RNAm no “I Foro Iberoamericano de Comunicación y Divulgación Científica” – Quantificando a Divulgação Científica.

Faz tempo que eu e o Rafael (ele muito antes, certamente) temos vontade de extrair informações sobre os nossos textos, em especial, sobre os comentários que aparecem em alguns deles.
Aliando esse pensamento ao fato de sermos dois nerds inveterados, nos enfiamos de cabeça em áreas de pesquisa dominadas pelas Ciências Humanas, as Análises de Discurso e de Conteúdo, e tentamos analisar alguns dos comentários presentes no texto que é o ‘carro-chefe’ do RNAm: Bicarbonato de sódio NÃO cura o câncer. Esse texto, publicado em 25 de Novembro de 2008, sempre rende muitos acessos diários, e já está ultrapassando a barreira dos 400 comentários.
Como resultado inicial, apresentamos para vocês o trabalho ‘Argumentação em blogs científicos: uma análise dos comentários’, que foi apresentado na primeira edição do Foro Iberoamericano de Comunicação e Divulgação Científica, que está sendo sediado pela UNICAMP entre os dias 23 e 25 de Novembro de 2009.
LogoForo.jpg
Deixo para vocês partes do trabalho apresentado. A versão final do poster será disponibilizada pelo Rafael (que está perdido por Campinas ainda) em breve.
Considerações Iniciais
Weblogs (blogs) vêm sendo usados cada vez mais por divulgadores de ciência. Uma das características mais interessantes desta ferramenta é a possibilidade de leitores deixarem comentários sobre o texto publicado na rede. Esses comentários permitem entender melhor como o leitor recebe, entende, e sua opinião sobre um determinado assunto.
Objetos de Análise
Neste trabalho, analisamos o conteúdo dos comentários de um texto de blog de divulgação científica que gerou grande discussão.
O texto em questão trata de uma crítica à falta de embasamento científico de um tratamento alternativo de câncer, usando bicarbonato de sódio, que circulou pela internet como um “spam”. A crítica do texto ao tratamento levantou nos comentários várias críticas aos tratamentos usuais baseados em evidência científica, creditando tratamentos alternativos não comprovados.
Principais Argumentos Idenfiticados
Desconfiança da ciência e da medicina atual:
“Quimioterapia é um tratamento cruel. Acaba com a qualidade de vida da pessoa.” “Quantas pessoas morrem deste mal com os ‘tratamentos’ disponíveis.”
“A maior causa de morte nos EUA são causadas pelo uso de medicações.”
Resistência da ciência a idéias novas:
“(…) a teoria da relatividade foi ridicularizada no início e só depois respeitada (…).”
“O meio acadêmico tem seus vícios (…) e nem sempre aceita novidades”.
“Tudo que é simplista é discriminado”
Confiança em tratamentos alternativos:
“A medicina chinesa tem sido testada e comprovada há mais de 5 mil anos” “Enema de café também cura câncer”
“Se o bicarbonato não traz males, bem ele trará”
Confiança em tratamentos alternativos:
“A medicina chinesa tem sido testada e comprovada há mais de 5 mil anos” “Enema de café também cura câncer”
“Se o bicarbonato não traz males, bem ele trará”
Lobby de indústrias farmacêuticas:
“Organizações não querem perder recursos e idéias que surgem fora de suas castas acabam por ser ceifadas”
“Estão mais preocupados com as cifras do que com a saúde pública”
“Industrias farmacêuticas ganham muito dinheiro com outros tipos de tratamento”
Inversão do ônus da prova:
“Quem tem agora que provar que o bicarbonato não cura cânceres são aqueles que contradizem a idéia.”
“Não tem coragem de colocar a cara a risco pra testar a nova idéia e fica criticando”
“Por que não faz alguns testes em laboratório e tente descobrir algo mais profundo[?]”
Além dos argumentos contrários à critica do texto, contabilizamos também pedidos de ajuda, como receitas do tal tratamento, por exemplo.
“Você poderia me fornecer o telefone deste médico?”
“Posso tomar bicarbonato com água?”
“(…) qual a quantidade em gotas a usar por cada copo?”
Os Resultados
Vou deixar por aqui os dois gráficos originados dessa análise, e, em breve, completaremos esse texto com as nossas conclusões.
Graf2Foro.jpg
GrafForo.jpg
Enquanto isso, gostaria de lançar um desafio aos nossos leitores: quais seriam as conclusões que VOCÊS tirariam de uma análise que trouxesse esses resultados? (cliquem nos gráficos para vê-los em tamanho maior)
Aguardamos suas respostas nos comentários!

