E a Biologia Molecular manda mais um cruzado de direita nos criacionistas…

Depois de alguns textos abordando assuntos variados como experimentação animal, e-mails falsos atacando a Monsanto, “assombrações” neurológicas, revistas científicas, como conseguir mais sexo, gripe suína e até ZUMBIS, resolvi começar a semana voltando à minha área de trabalho e falar um pouco sobre Biologia Molecular.

ResearchBlogging.orgA “complexidade irredutível”, um dos argumentos preferidos dos criacionistas para explicar “a vida como ela é” acaba de ter outro de seus exemplos desmantelado por um artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Foi muito legal também ver que o autor principal desse estudo é Trevor Lithgow, que tive o prazer de conhecer numa conferência da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (a famosa e inflada SBBq) de 2007.

Antes de mais nada, o que é Complexidade Irredutível?
Componentes celulares intrincados são comumente citados como evidências do design inteligente. Os proponentes dessa idéia dizem que esses componentes complexos não podem poderiam ser fruto do processo evolutivo, por não poderem ser separados em partes menores e funcionais. O fato de serem complexos de modo irredutível é a base para se propor que eles tenham sido “desenhados” intencionalmente por uma entidade inteligente. Então tá, e eu sou o Batman.

O artigo da PNAS compara as mitocôndrias e suas parentes bacterianas, demonstrando que as partes necessárias para um maquinário celular particular já estavam presentes antes de qualquer mitocôndria existir. Foi simplesmente uma questão de tempo até que essas partes se combinassem de modo mais complexa.

mitochondria.gif

“Prazer, Mitocôndria”

Mitocôndrias são organelas celulares descendentes de bactérias que milhões de anos atrás foram “incorporadas” por células mais complexas. Isso foi proposto por Lynn Margulis, criadora da Teoria da Endossimbiose. Em pouco tempo essas bactérias incorporadas se tornaram personagens centrais para as funções celulares.

joces11616cvf.gifSó existe um porém: essas pré-mitocôndrias não poderiam ter sobrevivido em seu novo “lar” sem um maquinário protéico chamado TIM23 (um complexo enzimático da membrana interna da mitocôndria que pode ser visualizado em amarelo, na imagem ao lado) que realiza o transporte de proteínas para dentro das mitocôndrias. As bactérias ancestrais não possuem o complexo TIM23, o que sugere que tenham sido desenvolvidas já nas mitocôndrias, tempos depois.

Isso traz à tona uma pergunta do tipo “Quem veio primeiro, ovo ou galinha?”: como poderia o transporte de proteínas ter evoluído quando as proteínas eram necessárias para a sobrevivência, no primeiro caso?!

De acordo com a teoria evolucionista, no entanto, a complexidade celular É SIM redutível. É necessário somente que os componentes existentes sejam recondicionados, com mutações inevitáveis promovendo ingredientes extras à medida em que são necessários. Os flagelos, propulsores similares a cabelos usados por bactérias para locomoção, são outro exemplo. Seus componentes são encontrados por toda a célula realizando outras tarefas.

O design inteligente já utilizou flagelos como evidência de sua teoria, assumindo que o mesmo seria uma estrutura irredutível, o que foi posto por terra de acordo com fatos científicos, como pode ser lido nesse artigo da revista New Scientist. Esse estudo utilizando mitocôndrias faz o mesmo em relação ao transporte de proteínas.

“Essa análise de transporte de proteínas nos fornece uma marca para a evolução de maquinários celulares em geral,” escreve a equipe liderada por Trevor Lithgow. “A complexidade dessas máquinas não é irredutível.”

Quando analisaram os genomas de proteobactérias, a família que deu origem aos ancestrais das mitocôndrias, a equipe de Lithgow encontrou duas das partes protéicas utilizadas pelas mitocôndrias para fazer o complexo TIM23.

As partes estão na membrana celular bacteriana, localizadas de modo ideal para o eventual papel de transporte protéico feito pelo complexo TIM23. Apenas outra parte, uma molécula chamada LivH, poderia fazer um maquinário de transporte protéico rudimentar – e (surpresa!) essa molécula é comumente encontrada em proteobactérias.

