Na minha contribuição ao Blog Action Day vou abordar um tema ao mesmo tempo preocupante e interessante: o monitoramento de mudanças climáticas para a prevenção de surtos de doenças infecciosas.
Os autores do trabalho publicado no periódico Emerging Infectious Diseases (do famoso CDC – Centers for Diseases Control and Prevention, de Atlanta – EUA) comentam como eventos recentes demonstraram a vulnerabilidade de grandes populações a doenças infecciosas. Um único caso de multi resistência a tuberculose em 2007 nos EUA serviu de alerta para toda a infraestrutura de saúde pública global. Agentes de saúde e o público em geral perceberam que a facilidade de locomoção aérea atual pode, potencialmente, expor centenas de pessoas a doenças carentes de tratamento.
Apesar de fatores como: facilidade para viajar, aumento populacional, poluição, atividades agrárias (gripe suína, lembram dela?), entre outros, atualmente nada tem mais potencial para efeitos graves e de longo prazo do que a influência das mudanças climáticas em surtos infecciosos, epidemias, e, como estamos vivenciando com o vírus H1N1, pandemias.
O desastre natural mais frequente são as enchentes, que, de acordo com dados de 2005, afetavam mais de 70 milhões de pessoas ao redor do mundo. As doenças mais comuns associadas às enchentes são diarréia, cólera, tifo, hepatite e leptospirose. Na literatura existem relatos de surtos graves de cólera diretamente relacionados a enchentes na África e na Índia.
Para piorar, o relatório de 2001 do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) estima que o número de pessoas ao nível do mar atingidas por inundações e enchentes seja de aproximadamente 250 milhões até 2080, considerando uma elevação do nível do mar em 40 centímetros (a altura do seu joelho, mais ou menos).
A cólera, que possivelmente é a doença transmitida por água contaminada mais bem estudada, teve modelagens feitas pela NASA para prever surtos em Bangladesh, sendo que nas áreas monitoradas o número de mortes causadas por essa doença foi reduzido em mais de 50%. A imagem abaixo (desculpem a baixa qualidade, está assim no artigo também) mostra essa modelagem, e a eficiência do modelo de previsão (em amarelo) em relação ao que realmente aconteceu com os casos de cólera no tempo analisado (em verde).
A comunidade cientítica encontra-se num relativo consenso que os riscos de doenças epidêmicas e pandêmicas será bastante aumentado por mudanças climáticas que desestabilizam o comportamento regular do clima, alteram a distribuição de vetores dessas doenças (como mosquitos, roedores, e etc.), e aumentam o risco de transmissão por meios de transporte.
A elaboração de modelos preditivos pode levar a um maior entendimento da sequência de eventos em surtos infecciosos, e potencialmente prevenir futuras epidemias através da criação de ações de monitoramento, prevenção adequadas, junto a ações coordenadas de combate quando o processo de infecção encontra-se em seu início.
Com certeza o desenvolvimento de melhores técnicas de análise pode ter grande impacto em nos auxiliar a conter esses episódios num futuro próximo. Como já estamos vendo um grande exemplo dessas ações coordenadas no caso da gripe suína, vale à pena prestarmos atenção às novidades na área de modelagem climática associada a prevenção de doenças!
Quer ler mais textos relacionados ao Blog Action Day? Recomendo as contribuições dos blogs O Divã de Einstein, Ecodesenvolvimento (que fez um apanhado de textos muito bons de vários blogueiros), Rastro de Carbono (com a ótima ideia de um post multi direcionado), Gene Repórter, Uma Malla Pelo Mundo, Xis-xis e muitos outros na web, procurem e divulguem!
O Blog Action Day é um evento anual que reúne blogueiros de todo o mundo postando textos sobre o mesmo assunto, no mesmo dia. O objetivo é disseminar uma discussão mundial e simultânea sobre um tema de interesse coletivo, sendo o maior evento de mudança social na web. O tema desse ano, como vocês perceberam, é “Mudanças Climáticas”.
O lema da iniciativa é:
“Um dia. Um tema. Milhares de vozes.”
Quer conhecer mais sobre esse evento? Acesse a página do Blog Action Day clicando na imagem acima. Para acompanhar o Blog Action Day no Twitter, busque a hashtag #BAD09
Ford, T. (2009). Using Satellite Images of Environmental Changes to Predict Infectious Disease Outbreaks Emerging Infectious Diseases, 1341-1346 DOI: 10.3201/eid1509.081334
Ótimo texto!
"Com certeza o desenvolvimento de melhores técnicas de análise pode ter grande impacto em nos auxiliar a conter esses episódios num futuro próximo"
Uma dessas técnicas de análise, que acho das mais legais que já vi funcionar, é a de "estudos prospectivos estratégicos", que teve origem na Economia e ainda é relativamente nova, no sentido de aplicação, dentro dessa área, mas que na mesma já mostrou muito bem seu valor. Não consiste de um método de análise numérica com posterior modelagem computacional, mas de concepção de diversos cenários ideais e catastróficos hipotéticos dentro de um problema, que são igualmente levados em conta na composição de estratégias para a tomada de decisões. Até uns 5 anos atrás, por não ser um método que envolva "fazer contas", poucas pessoas fora da área de administração e economia consideravam essa metodologia válida para a análise de problemas ditos "das exatas". Tem um australiano, acho (já que são sempre eles...), que conseguiu mesclar um método de modelagem numérica com esse tipo de construção de cenários prospectivos e que conseguiu mostrar (segundo ele...), que se obteve previsões mais adequadas quanto aos efeitos de queimadas naturais no ambiente estudado.
Bom #BAD09 para vocês! Inté!
Tomadas as devidas proporções, porque as catátrofes climáticas se anunciam há décadas e somente agora nos chegam em avalanches, o mundo age como o Brasil. Em nossa terrinha sempre foi assim: primeiro as coisas precisam atingir níveis insuportáveis em nossas vidas em sociedade onde as malhas dos diversos sistemas interagem, ou os elos das correntes se entrelaçam, para se começar a pensar em providências. Quando vidas são sacrificadas e os sistemas entram num processo de total falência pelo descaso e abandono, vão-se para os tapa-buracos.
Evidentemente que a proporção catastrófica climática mundial é maior do que a capacidade humana em minimizar ou tentar obstar. Mas poderia ser pelo menos diferente por dois motivos: primeiro pelo ceticismo em relação às previsões de alguns cientistas, pois muitos alertas das ciências caíram no ridículo por não se confirmarem e assim houve o descrédito na sua totalidade. Segundo, pelo olvidamento das mensagens proféticas e religiosas sobre os acontecimentos catastróficos nesses tempos. As ciências nada conseguiram junto aos governos e muito menos a grande corrente cética dos cientistas e governantes jamais quis ouvir religiosos e esotéricos. Pronto, o melê está ai para quem desejar interpretar a sua inteira vontade.
Com relação à gripe suína, houve mais pólvora do que tiros. O México em mais ou menso vinte dias controlou a situação; o Brasil se arrastou e quando a atenção passou a se voltar para o sorteio das olimpíadas, a gripe suína também sentou-se na poltrona para assistir o sorteio pela TV.
E lembro que um especilista da área médica declarou que a maioria dos óbitos pela decorrência da invasão do virus H1N1 seria pela fragilidade do sistema orgânico de certas pessoas. Na sua grande maioria, tal como na gripe comum, o virus atacaria, provocaria alguma alteração, mas cumpriria seu ciclo sem nenhuma consequência grave. Não é que o moço estava certo!