 

Poster_ForoCampinas

5 comentários em “RNAm no “I Foro Iberoamericano de Comunicación y Divulgación Científica” – Quantificando a Divulgação Científica.”

  1. Apostaria todas as minhas fichas em total-absoluta-e-indiscriminada falta de educação científica básica.
    Tava pensando em uma pesquisinha básica, com perguntas sobre método científico, revisão por pares, pressupostos científicos, fases de um experimento, pergunta de pesquisa, estatística... coisas assim.
    Não dá mais pra ignorar o fato de que sem conhecimentos básicos, neguim não vai MESMO conseguir entender o que a gente tenta explicar...
    Muito boa a análises, informação muitíssimo importante, heim??!
    Abração,
    Aninha.

  2. Bem, é um pouco complicado tirar conclusões generalizantes - embora o tamanho amostral não seja desprezível (n=400), a amostra não foi aleatorizada (comentários espontâneos a uma postagem em blogue sobre um tema em específico).
    Mas ainda assim os resultados batem com um perfil do público adepto de "medicinas alternativas" - que não são nem medicina nem alternativas. É um pacote completo de uma certa visão de mundo (afim das seitas novevais).
    Também é condizente com a ideia de que o ensino de ciências - o entendimento dos processos de validação do conhecimento científico - anda muito mal.
    Bem, é mais uma interpretação dos dados do que uma análise. Mais uma leitura do que uma conclusão.
    []s,
    Roberto Takata

  3. parabéns pela iniciativa de se embrenhar na análise de conteúdo! Gostaria de dar minha opinião, claro, mas só depois que ler o texto completo do trabalho.

  4. Oi!
    Parece-me que falta à população uma compreensão mais clara do que de fato é ciência e método científico e qual seu papel na sociedade. A maioria das pessoas que chega aos blogs de ciência já tem uma concepção formada (nem sempre correta, como se vê nos gráficos de vcs) sobre isso. Talvez signifique que a estratégia que usamos hoje nos blogs de ciência não seja a mais eficaz para atingir públicos diferentes.
    Numa conversa que tive com o prof. Mario Baibich, do MCT, ouvi que é preciso investir em divulgação para o ensino médio, pois é ali que se consolidam opiniões. Concordo. Infelizmente, meu blog (por exemplo) alcança muito mais pós-graduandos e profissionais que estudantes do ensino médio. Como modificar isso? No que se refere a blogs, não tenho a resposta.

  5. Rapazes, antes de mais nada parabéns pela pesquisa e por levá-la a um evento internacional como o I Foro Iberoamericano!
    Também percebo essa pesquisa como uma leitura dos dados, das opiniões dos respondentes, sem dar conta de extrair conclusões generalizantes. Mas acredito que se houvesse mais elementos caracterizando essa amostra - nada desprezível, como bem lembrou o Takata (n=400), tais como idade e escolaridade, cruzando-os com as opiniões obtidas, seria possível determinar com mais precisão se essa "falta de conhecimentos científicos básicos" é mesmo generalizada ou é mais crítica entre determinados segmentos da população estudada, por exemplo.
    Brincando, vejo no gráfico uma pizza bem diferente da tradicional mezzo a mezzo paulista, mas de uma diversidade de sabores que espantaria qualquer paladar! 😛
    Essa variedade traduz também a polifonia do público a respeito da temática, permeada a meu ver, e já comentado anteriormente, pela carência de conhecimentos básicos em Ciência.
    Tudo somado, concluo: ainda há um longo e penoso caminho a percorrer na educação e na divulgação científica!

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