Falimos como sociedade?

Cena 1

17:30. Onibus lotado. A chuva faz as pessoas que estão sentadas fecharem as janelas. Calor, calor, calor, misturados com a umidade de fora. O motorista para em um ponto, duas pessoas descem, vinte e cinco sobem. Assim que as duas pessoas descem, o motorista fecha as portas de descida. Eu, na minha inocência mais do que infantil, xingo a mãe do motorista três vezes. Porra, velho! Não podia deixar a porta aberta pra dar uma ventilada? Saímos do ponto. No ponto seguinte, parece que Deus ouviu as minhas preces e o motorista deixa as portar traseiras aberta. Cinco pessoas sobem no ônibus sem pagar. Os erros? Ônibus lotado, caro e sem qualidade. Pessoas que se aproveitam de seus pequenos poderes e ligam de fato o foda-se para o mundo e fazem o que querem. Não há leis. Não há regras. Nada é respeitado.

Cena 2

Pessoas precisam de atenção, carinho, ajuda. Há milhares de maneiras de satisfazer as necessidades de atenção, mas cada pessoa é única e suas vontades para satisfazer seus desejos mais básicos é variável. Algumas buscam palavras. Fé. Escolhem um mestre para que sejam guiadas, para que acreditem que é possível ter esperança, ter uma vida melhor, ter salvação. Um mestre e guia com má índole traz mentiras fáceis, verdades dúbias. Traz ódio. Ódio contra o que é diferente dele. Ódio contra o que ele, o próprio guia teme. Até onde quem busca palavras é manipulado pelas palavras que ouve? Quem deve dar ao cidadão a capacidade de ser crítico e avaliar, duvidar até, do mestre que escolheu? Mudar de mestre? Mudar de fé? Deixar de ter esperança?

Cena 3

Estou cercada de pessoas que tiveram oportunidades de estudar. Algumas tomam Herbalife. Algumas tomam remédios para hipotireoidismo. Márcio Atalla, na CBN, traz o dado de que remédios para hipotireoidismo estão sendo vendidos a rodo. Por que? Porque se alguém toma remédios para hipotireoidismo sem ter a doença aumenta seu metabolismo. Resultado imediato? Perda de peso. E a saúde? Quem?

falencias

Discussão - 5 comentários

  1. Marcelo disse:

    Eu sempre tento manter uma visão otimista para responder essa questão, mas depois de ler o texto http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-incompreensao-do-brasil-sobre-si-mesmo?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter e ler o seu texto, pego-me a desejar a falência.

  2. André Souza disse:

    Acho que o grande mal é pensar que o mundo é preto ou branco, quando na verdade nem cinza é...O projeto sociedade já era inviável desde o princípio: foi criado inicialmente para nos proteger de predadores, depois de ausência de caça, velhice, outros grupos...Mas nunca foi pensado em proteger de nós mesmos...Fizeram uma gambiarra capenga, justificaram e vincularam com algo invisível,insípido que talvez só exista nas nossas mentes, e talvez se pareça com os nossos próprios medos. E esta mesma coisa insípida e invisível é a que vigia, pune e nos justifica a punir os "trangressores", enquanto nos "protege" destes últimos. O problema é que os transgressores pensam exatamente da mesma forma, só que diferente.
    "Humanismo" é uma ilusão, visto que agimos da mesma forma que "não-humanos" agiriam,se tivessem a oportunidade.

    A sociedade não faliu...Está caindo de podre

    Ps.:Toda vez que vejo a m do mundo e minha decepção com a humanidade, me lembro desta história (http://www.ceticismoaberto.com/ciencia/6199/os-trs-super-heris-de-chernobyl)...É o meu contraponto

    Ps2.: Desculpem a verborragia sem sentido

  3. Thanuci disse:

    Que bom te ver aqui! 😀

    Eu ia descrever aqui no meu comentário uma cena 4. Mas vou escrever um short post com ela. 🙂

  4. [...] Paula Signorini desabafou em seu blog Rastro de Carbono do ScienceBlogs Brasil  sua insatisfação (?), ou frustração (?), ou seu desejo de que o mundo à nossa volta possa funcionar melhor. É legítimo. Ano após ano após ano após ano após ano nos deparamos com redundâncias, repetições, continuidades de problemas que já deveriam ter sido resolvidos há muito tempo em São Paulo, no Brasil. O transporte coletivo é um deles. O principal problema das grandes cidades brasileiras, em competição com o saneamento básico (principalmente em bairros periféricos) e com o sistema de atendimento de saúde, além da segurança. A Cena 1 da postagem de Paula é de um filme angustiante para quem tem que andar de ônibus. Mas poderia ser de metrô no fim da tarde ou no início da manhã da capital paulista. Ou de trem. Ou de carro. [...]

  5. Nina Boutique disse:

    Excelente blog, parabéns.

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