvador.
Foi então que conheceu Sophie e descobriu que ela era Le Blanc, com quem ele se correspondia.Gauss escreveu (não vou traduzir, não vai ficar tão bom):

But how to describe to you my admiration and astonishment at seeing my
esteemed correspondent Monsieur Le Blanc metamorphose himself into this illustrious personage who gives such a brilliant example of what I would find it difficult to believe. A taste for the abstract sciences in general and above all the mysteries of numbers is excessively rare:
one is not astonished at it: the enchanting charms of this sublime science reveal only to those who have the courage to go deeply into it.
But when a person of the sex which, according to our customs and prejudices, must encounter infinitely more difficulties than men to familiarize herself with these thorny researches, succeeds nevertheless in surmounting these obstacles and penetrating the most obscure parts of them, then without doubt she must have the noblest courage, quite extraordinary talents and superior genius. Indeed nothing could prove to me in so flattering and less equivocal manner that the attractions of this science, which has enriched my life with so many joys, are not chimerical, [than] the predilection with which you have honored it.

Sophie Germain contribuiu para o desenvolvimento de uma prova para a Teorema de Fermat usando números primos; descobriu, entre outras coisas, que, se p é um número primo, então 2p + 1 também é primo; trabalhou também na teoria da elasticidade.

Sophie Germain foi a primeira mulher a ser aceita da Academia de Ciências de Paris.
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Dica:
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Saiba mais:
Biographies of Women Mathematicians
Wikipedia

The Rogues Gallery

Discussão - 13 comentários

  1. Daniela Lima disse:

    Bem, Sophie Germain me fez sentir a pedrinha que ficou grudada no chiclete que colou no sapato dela.

  2. A intenção é que ela sirva de inspiração! Imagina se 10% dos alunos adolescentes se inspirassem nessa história e se dedicassem a estudar matemática, línguas, ciências, artes?
    Não seria fantástico?

  3. pecus disse:

    A história é ótima. Eu chutaria que o Gauss tenha escrito originalmente em francês, a língua das elites da época.

  4. Não tenho ideia, Pecus! Até onde eu procurei, não achei nenhum documento pela internet. Mas acho que é um bom chute.

  5. Paula, tenho acompanhado e gostado muito de sua série sobre mulheres na Ciência. Gostaria de sugerir o nome da agrônoma tcheca naturalizada brasileira Johanna Döbereiner, estudiosa da fixação biológica de nitrogênio em plantas agrícolas, principalmente soja e cana de açúcar. Os plantios de soja no Brasil deixam de utilizar milhões de dólares em fertilizantes nitrogenados hoje em grande parte devido a suas pesquisas. Chegou a ser indicada pelo governo brasileiro a candidata ao Prêmio Nobel da Paz.

  6. Pô, Ítalo!
    Mas assim você já contou tudo! hahahahaha
    Vou pesquisar mais sobre ela sim! Achei interessantíssimo! Aliás, se você tiver outros nomes femininos relevantes na sua área (ou em outra que você também se interesse), me mande que eu pretendo manter essa série por um bom tempo!
    Paula

  7. Daniela Lima disse:

    Oii!! Sobre Johanna Döbereiner,existe um livro, não sei se vc já viu chamado Cientistas do Brasil e nele tem um capítulo dedicado a Johanna Döbereiner, o livro possui inclusive depoimentos dos cientistas nele citados.
    Grandes nomes do nosso país que ninguém nem ouviu falar
    Cientistas do Brasil-depoimentos
    Edição comemorativa dos 50 anos da SBPC

  8. Poxa Daniela!!! Sensacional!
    E, você nem vai acreditar! Fui procurar na biblioteca do maridão e ele tem o livro!!!! E tem muitas outras mulheres de quem vai ser muito legal escrever nos próximos "Mulheres na Ciência"!
    Muito, muito, muito obrigada pela dica!

  9. maria disse:

    linda história! inspiradora mesmo.

  10. Renato disse:

    Estou conhecendo essa grande matemática agora...
    Bom, sugiro uma correção no texto. Não sei qual o teorema sobre os números primos que ela provou, mas o texto afirma que se p é primo, então 2p+1 também é primo, mas isso não é verdade. Podemos ver isso com um simples exemplo: 13.
    13 é primo, mas 2x13+1 é 27, que não é primo, pois pode ser dividido por 3 e por 9.
    Gostei do texto.

  11. Exatamente, Renato. Mais tarde esse teorema foi re-estudado e observou-se que 2p+1 (no caso de p ser primo) não era verdade sempre!

  12. tatiane disse:

    eu praticamente nem sei q ela era e nem o q falar sobre ela pq tenhu um trabalho e tenhu q resumi coisas sobre ela

  13. tatiane disse:

    e dificil mas tenhu q faze pq ela nao iria disistir agora nesse momento

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