“Publicar na Nature? Eu nem queria mesmo…”

O vídeo abaixo está ilustrando, de um jeitinho todo especial, como os pesquisadores decidem para qual revista científica vão mandar seu trabalho de pesquisa.
AVISO 1- Tentem ignorar o “show de interpretação” dos pobres posgraduandos que atuam neste filme.
AVISO 2- Nem todos os pesquisadores são idiotas maus-atores assim (só 75%). A intenção foi boa, vá!

Mesmo sem saber inglês dá pra entender né?
O pesquisador manda o artigo pra uma revista “sonho de consumo” naquela vã esperança. E se não der, vai descendo, até conseguir publicar numa revista online de conteúdo aberto mas que ele tem que pagar para publicar (mais de 2mil verdinhas). Aqui eles tiram sarro mostrando a Nature totalmente fechada, e a última revista aceitando sem nem revisar o artigo. Essa revisão é mais conhecida como peer-review
Nas portas aparece um número pra cada revista, que é o fator de impacto (Fi). É um número “cabalístico” que serve para quantificar a relevância da revista.
Esse número é calculado dividindo o número de artigos publicados pela revista pelo número de vezes que os artigos da revista foram citados. Assim, se uma revista publica 10 artigos e são citados, ou seja, usados como referência, em 200 outros artigos, temos: 200/10 = 20. Este é o fator de impacto da revista.
Só que existem várias fórmas de se medir a relevância das revistas. Esse é só um e muito criticado. Veja o exemplo: uma revista que publica quinzenalmente semanalmente como a Nature, teve 1748 arigos publicados em 2004, citados 56255 vezes. Isso dá um Fi de 32,2.
Agora uma revista como a Annual Review of Immunology, que publica apenas uma vez por ano 51 artigos e é citada 2674 vezes tem um impacto de 52,4. Bem maior que a Nature, mas também é um número de artigos bem menor e uma vez só por ano.
A Nature é o Arroz com feijão que mantém a coisa toda funcionando, enquanto a Annual Review of Immunology é o peru de natal esperado por todos no final do ano.
Nesse caso, qual a mais importante?
Depende do que você considera importante.
Com esta pergunta na cabeça, leia mais sobre o assunto no ScienceBlogs Brasil.

10 comentários em ““Publicar na Nature? Eu nem queria mesmo…””

  1. Annual Review é a nata...
    Nature são para americanos... olhem o 'monopólio' Dubey e o Toxoplasma gondii!
    Abço

  2. Só rindo pra não chorar, belo panorama da situação, Rafael!
    E além da revista online de conteúdo aberto... o pesquisador ainda pode publicar no seu próprio blog - qual seria o Fi? 🙂

  3. É. Mas quando a drª Suzana Herculano-Houzel enviou seu trabalho para os bãbãbãs da Science, um dos revisores não aceitou com um argumento tosco, conforme ela mesma relata:

    Nosso trabalho só não foi publicado na revista Science porque um dos revisores decretou, preto sobre branco: "Não pode estar certo. Sabemos há muito tempo que o cérebro humano é maior do que o esperado". A razão? Gorilas e orangotangos têm o corpo maior do que o nosso, mas o cérebro deles corresponde a apenas 1/3 do nosso. Se somos menores do que eles mas temos um cérebro maior, esse cérebro então é "maior do que o esperado". Esse revisor desdenhou nossa hipótese alternativa de que talvez tenhamos todos nós, humanos e gorilas, cérebros feitos da mesma maneira, como primatas que somos - mas corpos que podem crescer mais ou menos.

    Os detalhes poderão ser lidos AQUI.
    Até mesmo nesse meio há atitudes idiotas.

  4. Simples, Rafael (talvez, o idiota aqui é que não soube abordar o ponto).
    A publicação com revisão por pares (detesto anglicismos desnecessários) confere maior, digamos, respeitabilidade. Não se sabe quem é o cara que está examinando o artigo ("paper" é anglicismo desnecessário), e muitos destes revisores podem se achar "deuses" (ah, a psicologia humana). Assim, o que acontece? No caso que eu citei, o revisor pensou (mas, hein?) que chegou-se numa verdade que o cérebro é aquilo que sempre foi dito que era, e não aceitou a descoberta, pois isso ia de encontro ao atual conhecimento. Resumindo: elétrons ainda devem girar ao redor do núcleo atômico, pois "sabemos" que é assim desde o início, ou que se jogarmos uma camisa velha com farelo de trigo num canto, produziremos ratos.
    O que isso tem a ver com o presente artigo? Tá bem na última linha de meu comentário: "Até mesmo nesse meio há atitudes idiotas."
    Logo, nome e fama de determinada publicação não confere a ela a palavra definitiva (isso existe?) na Ciência.
    Você perguntou: "Nesse caso, qual a mais importante? Depende do que você considera importante."
    Eu considero importante que quem vá examinar seu trabalho tenha uma visão sobre o que é ciência e sobre o que viremos a saber; e não sobre o que sabemos atualmente única e exclusivamente. Assim, deve-se ver com cautela estes "fatores de impacto", pois são medidas humanas e humanos são falíveis (ORLY?).
    Abraços.

  5. Até onde sei, o fator de impacto é calculado apenas com dados do ano em questão: uma revista que publica x artigos em um ano, e naquele ano é citada 2x vezes, tem impacto 2. No entanto, isso não mostra com clareza o real "impacto" de certas áreas, como botânica sistemática, cujas publicações são muito citadas, mas a longo prazo.
    Além disso, às vezes vale mais enviar o trabalho para uma revista de impacto menor, mas mais específica. Os revisores geralmente contribuem mais e melhor, na minha opinião.

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