O processo pelo qual partes são acumuladas até que estejam preparas para se juntarem num complexo é chamado pré-adaptação. É uma forma de “evolução neutra”, na qual a construção das partes não fornece nenhuma vantagem ou desvantagem imediata. A evolução neutra encontra-se fora das descrições de Darwin. Mas quando as partes são juntas, mutações e a seleção natural podem se encarregar do restante do processo, resultando, em último caso, no agora complexo TIM23.

“Não era possível, até hoje, traçar qualquer uma dessas proteínas até seu ancestral bacteriano,” diz o biologista celular Michael Gray, um dos pesquisadores que originalmente descreveu as origens das mitocôndrias. “Essas três proteínas não possuíam exatamente a mesma função nas proteobactérias, mas com uma simples mutação puderam se transformar numa máquina de transporte de proteínas simples, que pode dar início a tudo.”

“Você olha para maquinários celulares e diz, porque a Biologia faria algo assim?! É muito bizarro,” ele diz. “Mas quando você pensa sobre o assunto à luz dos processos de evolução neutra, em que essas máquinas emergem antes que sejam necessárias, elas fazem sentido.”

É, minha gente, tem coisa mais bonita que a Biologia?

intelligentdesign.jpg

Prá finalizar, minha opinião sobre design inteligente…

Texto adaptado de “More ‘Evidence’ of Intelligent Design Shot Down by Science”, escrito por Brandon Klein e publicado na Wired Science.

Imagens: Journal of Cell Science, Blog The atheist, polyamorous, geek

Clements, A., Bursac, D., Gatsos, X., Perry, A., Civciristov, S., Celik, N., Likic, V., Poggio, S., Jacobs-Wagner, C., Strugnell, R., & Lithgow, T. (2009). The reducible complexity of a mitochondrial molecular machine Proceedings of the National Academy of Sciences DOI: 10.1073/pnas.0908264106

30 comentários em “E a Biologia Molecular manda mais um cruzado de direita nos criacionistas…”

  1. Otimo artigo, para quem não sabe muito de Biologia, como eu, deu para extrair muita coisa e , suponho, para quem entende, deve ter sido um grande aprendizado ler este texto.
    Sobre a pergunta da galinha... bem como os processos da evolução ocorrem progressivamente nos "individuos vivos", quem veio primeiro foi a galinha, pois a "pré-galinha" teria, por algum motivo de adaptação, mudado sua forma, digamos, para sobreviver, e, só posteriormente, teria passado essa nova forma aos seus descedentes, o ovo... é mais ou menos assim não é??

  2. sou ignorante no tema e tenho uma pergunta: como a mitocondria, a principio um ser diferente, conseguiu incutir seu dna nas gametas de seu hospedeiro, passando a serem autosuficientes na sua propagação?

  3. "Quem veio primeiro, ovo ou galinha?"
    O ovo, pois os repteis já o utilizavam mto antes do surgimento das aves =D

  4. r.
    As mitocôndrias não precisaram incluir seu DNA no genoma das células que as absorveram, elas possuem um DNA circular (como o das bactérias!), que foi sendo reduzido ao longo do tempo. O genoma mitocondrial humano é de aproximadamente 16 kb (1 kb = mil bases), e conta com 37 genes, responsáveis por produzir as moléculas encarregadas das funções mitocondriais.
    Mais um fato bastante interessante: as mitocôndrias se dividem de modo similar às bactérias, realizando uma fissão binária. A novidade é que uma mitocôndria pode fundir-se à outra mitocôndria. A regulação da divisão ocorre de modo diferente em cada organismo, mas, geralmente, sua divisão está sincronizada com o ciclo celular, ou seja, quando a célula entra em divisão, em dado momento, as mitocôndrias se dividem, e cada célula nova fica com metade do número total de mitocôndrias que houver ao final da multiplicação mitocondrial.
    Mais alguma dúvida? Espero ter ajudado!
    Abraço, e obrigado por acessar o blog!

