O que aconteceria se os Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente se fundissem?

Sabe que tem gente que não merece ser mencionada, né? Porque colocar o nome das pessoas/empresas/instituições por aí é, de certa forma, fazer propaganda. E têm pessoas/empresas/instituições que merecem cair no esquecimento. Simples assim.

Mas… a gente não pode fazer de conta que não vê certos impropérios. Enfim.

Quem fez universidade, quem tem uma família, quem tem um relacionamento, quem tem um emprego, quem tem amigos (um, que seja!) sabe que equilíbrio é fundamental. É fundamental que uma balança tenha dois lados, se não, fica parcial. Se não, não se mede nada.

O que aconteceria se dois lados opostos de uma balança se fundissem? O que aconteceria com os projetos de preservação do meio ambiente, conservação de espécies ameaçadas de extinção, reestruturação de áreas degradadas, reflorestamentos, manejo de vida aquática, gerenciamentos de sistemas de água, gerenciamentos de resíduos sólidos de todas as naturezas, entre outros se fundissem com interesses comerciais de exploração de recursos da terra e da água para produção agrícola e pecuária? Com interesses econômicos apenas?

Veja, não há vencedores e isso não é uma partida de futebol. Não é interessante discutir se isso ou aquilo é mais importante/relevante SE não existir uma situação de equilíbrio. Porque, me parece óbvio que para um lado, é sempre melhor e mais interessante e mais relevante ter mais áreas de preservação, mais corredores ecológicos, mais reflorestamento, mais espécies saindo da lista das ameaçadas de extinção. Para outro, é óbvio que é sempre melhor ter mais áreas de pasto, mais áreas de cultivos agrícolas, mas áreas de exploração de recursos naturais para viabilizar projetos que vão trazer lucros para o país. O que significa que, o melhor dos dois mundos seria manter aquele empate técnico saudável.

Enfim… parece uma discussão de país de terceiro mundo que ainda não conseguiu passar da fase primária da economia (ow, wait!). Quando ainda estivermos na discussão do agro é pop fica difícil ultrapassar a barreira da economia primária. Da exploração de recursos. Da extração pura e simples de matéria-prima (mesmo que isso signifique commodities). Quando eu era criança e queria ser cientista, eu achava (achava mesmo, de verdade) que em alguns anos, talvez quando eu estivesse com a idade que eu estou agora, o Brasil estaria na fase de exportar tecnologia, sabe? Porque temos potencial. Porque temos cérebros para isso. E temos dinheiro! Mas… estava completamente equivocada. Tipo… os Jetsons ainda não chegaram!

Acontece que a briga tem aliados fortes e sem escrúpulos. A bancada ruralista defende, por exemplo, o fim dos licenciamentos ambientais. Outros loucos sugerem a fusão dos dois pratos da balança (Agricultura e Meio Ambiente). Os licenciamentos ambientais, talvez não sejam conhecidos de todos, então explico – meio superficialmente porque, na realidade é um trabalho extremamente complexo: os licenciamentos ambientais significaram, desde a sua implementação com a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente em 1981 um super avanço na legislação brasileira em relação ao meio ambiente. Antes dela, não havia nenhum impedimento, nenhuma fiscalização, nenhuma regulamentação sobre a construção de obras de qualquer natureza – não se sabia que tipo de prejuízos o meio ambiente poderia sofrer, no local da obra ou em suas imediações. Não se sabia porque não se estudava nem o ambiente antes da construção, nem o ambiente depois da construção. Não tínhamos ideia se, por exemplo, uma ferrovia ia matar um corredor ecológico importante para migração de certa espécie ou se o barulho das máquinas ia impedir certas espécies de se acasalar, por exemplo. Não sabíamos se um lago ou rio ia tornar-se completamente inadequado ou se ia deixar de existir caso construíssemos uma barragem para um reservatório de usina hidrelétrica. Não sabíamos N-A-D-A.

Também não sabíamos que tipos de prejuízos uma fazenda poderia trazer para um rio que passasse na propriedade se grandes quantidades de água fossem retiradas para irrigar as plantações. Como não havia regulamentação nenhuma, cada um explorava os recursos naturais pertencentes ao país como bem entendesse (sim, um rio que passa em uma propriedade rural é do país, assim como um lençol de água subterrâneo). Ninguém é dono de um rio, apesar de achar que é. Enfim… interessa muito (para pouca gente) que o Ministério do Meio Ambiente seja controlado pelo Ministério da Agricultura.

Lembre-se: isso não é um jogo de futebol. Não há vencedores. Sem equilíbrio não resta muita coisa. Nem Agricultura. Nem Jetsons, infelizmente.

P.S. Obrigada Clau! Obrigada Takata! Obrigada Eloi!jetsons

 

 

 

 

Discussão - 10 comentários

  1. Claudia disse:

    É muito retrocesso só de se cogitar essa possibilidade e muita cara-de-pau tb. Estamos sendo governados pelo que há de mais atrasado no mundo, precisamos de força pra lutar contra esses absurdos!

  2. Bruno Aquino disse:

    Desde de ontem 30/10/2018, quando se soube da intenção do novo governo de unir esses dois ministérios, eu estou indignado com tamanha cara de pau... mesmo antes de assumir o cara já esta pensando em fazer tamanha lambança... ai você pode esperar pelo que vem pela frente.

    temos que ter muito cuidado, e abrir os olhos.

  3. Francisco disse:

    Eu amei o texto, fiquei indignado com esse ato de unificação dos dois ministérios! Vim ler sobre o assunto e agradeço por esse texto maravilhoso.

  4. Waldemir Amaro disse:

    Não acredito nessa tragédia toda. As politicas do meio ambiente continuarão, a unica mudança é que perderá o status de Ministério.

  5. Stefanye disse:

    Nossa, eu entrei aqui pra ver a explicação. Para saber o porquê do povo não estar gostando dessa ideia do Bolsonaro. Gente! Que absurdo! Não dá pra acreditar numa coisa dessaa

  6. Roberto disse:

    Paula,

    Compartilhei sua reflexão no Facebook.
    Preocupação atual se encontrando com o agora.

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