Criando diamantes à partir do DNA do seu bichinho de estimação… OU NÃO.

diamond.jpgUm post do Discoblog no site da Discover Magazine me chamou bastante atenção. O título pode ser traduzido em “Pensando em imortalizar seu animal de estimação? Agora você pode transformar o DNA dele em um diamante”. Li o post e, claro, entrei no site da tal empresa em seguida.

Uma empresa americana chamada DNA2Diamonds (algo como “Do DNA para Diamantes”) vende diamantes criados até à partir de um punhado de pêlos do seu animal de estimação. Você envia o material para a empresa, e em até 70 dias por valores entre 2000 e 18000 dólares eles te entregam um diamante que contém a “assinatura única do DNA do seu animalzinho” (palavras deles). Você pode inclusive escolher a cor do diamante, entre algumas opções. Continuei lendo e vi que a empresa diz também fabricar diamantes exclusivos à partir do DNA proveniente de restos de cremação… opa, peraí, DNA de restos de cremação?!

Logo me dei conta que estava diante de mais um capítulo da série “Como ganhar muito dinheiro pervertendo conceitos científicos”. Vamos a mais um tema que poderia muito bem estar no Mythbusters pela quantidade de informações erradas que são dadas para o público!


Allotropes_of_Carbon1.pngO que são diamantes?

O diamante é um mineral formado exclusivamente por carbono em um arranjo molecular altamente específico, como pode ser observado na figura ao lado (a), onde podemos ver também como o carbono se arranja para formar a grafite (b). Esse arranjo é resultado de condições extremas de pressão e temperatura de modo que a grande maioria das jazidas é formada em profundidades entre 140 e 190km, no Manto Terrestre. Minerais que contenham carbono provém a “fonte” para o diamante crescer, o que ocorre entre períodos de 1 a 3.3 bilhões de anos, sendo trazidos próximos à superfície por erupções vulcânicas.

Os mais interessados em aprender sobre diamantes podem consultar os ótimos artigos que encontrei no HowStuffWorks (em português) e em páginas da Wikipedia (em Português ou Inglês).

Tá bom, mas, e daí?

Para começo de conversa, os diamantes que a empresa fabrica são diamantes sintéticos resultantes de um procedimento industrial chamado HPHT (“high-pressure/high-temperature”, ou seja, alta-pressão/alta temperatura). Existem várias empresas ao redor do mundo que vendem a mesma idéia, e esses diamantes são chamados “diamantes memoriais”.

O que a empresa promete: extrair o carbono do DNA dos pêlos do animal ou das cinzas de restos mortais de qualquer ente querido (seja o vira-lata Estopa, o hamster Mickey, ou mesmo o Francisco, aquele seu tio chato) e com o carbono desse material criar um diamante “com a assinatura única do DNA”. O problema? Isso é impossível.

Essa história do carbono do DNA…

É nessa parte que eu me pego contra essa empresa… Os “diamantes memoriais” são muito bem conhecidos e não há segredo em se fabricar um desde que a GE (General Eletric) conseguiu um meio viável de realizar o processo em escala industrial. Mas vender a idéia que se preparam diamantes com o carbono do DNA dos restos mortais foi longe demais, como explicarei a seguir.

Amorphous_Carbon.png

Quando você pega restos mortais para tal finalidade o primeiro passo é sempre o mesmo: carbonizar, ou seja, transformar todo material em cinzas, nada mais que carbono em sua forma amorfa (ao lado) com traços de outros elementos químicos.

A partir do momento em que você fez isso não há possibilidade ALGUMA de separar o “carbono do DNA” como anunciado pela empresa. Sim, você terá carbono proveniente de DNA, mas ao mesmo tempo haverá todo o carbono que compunha as proteínas, lipídeos, carboidratos, sais, enfim, todo composto que contenha carbono da amostra biológica em questão. Se eu quiser ser BEM chato, posso até falar que você terá carbono proveniente dos restos intestinais do seu bichinho (mas isso seria muito amargo da minha parte)…

diamonds-old-people.jpg

Merchandising à parte a empresa pioneira nesse tipo de comércio, a também americana LifeGem, é mais honesta. Lá eles dizerm criar os diamantes à partir da massa de carbono proveniente dos restos mortais, o que, nas situações descritas aqui, é a única coisa que se pode afirmar corretamente sobre este procedimento.


E então, agora que os furos científicos dessa história foram devidamente remendados, o que vocês acham desses “diamantes memoriais”?

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