Robôs são naturais?

Robot_by_matmoon.jpg
Aquele robô movido pelo pensamento, noticiado no começo da semana, tem dado o que falar até hoje. Muitas pessoas têm discutido as possibilidades dessa tecnologia. E muita gente tem falado que “isto não é natural”. Ler pensamentos seria algo inaceitável por não ser algo da natureza humana.

Vamos então olhar o mundo “natural”. Temos castelos de cupins, represas de castores e até motéis de pássaros, cujos machos constroem e enfeitam ninhos gigantescos que só servem para acasalar, pois os ovos mesmo são chocados em um ninho funcional construído pela fêmea. Chocante, não? Mas são considerados naturais por terem sido feitos por animais.
Às vezes esquecemos da nossa própria natureza animal (que as vezes pode ser uma animosidade, mas nem sempre).

Tudo que estes animais, castores, pássaros e Homo sapiens, construímos não é por acaso, tem uma orientação biológica e cultural. E a cultura é natural. Os rituais e ferramentas que usamos são um aprimoramento de necessidades biológicas básicas. Dawkins pôs um nome nisso: Fenótipo Estendido. Fenótipo é a característica detectável de um organismo, como a forma, cor, fisiologia e também o comportamento. Se nossas ferramentas influenciam tanto o nosso comportamento, eles são parte de nosso fenótipo, ou seja, da característica natural de nossa espécie.

Facas e robôs: ferramentas que são partes de nós
Tenho fixação por facas. Nada psicótico, porque minha fixação é pela funcionalidade delas. Foram as primeiras ferramentas feitas pelo homem e as mais importantes com certeza. Mais do que a roda ou mesmo o controle do fogo. A humanidade sem facas seria completamente diferente. Seria outra espécie, provavelmente. A faca, portanto, é parte integrante da espécie Homo erectus, e foi transmitida aos Homo sapiens pela cultura: um meme (uma idéia que pode se propagar pela cultura, como um gene).
O arqueólogo Lembros Malafouris até mesmo cunhou o termo “mente extendida”(minha tradução), que trata as ferramentas como extensões da mente, assim como um cego é indissociável de seu bastão, e nossa memória está se fundindo ao google como uma muleta.

Ora, a muito que fugimos das savanas que nos criaram e migramos para cidades ou campos que nós próprios construímos. Viver em apartamentos com geladeira e acesso a internet é natural? É natural para nós, Homo sapiens do século 21. E é muito menos natural viver isolado no mato. Ler pensamentos é natural? Se conseguirmos tal façanha, será natural sim. Agora, se será vantajoso, isso é outra pergunta que só o tempo e a seleção responderão. Afinal, quantas “rodas quadradas” não devem ter sido feitas antes da redonda?

2 comentários em “Robôs são naturais?”

  1. Hmmm... Talvez caiba alguma discussão sobre qual foi a primeira ferramenta... Seria mesmo a faca (uma "cunha" melhorada) ou uma mera extensão do braço (uma "alavanca" rudimentar)?
    Bem... Seja ela qual for, o ponto central do post é sobre a aparente "sobrenaturalidade" da leitura de pensamentos. E aí eu lembro que existe toda uma "leitura" de linguagem corporal e de feromonas (eu tinha que lembrar disso: eu criei cães...) que também parece "sobrenatural". Embora a mente consciente não seja capaz de interpretar tais sinais, o inconsciente é perfeitamente capaz disso (o que leva muita gente a confundir isso com "intuições" e até com "telepatia"...)

  2. É isso mesmo. Usamos facas porque num determinado momento percebemos que pedras lascadas eram uteis para nossa sobrevivência, cortar alimentos, ou em lanças, aprendemos a adaptar a natureza (paus e pedras) para nossa sobrevivência.
    Repetimos o que deu certo e evitamos o que não deu. Rodas quadradas são um exemplo hehehe.
    Nossas ferramentas se tornaram cada vez mais complexas, aperfeiçoadas, e robôs assim como qualquer outra máquina como carros existem porque percebemos que rodas ajudam a deslocar coisas pesadas.
    Robôs ainda não são nossos escravos, só quando dotarmos-os com inteligência e eles puderem escolher e escolherem não obedecer, se o obrigarmos serão escravos.
    Robôs inteligentes podem não dar certo, e teremos que lidar com ética e moral, principalmente se eles decidirem procriar descontroladamente, evoluirem com resistência física e decidirem que somos uma ameaça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *