Parques flamejantes de inverno
A cada ano que passa, basta chegar o inverno, que os noticiários já exibem as perdas devido a seca e os consequentes incêndios ocasionados pela irresponsabilidade humana aliada à baixa umidade do ar.
Durante esta estação do ano, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil são as mais castigadas pelas doenças respiratórias e queimadas ocasionadas pela seca. Chove pouco neste período e vai ser nesta época que aquele seu vizinho que adora atear fogo em mato seco vai fazer seu ritual anual. E ele acha que tem controle sobre o fogo que ateia, mas na verdade, não tem.
No ano passado, relatei em outro blog, um dos mais tristes “incidentes” ambientais brasileiros devido à seca, o incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra, que abriga nada mais nada menos que a Nascente do Rio São Francisco. Sim, aquele que nasce no sul de Minas e deságua no mar lá em Sergipe.
O Parque Nacional da Serra da Canastra tem aproximadamente 71. 525 hectares e engloba parte do território de 3 municípios: Sacramento, São Roque de Minas e Delfinópolis no sudoeste da minha querida Minas Gerais. O parque está localizado predominantemente no Bioma Cerrado e como tal, além da nascente do Velho Chico abriga diversas espécies de animais selvagens como:
O Veado-Campeiro, vulnerável à extinção:
O Pato-Mergulhão, em perigo crítico de extinção, dentre outras importantes espécies da fauna brasileira. Sem contar a riqueza da flora regional, que compõe uma linda paisagem muito requisitada por turistas.
Falemos então, da vegetação daquela região.
O Cerrado apresenta duas estações do ano bem definidas: o inverno seco e o verão chuvoso. Na região do parque, na ocasião do incêndio, não chovia há quase dois meses e isto facilitou muito a dispersão dos focos de incêndio.
Então no dia 26 de Agosto de 2010 surgiram os primeiros focos de incêndio no parque, e já no dia 31 mais de 40% da reserva já havia sido tomada pelo fogo. O laudo da perícia concluiu que o incêndio foi criminoso e que foram encontradas pegadas humanas formando uma trilha entre a área de origem de um dos focos e a floresta ao norte do parque.
Desde a sua criação, a Serra da Canastra sofre com a ação de fazendeiros que desejam ver a reserva fora de questão. No ano de 2006, ocorreu o maior incêndio criminoso já enfrentado pelo parque, no qual foram queimados 40.000 hectares, o que corresponde a mais da metade da unidade de conservação.
Se você pensa que atear fogo propositalmente é demais para seu coração, não tenha dúvidas de que os fazendeiros dificultam também o reflorestamento da região, como constatei na minha visita ao parque juntamente com a Paula, no ano passado. Muitas vezes são movidos pela ignorância e falta de informação, sem mencionar a ganância por ocupar imensas áreas de floresta nativa com pastagens para o gado.
E se você acha que impedir o reflorestamento de áreas degradadas também é demais para o seu coração, saiba que no inverno de 2010, 21 incêndios invadiram áreas de conservação e todos eles são suspeitos de ação criminosa. Desses 21 parques flamejantes, 13 ainda queimavam, depois de um mês da descoberta do primeiro foco.
Estou aqui hoje, basicamente para informar sobre a importância destes parques, não só para a fauna e flora, mas para a população dessas regiões, que tem seu ganha pão no turismo ecológico e nas pessoas que apreciam uma natureza diversa como a que possuímos em nosso país. Também aproveito a oportunidade para chamar a nossa responsabilidade à tona, para que não tenhamos mais surpresas desagradáveis neste inverno.
Então, se você não deseja ver nossas belezas em grayscale, aí vão algumas algumas dicas:
- Evite jogar bitucas de cigarro acesas na pista. Com o tempo seco, elas podem não se apagar e este fogo pode resultar no que temos presenciado todos os dias na TV.
- Se você está aproveitando o calor para acampar na mata, evite acender fogueiras e se você acende, faça isto em locais permitidos, e ao deixar o local, certifique-se de que ela está totalmente apagada.
- Não solte balões.
- Não solte fogos de artifício em matas.
- Não coloque fogo em terrenos baldios, você pode perder o controle das chamas e elas podem chegar até a sua residência.
Discussão - 2 comentários
Pois é, esses dias pegou fogo num ninhal do pantanal e ontem descobri que um incêndio se alastrou pela região onde coleto dados para o meu doutorado. Faz dez dias que estou com uma tosse que não passa. Mas tudo bem, vamos continuar nos enganando que o ambiente depende de nossa espécie, e não o contrário. Quem sabe uma mentira repetida o suficiente não se torna verdade?
Acabei de ver a notícia de mais um parque em chamas em Minas Gerais.
Mais de 40 horas de incêndio incontrolável.
=(