  5. Paaaarem as ligações, nós temos um vencedor!
    Isso aí Max, o OVO é muito mais antigo que a galinha! Aliás, aqui temos um detalhe semântico bastante importante: em Biologia, precisamos determinar exatamente de qual "ovo" estamos falando, afinal, a célula que se forma após a fusão do núcleo do óvulo com o núcleo do espermatozóide, é denominada como zigoto ou OVO.
    Mas eu nem quis fazer essa pegadinha aqui, eu estava mesmo me referindo à estrutura que determina um ovo "genérico".
    E, pensando nisso, já temos ovos desde os peixes, que são ancestrais das aves, e, um ovo ainda mais próximo do visto nas aves, com casca e tudo, já existia como estrutura biológica desde os répteis!
    Parabéns pelo acerto, e obrigado por acessar o blog!

  6. entendi, gabriel, mas em parte.
    pelo que entendo, todas as nossas células (do corpo humano) possuem mitocôndrias, certo? minha pergunta é: se a mitocôndria eventualmente foi, há milhões de anos, um organismo a parte do qual ele veio a hospedar, 1. como a mitocôndria se incutiu no dna do hospedeiro, para a partir dali não precisar se hospedar novamente, mas nascer junto com as próximas gerações?; e 2. está implícito que após isso, nossos gametas contêm todas as instruções não só para criar mitocôndrias, como para gerar o dna específico de cada uma.
    ou seja, a parte que eu não vislumbro: temos hoje todos os indícios fortes para concluir que a mitocondria foi um organismo a parte do hospedeiro em algum momento do passado, mas qual foi o processo para ela conseguir se autoconter nos gametas do hospedeiro a partir dali?
    imagino que isso deva ter levado muito tempo, claro, e me levanta outras perguntas:
    - quais outros casos de organismos que 'entraram' no dna do outro, a ponto de passarem a nascer fazendo parte da 'hospedagem'?
    se não me engano, li poucos anos atrás sobre uma bactéria que vive dentro de cupins e que cientistas estavam notando que a cada geração a bacteria vinha com menos genes, que estavam sendo 'absorvidos' pelos dos cupins...
    mas posso estar me confundindo e me desculpa o vocabulário de ignorante.

  7. Gabriel, eu não ficaria tão feliz assim, esse paper parece ser um tiro no pé. Por várias razões:
    1. O paper se refere explicitamente ao DI tanto na introdução como na conclusão, e mesmo no título, como motivação para realizar a pesquisa. Isso implica que o DI, ao questionar o evolucionismo, gera novas pesquisas, ou seja, mesmo estando errado ele é frutífero em termos científicos e faz a ciência avançar.
    2. Dois artigos sobre o DI são citados na introdução, reconhecendo que o DI faz parte da literatura científica.
    3. O paper refuta uma proposta do DI, mostrando que o DI faz predições refutáveis e portanto satisfaz o critério demarcatório de Popper de ser falseável.
    4. Na discussão e conclusão, ao considerar os argumentos do DI, os autores acabam por reconhecer que o DI é um interlocutor científico válido. As mesmas evidências do paper poderiam ser usadas contra o Criacionismo de Terra Jovem ou contra a Mitologia Chinesa de criação do mundo, mas seria totalmente despropositado discutir isso no paper.
    5. Que o DI tenha sido considerado como hipótese alternativa válida ao Darwinismo na conclusão (usando-se uma citação do próprio Darwin), e que portanto merece consideração dos cientistas, apenas eleva o status do DI.
    Você não acha que seria melhor simplesmente relatar os resultados usando um título mais neutro na forma "The evolution of a mitochondrial molecular machine" em vez de "The reducible complexity of a mitochondrial molecular machine", que chama atenção para o DI como um interlocutor cientifico válido?

