Calma, calma, calma. Essa sexta-feira tá meio conturbada pra mim. Primeiro li que só agora confirmaram que muito provavelmente foi mesmo o meteoro que provocou a extinção dos dinossauros. Mas só agora?! E eu achando que tava tudo certo…
E segundo é que um dos papais da ciência moderna, Galileu Galilei, que afirmou que a Terra é que girava em torno do Sol, fez isso APESAR DAS SUAS OBSERVAÇÕES NÃO LEVAREM A ESSA CONCLUSÃO! Ou seja, ele acreditava no sistema copernicano e decidiu que era o melhor sabe-deus-o-porque.
Souberam disso porque um cara foi atrás de outras pessoas que usavam telescópios da época, e um deles, Simon Marius, tinha uma conclusão muito mais consistente com as observações feitas usando as limitadas lunetas da época (que deixavam as estrelas muito mais próximas do que seriam). E essa conclusão mais bem embasada para a época reforça idéia da Terra parada e o resto girando em volta.
Por que um cara inteligente como o Galileo arriscou o pescoço por uma ideologia não totalmente embasada em dados é um mistério. Vai ver ele tinha outros dados ou idéias que não ficaram registradas. Isto mostra como a ciência é imparcial, mas os homens que a fazem não são. Sempre é preciso martelar muito as hipóteses e dar tempo ao tempo.
Paradoxalmente temos que, sempre muito desconfiados, confiar na ciência.
Via NatureNews
Como diria Sagan, é a melhor coisa que temos no momento...
A ciencia eh imparcial? Desde quando? Eh o produto de interpretacoes de dados/observacoes/feeling (como fez Galileu), esperar imparcialidade eh irreal.
Fora isso, compratilho a reacao quanto aos dinossauros. Foi a mesma coisa com o caso da sopa primordial umas semanas atras.
Não foi beeeeeeem Galileu o primeiro a "provar" que a Terra girava ao redor do Sol. Kepler provou isso matematicamente. Mas, se formos pro passado, Aristarco de Samos já tinha essa idéia uns 2000 anos antes.
A propósito, a Igreja nem tinha opinião formada sobre quem girava ao redor do que. Mas Galileu era meio intempestivo e adorava arrumar briga com todo mundo. Na Idade Média, muitos já defendiam o modelo heliocêntrico, como Nicolau de Cusa, Regiomontanus etc. Mas, Galileu sabia como atrair a atenção para si. 😉
O que quis dizer é q a Ciência enquanto ferramenta é imparcial sim, já o FAZER ciência depende de humanos muito parciais sim.
André, bom reforçar que não foi ele quem provou, mesmo que eu não tenha dito isto, mas o que me pega é que a história da ciência pode ser muito falha mesmo. Creditar o cara que no fundo agiu por "intuição" ou sei lá o que.
Claro que isto não invalida várias conquistas do cara. Era um gênio mesmo. e com um gênio dificil, como vc disse.
Espere: Galileu não descobriu que Vênus tinha fases? Se me lembro, o modelo geocêntrico não permitia isso, logo, estava errado. No modelo heliocêntrico Vênus podia ter fases, explicando "tudo e mais um pouco" que o geocêntrico.
Também discordo desse papo de ciência "imparcial" (e também não entendi o que você quis dizer com a imparcialidade da "Ciência como ferramenta", daria pra explicar melhor?)... não acredito na ciência como uma "entidade" concreta, mas como um instrumento de conhecimento criado e utilizado por homens parciais... por causa disso a ciência será sempre parcial.
Essa é a discussão mais corrente na epistemologia e filosofia da ciência nos últimos sessenta anos. Não estou querendo afirmar que a ciência é totalmente arbitrária nem nada disso (e essa discussão abriu muito espaco para entenderem assim a ciência). Não é bem assim. Acho que a ciência é o método mais eficaz de investigacão e realmente cria diversas técnicas pra se aproximar o máximo possível da imparcialidade... mas não há porque pensar que seu resultado bruto é, afinal, imparcial.
Tem um livro que expressa muito bem minha visão sobre o tema, "Ciência em Acão", do Bruno Latour. Mostra ao mesmo tempo como a ciência é parcial, mas também o que ela tem de diferente que a torna mais consistente que outros tipos de conhecimento. É um livro a favor da ciência, mas ao mesmo tempo bastante esclarecedor quanto qualquer pretensão de se tomar a ciência como verdade absoluta. Vc conhece o livro? Considero leitura obrigatória (mesmo se vc tiver ocupado com pós, vale a pena porque acho que amplia muito a visão do cientista sobre a metodologia por ex, de uma maneira indireta vc acaba utilizando na tese).
OBS: Não me matem.
Érico, o que estou dizendo com "ciência como ferramenta" é o mesmo que dizer q uma faca é imparcial. É uma ferramenta q pode salvar vidas cortando carne e pode tirá-las num assassinato. O instrumento, a metodologia, a validação, são todos imparciais, mas direcionados para fins totalmente parciais pelos cientistas, claro.
Ainda não li Latour, mas está na minha lista.
Li Edgar Morin (Ciência com ConsciