Êsso non ecziste!

imagemjcmel.jpgPretendia deixar esse texto para segunda-feira, mas prefiro não perder o timing de um dos assuntos quentes dos últimos dias.

Desde semana passada a notícia de uma imagem de Jesus
Cristo na Zona Leste de São Paulo que supostamente verte lágrimas de mel começou a atrair vários fiéis querendo ver o fenômeno de perto.

Todo esse movimento fez com que a Igreja se manifestasse sobre o caso: a Arquidiocese de São Paulo quer submeter a imagem a análises
científicas por especialistas, pois segundo Juarez Pedro de Castro,
padre e secretário de Comunicação da
arquidiocese, “O fenômeno somente será
atribuído a uma causa sobrenatural se não houver nenhum efeito da
natureza que o explique.”

O primeiro veículo a publicar a matéria foi o jornal Agora São Paulo.
Procurado pelo veículo que gostaria de saber sobre a
possível explicação química desse fenômeno acontecer, afirmei: “é
impossível”. Abaixo segue minha declaração na matéria assinada
pela repórter Fernanda Barbosa.

Especialistas afirmam que é impossível que uma imagem
verta mel. No entanto, dizem que o fenômeno poderia ser explicado pela
ciência se o líquido fosse água. O professor de ciências e doutorando da Unifesp Gabriel Cunha diz que
a condensação do vapor d’água faria com que o líquido aparecesse na
imagem.
“Poderia haver água devido à diferença de temperatura
entre a imagem [fria] e o vapor d’água [quente] presente no ar. Mas
isso não ocorreria com mel ou óleo.”

As estátuas que choram são velhas conhecidas dos fiéis – e céticos – e supostamente vertem lágrimas por meios sobrenaturais. Geralmente o líquido aparenta ser sangue, óleo ou líquidos perfumados. No entanto, apesar de atraírem muitos fiéis como em Sapopemba, a maioria dos casos são descartados pelos níveis mais altos da Igreja ou desmarcarados como fraudes por análises técnicas.

Até hoje existem alguns poucos casos de imagens aceitos oficialmente pela Igreja, como aconteceu na Sicília em 1949.

Já as fraudes são muitas, como na Itália em 1995: o próprio bispo local afirmou ter visto uma estátua de Madonna chorar lágrimas de sangue. A análise do material, no entanto, mostrou que o sangue tinha origem masculina e o dono da imagem se recusou a fazer um exame de DNA (que surpresa).

Em 2008, também na Itália, Vincenzo Di Constanzo foi julgado por fraudar uma dessas imagens: as lágrimas de sangue de sua estátua da Virgem Maria foram analisadas e o resultado mostrou que o sangue da estátua era dele mesmo.

Também expliquei aos repórteres do Agora São Paulo que os casos de
imagens que choram normalmente começam e terminam do mesmo jeito: a
notícia se espalha e, se atrair muita atenção, o material é coletado e
enviado para análise. Depois disso temos dois cenários: a análise tem
“resultados inconclusivos” ou simplesmente não se fala mais no assunto, o
que descartam a veracidade do fenômeno cientificamente.

Agora adivinha o que a dona da casa em que está a imagem disse sobre enviar a mesma para análise?

“Ninguém tira [a peça] daqui”, alegando temer que a imagem seja extraviada. “Se quiserem, que venham e façam os exames aqui em casa mesmo.”

Parece que teremos mais um exemplo dos casos em que depois de um tempo
não se ouve mais falar a respeito…

Fontes: Agora São Paulo / Terra.com.br

Foto de Ale Vianna da Futura Press

7 comentários em “Êsso non ecziste!”

  1. Se existe um motivo para Jesus chorar é o fato de cristãos tentarem converter mais seguidores inescrupulosamente.
    Interessante é como o catolicismo usa a ciência só quando lhe é conveniente. Se lhe pedisse para taxar na porta da igreja um aviso sobre dissociação cognitiva e pensamento mágico, recusariam.

  2. "Poderia ter uma colméia dentro da imagem? "
    Poderia, poderia sim. Tudo é possível.
    E uma colméia dentro de casa passaria desapercebida? è possível, é possivel...
    E se minha mãe tivesse bigodes eu teria dois pais? É possível, é possível...

  3. André, nesse caso não há qualquer chance de exister uma colméia dentro da imagem pelo fato de a mesma ser muito pequena, como você pode observar nas imagens da reportagem do G1 que eu linkei no final do texto.
    Além disso, mesmo que a imagem fosse grande o suficiente, o mel produzido por uma colméia de abelhas fica confinado nos favos e não ficaria escorrendo, como você pode ver nesse link sobre produção de mel da WikipediaPT > http://pt.wikipedia.org/wiki/Apicultura
    Abraços.

  4. Olá Gabriel, não sou apicultor porém já vi mel escorrer de colmeia sim. Na casa de minha mãe, em São Paulo, abelhas da espécie conhecida como jataí fizeram um colméia dentro do muro (acham que são operárias MESMO) e, em dias bem quentes temos o mel escorrendo pela lateral da parede. Todo esse "mistério" ao redor da imagem, para mim, é a mais pura fraude. Acho que vai ser legar ver quando desmascararem.

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