  8. Muito bom. É só mais uma evidência de que o DI se torna tão insustentável quanto o criacionismo que, de certa forma, o originou.
    Outro mecanismo evolutivo interessante, além da pré-adaptação (por neutralidade, logo não sofre pressão seletiva), é a exaptação: uma estrutura evolui mediante certas pressões seletivas e é "aproveitada" para outras funções quando essas pressões mudam. O termo foi proposto por Gould e Vrba no início da década de 1980 (salvo engano). É uma das explicação para o surgimento dos membros dos tetrápodes.
    A exaptação pode explicar boa parte das estruturas complexas que o DI diz ser irredutível. Pense nisso.
    Saudações,

  9. Vamos às respostas pro r.
    "como a mitocôndria se incutiu no dna do hospedeiro, para a partir dali não precisar se hospedar novamente, mas nascer junto com as próximas gerações?"
    Lembra da minha resposta anterior? As mitocôndrias se dividem por fissão binária dentro das células. Essa divisão ocorre de modo diferente em cada organismo, mas geralmente está sincronizada com o ciclo celular, ou seja, quando uma célula entra em divisão, suas mitocôndrias também se dividem, e cada célula-filha fica com metade.
    O DNA das mitocondrias não precisa ser incorporado pela célula que a absorveu. O que aconteceu foi o seguinte: como sua "existência" ficou restrita à função energética nas células, seu material genético pôde ser reduzido aos genes responsáveis por essa função, e por permitir sua multiplicação dentro da "célula hospedeira".
    Outro caso clássico de organismos "absorvidos" por células mais complexas é o dos cloroplastos, que possibilitam a realização da fotossíntese. Aliás, eles entram na mesma Teoria da Endossimbiose que eu falei no texto original.
    Espero ter ajudado. E, se eu falei alguma besteira, por favor, me corrijam!

  10. Não tô satisfeito com essa explicação. Ainda acho que o processo pode ser mais reduzido ainda, a um nível até agora inimaginável. Mas isto não explica a imbecilidade humana, como, por exemplo, alguém achar que Lula não é uma ameba sem carater.

  11. Olá Osame!
    Antes de qualquer coisa, peço desculpas por demorar em te responder aqui. Estava finalizando minha tese de mestrado, e acabei ficando meio atrapalhado.
    Eu concordo com você em vários pontos. Não acho que deveria haver essa inversão do ônus da prova, como você mesmo disse. Quem sempre esteve devendo em termos de provas e explicações científicas foram os "teóricos" do criacionismo, que nunca provaram nada.
    Também sou contrário ao uso do design inteligente numa discussão científica como uma alternativa a qualquer hipótese que tenha sido testada, afinal, ele não foi.
    Mas, mesmo assim, ainda acredito que o trabalho tenha sido bastante válido. Não gostei do jeito que foi escrito também, mas para mim o grande mérito do trabalho foi demolir mais um dos "mitos" que os criacionistas tanto tentam categorizar como demonstrações de uma arquitetura desenhada por um "ser superior", como já haviam feito com a questão dos flagelos, que os criacionistas também adoravam, e tiveram que largar mão.
    Eu teria escrito o artigo de modo BEM diferente, mas não tiro o mérito do conhecimento adquirido por sua leitura. Concordo com você que uma das piores coisas que se pode fazer é entrar no joguinho dos criacionistas (invertendo o ônus da prova, por exemplo), dando voz aos mesmos, ainda que seja para provar que eles estão errados...
    ...ou, como eu falaria numa mesa de bar: "não bato palma prá maluco".
    Apesar disso, penso no seguinte: os criacionistas NÃO SÃO cientistas e, mesmo os que possam ser (há vários, eu sei), nunca vi algum sair da teoria, e se dispôr a colocar suas hipóteses à prova.
    Analisando esse lado da situação, até eu me sinto disposto a inverter o ônus da prova, e começar a publicar em série vários artigos dedicados somente à criação de literatura científica dizendo, especificamente, todos os pontos em que o criacionismo e o design inteligente já foram postos por terra.
    Abraço!

