A prepotente vergonha da medicina


Em conversa sobre uma palestra que havia acabado de ser proferida em meu laboratório, um dos médicos pesquisadores fez um comentário que me chamou muito a atenção. Ele falava de como alguns anos após uma cirurgia de safena (quando se retira uma veia da perna e a coloca no lugar de uma artéria entupida), a veia substituta oclui, ou seja, se fecha. “É vexativo quando após dez anos da operação da safena ela se fecha.”
Ouvir isto faz parecer que a medicina já esta num estágio tão avançado que pode se gabar de sentir vergonha por não conseguir algum resultado desejado.
Que medicina super-avançada é esta que precisa retirar uma veia do corpo do próprio paciente e colocá-la no local desejado. Bom, esse simplesmente é o caminho mais lógico, direto e óbvio para resolver o problema. Ou seja, nada muito sofisticado. E assim é a maioria dos tratamentos usados hoje em dia. Muitas bulas eu já li e li o seguinte em muitas: “o mecanismo de ação deste composto não está totalmente descrito”. Tomamos remédios no escuro? Em parte sim. Nestes casos sabemos que na maioria das pessoas não faz mal e resolve o problema. Então vamos usando, quando soubermos o mecanismo de funcionamento, ótimo, mas enquanto não fizer mal, continuemos tomando. E nada mais correto.
Mas vexativo? Vergonhoso? Vergonha de que? Vergonha de perder para a natureza? De se sentir incapaz perante a complexidade da fisiologia humana?
A medicina tem que se sofisticar muito ainda para poder começar a sentir vergonha de alguma coisa.

Um comentário em “A prepotente vergonha da medicina”

  1. Realmente, muitos mecanismos ainda são desconhecidos e isso ao invés de gerar vergonha deveria inspirar cientistas em novas pesquisas.
    Mesmo com estes fatores desconhecidos, ainda tomo remédios que irão me fazer bem e, claro, sempre escolho usar anestesia quando tenho a oportunidade em algum procedimento.
    No entanto, remédios psicoativos geram grande polêmica por não terem um mecanismo bem conhecido (assim como os transtornos que deveriam tratar), não terem alta eficácia e ainda são cheios de efeitos colaterais. Para mim estes remédios precisariam de muito mais pesquisa antes de serem distribuídos como o são hoje. :/

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