Comentando: Pesquisa mostra o câncer como doença gerenciável dentro de dez anos

RAFAEL GARCIA
da Folha de S. Paulo

Dentro de dez a quinze anos, provavelmente ainda não haverá algo que possa ser chamado de uma cura para todos os tipos de câncer, mas esta será uma doença “administrável”. É a opinião do oncologista Júri Gelovani, do Centro M.D. Anderson de pesquisa contra o câncer, da Universidade do Texas.
“Provavelmente, no futuro, nós converteremos o câncer em uma doença que poderemos detectar cedo e que possamos administrar, da mesma forma que administramos hipertensão, diabetes e epilepsia”, disse Gelovani à Folha. “Deixaria de ser uma doença que chamarmos de ‘grave’ para se tornar gerenciável.”
Devo concordar com o doutor Júri Gelovani. Curar parece impossível, mas administrar sim é um objetivo que me parece muito bom e mais factível.
Porque a cura seria impossível? Primeiro que o câncer não é uma doença só, mas várias. Suas características dependem do tecido em que se inicia e das mutações que o geraram. Caímos aqui no fatídico clichê “cada caso é um caso” (e vice-versa, como algum piadista diria).

Mesmo assim isto torna a doença difícil mas não impossível de ser curada. O principal problema do câncer é que ele é uma falha em um mecanismo muito importante na vida de uma célula: o seu próprio ciclo de vida. O tratamento ou prevenção ideal para o câncer seria o envelhecimento precoce ou a morte, pois são nestes dois casos que as células não estão se duplicando. Mas enquanto houver reprodução celular, com replicação (duplicação) de DNA, haverá chance de erro (mutação), o que uma hora ou outra dentro de um organismo com milhares de milhões de células vai acontecer. Ou seja, se tudo der certo na sua vida, nenhum acidente ou ataque cardíaco, provavelmente haverá um câncer.

Mas não é tempo de desespero. É isso que o doutor da reportagem prevê e que em parte já é uma realidade. Não se pode dar 100% de certeza de cura para alguém, mas temos métodos diagnósticos e tratamentos que estão se desenvolvendo cada vez mais, o que permite tratamento eficaz nos primeiros momentos da manifestação de cada tumor. Quantas pessoas já tiveram câncer várias vezes e estão firmes por aí? A questão é tornar o tratamento mais leve, com menos efeitos colaterais e ação mais específica. Quem sabe então o câncer deixará de meter tanto medo.

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