  12. Não acho que essa descoberta tenha nocauteado o di(aka criacionismo ou burricionismo)ele já foi nocauteado várias vezes em dezenas de artigos e só sobrevive por que tem gente que acha que uma mentira repetida à exaustão se tornará uma verdade só que na ciência isso não cola!

  13. grande texto, muito informativo. me formo em biologia esse ano, e é sempre bom ler coisas inteligentes, pricipalmente se essas leituras me ajudam a defender as teorias cientificas em que acredito.

  14. Qua, qua, qua!
    Não tiveram coragem de postar meu comentário!
    Bando de covardes mentirosos e parcialistas!

  15. D.R.
    De que comentário você está falando? O sistema do ScienceBlogs é famoso por "comer" comentários de vez em quando (comigo não tinha acontecido até hoje), me mande seu comentário de novo, ou por e-mail (na área "Contato" tem), que o publicarei aqui.
    Nós publicamos todos os comentários que recebemos, se duvidar, veja os posts sobre bicarbonato de sódio, que deixamos rolar até o momento em que baixaram de vez o nível, apelando para xingamentos e palavrões (que descaracterizam uma discussão racional).
    Aguardo seu contato, e obrigado por acessar o blog!

  16. Se o Enézio Almeida fez uma postagem eu seu blog "Desafiando a Nomenklatura Científica" questionando de maneira contundente (como ele diz) o artigo publicado no PNAS, por que ele não traduz seus argumentos em inglês e envia para a revista? Afinal de contas, a postagem dos argumentos do Enézio em seu blog derruba por terra os argumentos apresentados no artigo do PNAS segundo ele próprio, o Enézio. Mas seria bom que ele expusesse os argumentos apresentados em seu blog para serem analisados pelos autores do artigo do PNAS e outros.
    cordialmente,
    Roberto Berlinck

  17. Gabriel, o Dr. Roberto Berlinck me desafia expor os argumentos apresentados no meu blog ao PNAS para análise pelos autores e outros.
    Realmente o PNAS tem uma política assim: We wish to provide readers with an opportunity to constructively address a difference of opinion with authors of recent papers. Readers are encouraged to point out potential flaws or discrepancies or to comment on exceptional studies published in the journal. Replication and refutation are cornerstones of scientific progress, and we welcome your comments.”
    Berlinck sabe que quem deveria fazer isso é o Michael Behe. E ele fez:
    To the editor:
    Reducible versus irreducible systems and Darwinian versus non-Darwinian processes
    The recent paper by Clements et al (1) illustrates the need for more care to avoid non sequiturs in evolutionary narratives. The authors intend to show that Darwinian processes can account for a reducibly complex molecular machine. Yet, even if successful, that would not show that such processes could account for irreducibly complex machines, which Clements et al (1) cite as the chief difficulty for Darwinism raised by intelligent design proponents like myself. Irreducibly complex molecular systems, such as the bacterial flagellum or intracellular transport system, plainly cannot sustain their primary function if a critical mechanical part is removed. (2-4) Like a mousetrap without a spring, they would be broken. Here the authors first postulate (they do not demonstrate) an amino acid transporter that fortuitously also transports proteins inefficiently. (1) They subsequently attempt to show how the efficiency might be improved. A scenario for increasing the efficiency of a pre-existing, reducible function, however, says little about developing a novel, irreducible function.
    Even as evidence for the applicability of Darwinian processes just to reducibly complex molecular machines, the data are greatly overinterpreted. A Darwinian pathway is not merely one that proceeds by “numerous, successive, slight modifications” (1) but, crucially, one where mutations are random with respect to any goal, including the future development of the organism. If some mutations arise non-randomly, the process is simply not Darwinian. Yet the authors say nothing about random mutation. Their chief data are sequence similarities between bacterial and mitochondrial proteins. However, the presumably homologous proteins have different functions, and bind non-homologous proteins. What is the likelihood that, say, a Tim44-like precursor would forsake its complex of bacterial proteins to join a complex of other proteins? Is such an event reasonably likely or prohibitively improbable? Clements et al (1) do not provide even crude estimates, let alone rigorous calculations or experiments, and thus provide no support for a formally Darwinian process. Their only relevant data in this regard is their demonstration that a singly-mutated bacterial TimB can substitute for Tim14 in mitochondrial transport. While that is certainly an interesting result, rescuing a pre-existing, functioning system in the laboratory is not at all the same thing as building a novel system step-by-random-step in nature.
    Biologists have long been wary of attempts to fill in our lack of knowledge of the history of life with imaginative reconstructions that go far beyond the evidence. As I have discussed (5), extensive laboratory evolution studies over decades offer little support for the plausibility of such felicitous scenarios as Clements et al (1) propose. The authors may well be overlooking formidable difficulties that nature itself would encounter.
    References
    1. Clements A, et al. (2009) The reducible complexity of a mitochondrial molecular machine. Proc Natl Acad Sci USA doi/10.1073/pnas.0908264106.
    2. Behe, MJ (1996) Darwin's Black Box :The Biochemical Challenge to Evolution (Free Press, New York).
    3. Behe MJ (2000) Self-organization and irreducibly complex systems: A reply to Shanks and Joplin. Phil Sci 67:155-162.
    4. Behe MJ (2001) Reply to my critics: A response to reviews of Darwin's Black Box: the biochemical challenge to evolution. Biol Phil 16:685-709.
    5. Behe, MJ (2007) The Edge of Evolution: the Search for the Limits of Darwinism (Free Press, New York).
    Fonte: http://www.evolutionnews.org/2009/09/reducible_versus_irreducible_s.html#more
    Vamos ver se o PNAS publica. Eu duvido. Nem o Behe tem esta esperança.
    Apesar de nossas visões extremas sobre a evolução, um abraço fraterno.

