Você vende carbono, mas eu posso não querer comprar.

Ah… as relações de compra e venda…

Vai lá o cidadão, trabalha, se esforça, bota um produto no mercado e nada de alguém querer comprar. Sei lá, pode ser o preço, pode ser a qualidade, pode ser que ele seja feio e de mau gosto e só você não notou, pode ser só que a hora de vender não era adequada pro produto (tipo tentar vender bronzeador em dia de chuva, sabe?)… Mas a verdade cruel é que pode ser que ninguém esteja interessado naquele momento.

Isso aconteceu ontem.

A BM&F (Bolsa de Valores Mercadorias e Futuros) realizou ontem, dia 8 de abril de 2010, o primeiro leilão de créditos de carbono voltados ao mercado voluntário (os outros dois leilões organizados pela BM&F foram do Aterro Bandeirantes e do Aterro São João, ambos do mercado regulado e ambos foram arrematados). 

Foram postas para leilão 180.000 unidades de redução de emissão verificadas de gases do efeito estufa, divididos em três lotes de 60.000 unidades cada. Uma unidade de redução vale 1.000 toneladas de carbono equivalente (Ceq), e tinham como preços iniciais de R$ 10,00 a R$ 12,00 a unidade, variando conforme o período em que foram gerados os créditos. Ou seja, para um lote de 180.000 mil unidades, esperava-se um faturamento mínimo de 1,8 milhões de reais.

Resumindo:

1 unidade = 1000 toneladas de Ceq = R$ 10,00 (no mínimo)

180.000 unidades = 1,8 x 10ˆ8 toneladas em Ceq = R$ 1,8 milhões (no mínimo)

Mas…

Nada foi arrematado.

Os créditos (validados pela UNFCCC) eram de titularidade e administrados pela Carbono Social Serviços Ambientais e referiam-se a redução de emissões gerados a partir da troca de combustíveis fósseis por biomassa renovável (bagaço de cana-de-açúcar, caroço de açaí, casca de arroz, entre outras) em fábricas de porcelana localizados em São Paulo (Panorama, Paulicéia), Pará (São Miguel do Guamá), Pernambuco (Lajeado, Paudalho), Sergipe (Itabaiana), Minas Gerais (Ituiutaba) e Rio de Janeiro (Itaboraí).

Isso me lembrou muitíssimo a reunião de ontem na FIESP, onde se propôs a constituição de uma comissão para definir normas para um mercado de carbono tupiniquim. Saiba aqui.

Discussão - 7 comentários

  1. Sibele disse:

    Parece que o pessoal prefere investir em sólidos, e não em gasosos...
    Só fiquei com uma dúvida, Paula: vc mencionou que a reunião ocorrida na Fiesp para uma proposta de constituição de uma comissão para definir normas para um mercado brasileiro de carbono foi ontem, e esse fiasco no leilão de créditos de carbono na BM&F também foi ontem, ou seja, os dois eventos no mesmo dia.
    A BM&F então estava realizando um leilão de um produto que ainda não tem normas no mercado nacional? Mesmo que esses créditos sejam validados pela UNFCCC e com titularidade e administração por uma razão social (a Carbono Social Serviços Ambientais), justamente por serem dirigidos ao mercado voluntário, não seriam passíveis de normalização?

  2. A reunião da FIESP foi um dia antes do leilão. De fato, no Brasil não temos normas para a realização de comércio de carbono, mas há normas internacionais - e elas que normatizaram esse leilão específico. Isso significa que a BM&F estava amparada em normatizações, porém elas não eram tupiniquins.
    Os créditos só podem ser comercializados (no mercado voluntário ou no mercado regulado) se estiverem validados pela UNFCCC - quanto a isso, nenhuma norma de mercado (internacional ou tupiniquim) faz regulação.
    A pergunta que não quer calar agora é: há alguma relação do fiasco do leilão com a falta de uma normatização tupiniquim ou, mesmo que ela venha a existir em alguns meses os créditos de carbono brasileiro, por algum motivo que não se explicar, não "interessam" ao mercado voluntário?

  3. Bem, no mercado interno não há interesse, já q não há metas de redução para o Brasil.
    Tem que ver se no mercado externo foi bem divulgado e se o preço era atrativo. Isso porque, com a crise mundial, a produção dos demais países (com exceção da China e Índia - q também não têm metas de redução) caiu muito. Então, de um lado nem há tanta pressão para o cumprimento da meta, nem há tanto dinheiro em circulação para comprar os CC.
    []s,
    Roberto Takata

  4. Rafael Tadeu disse:

    Foi pros ares ..kkk
    Esse povo inventa cada forma de ganhar grana com a natureza.
    Recomendo a Leitura do livro A natureza da globalizaçao ou a globalizacao da natureza ...

  5. Raul disse:

    Concordo com o terceiro comentário e soma-se a isso o modelo do mercado brasileiro, avesso a riscos e a pouca informação que o brasileiro, em geral, possui sobre o mercado. O medo de investir.

  6. Aline disse:

    Li esses dias a matéria na página22... e vi o seu blog, acho que vale a pena vc dar uma conferida!
    A pergunta da vez é como reduzir emissões sem prejudicar as pessoas e a economia. Conheça as três propostas principais: cap-and-trade, cap-and-dividend e imposto sobre carbono
    http://pagina22.com.br/index.php/2010/05/tudo-tem-limite-2/
    Abraço,
    Aline

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