  18. Gabriel, eu não tenho por costume postar comentários em blogs sobre a controvérsia científica evolução e design inteligente. Somente quando sou citado nominalmente é que respondo.
    Hamilton (Varela, UFSCar?), o que fica demonstrado neste caso do PNAS é que quando os teóricos e proponentes da Teoria do Design Inteligente têm seus trabalhos criticados nas publicações científicas, os editores não abrem espaço para nossas réplicas. O nome disso é CENSURA. E ainda dizem que a TDI impede o avanço da ciência...

  19. Excelente.
    Entretanto, não acho o termo "pré-adaptação" um bom termo.
    A "exaptação" de Gould expressa a mesma ideia, de uma forma elegante.
    Dada toda a erudição de Gould, ele devia estar sabendo o que fazia quando cunhou este termo.
    Adaptação é o resultado da seleção natural. Por isso que o termo "pré-adaptação" é ruim, porque essas proteínas, embora certamente tenham sofrido seleção natural, não sofreram pressão seletiva no momento da exaptação.
    Não fui claro mas para bom entendedor me pa ba.

  20. Tadinho do Enézio... parece um eremita defendendo o indefensável. Até os sociólogos sabem que Design Inteligente não tem nenhuma sustentação científica. Leiam:
    "Behe teve de admitir que não havia uma única publicação revista por pares em ciência que apoiasse sua visão sobre sistemas biológicos irredutivelmente complexos que não pudessem ser possivelmente explicados pela evolução. Behe admitiu em sua "Réplica a Meus Críticos" que apontar para um sistema irredutivelmente complexo (onde uma parte faltante causaria o colapso do funcionamento do sistema) não era o mesmo que evidenciar que tal complexidade irredutível não pudesse emergir através da seleção natural. Na biologia evolutiva o conceito de exaptação é largamente usado para explicar a evolução de uma característica biológica que sirva uma função num ponto da evolução e muda para outra função depois devido a mudanças no sistema em questão.
    (...)
    Para piorar, Behe tinha descrito (1) o flagelo bacteriano, (2) a cascata de coagulação e (3) o sistema imunológico como três sistemas irredutivelmente complexos. Porém, Kenneth Miller, professor de biologia da Universidade Brown e especialista em biologia celular, mostrou evidências sólidas no julgamento [de Dover] de que foi mostrado em pesquisa científica revista por pares que cada um desses sistemas não eram irredutivelmente complexos."
    Foster, Clark & York. Critique of Intelligent Design. Monthly Review Press, 2008. Página 15. (Livro acadêmico revisto por pares.)

  21. Muuuito alto o nível... agora concordo com o Osame que é perda de tempo tentar derrubar o DI com argumentos científicos! O DI inventou a demagogia científica. Não passa de uma tentativa bastante frustrada de enrolar incrédulos ignorantes (cientificamente) com jargões incompreensíveis mas com a mesma idéia estúpida de sempre contando que precisamos explicar o complexo com absolutísmos infantís. Deixemos os pobres crentes falando sozinhos. Infelizmente não é possível atualizar a BIOS dos seres humanos.

  22. Muito bom o texto...só que esqueceram de explicar o básico para quem não é biólogo: Pra que servem as mitocôndrias ?

  23. uau.. Somos o reflexo de uma união coesa e organizada de milhares de organismos simples trabalhando em conjunto para mútua sobrevivência..
    Porque será que não conseguimos continuar a evolução e continuar nos organizando com os organismos a nossa volta?
    Gostaria de que os humanos fossem tão simples de explicar assim.

  24. Sobre o que veio primeiro: o ovo ou a galinha. Foi o ovo, porque os répteis botavam ovo.
    Quanto ao Criacionismo, a bíblia está certa quando disse que antes não havia o verbo, mas apenas o substantivo e, como a liguagem é inata no ser humano, nos golfinhos e nas baleias, o elo perdido tão procurado com o macaco nunca existiu. Há, isso sim, elo perdido com os botos, que eram os aborígenes nhugassus.
    O RESTO É CONVERSA MOLE PARA GANHAR DINHEIRO COM A IGNORÂNCIA DO POVÃO!!!!!

  25. "[...] acaba de ter mais um de seus principais exemplos de sustentação desmantelado por um artigo que saiu semana passada no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)."
    Qual "principal exemplo de sustentação" é esse que você cita?
    Desculpe-me, mas nunca li sobre esse tal exemplo. Estou interessado 😉

  26. "Só existe um porém: essas pré-mitocôndrias não poderiam ter sobrevivido em seu novo "lar" sem um maquinário protéico chamado TIM23 que realiza o transporte de proteínas para dentro das mitocôndrias. As bactérias ancestrais não possuem o complexo TIM23, o que sugere que tenham sido desenvolvidas já nas mitocôndrias, tempos depois."
    Ok, porém elas poderiam ter sobrevivido sem o complexo TOM?
    O artigo cita os "microsporidians" como usuários de um simplificado complexo TOM (mas não estamos falando das proteobactérias?).
    -------------
    "Quando analisaram os genomas de proteobactérias [...] a equipe de Lithgow encontrou duas das partes protéicas utilizadas pelas mitocôndrias para fazer o complexo TIM23.
    As partes estão na membrana celular bacteriana [...]Apenas outra parte, uma molécula chamada LivH, poderia fazer um maquinário de transporte protéico rudimentar [...]".
    Extraído do artigo original:
    "[...] These newly described proteins, TimA and TimB, function in distinct protein complexes in bacteria, yet envolve to serve as modules of a protein transport machine in mitochondria (Fig. 4). We suggest that the evolution of a protein transport pathway into mitochondria required only that the LivH amino acid transporter could accept polymers of amino acids (i.e., proteins); even if this were an inneficient process initially, it would be a starting point on which Darwinian selection could act."
    "Just-so stories", não prova que apenas a "molécula" LivH mais as "duas partes protéicas" é capaz de fazer um maquinário de transporte protéico rudimentar. Será que A + B = C? Não.
    "Essas três proteínas não possuíam exatamente a mesma função nas proteobactérias, mas com uma simples mutação puderam se transformar numa máquina de transporte de proteínas simples, que pode dar início a tudo."
    Afirma, mas não prova.

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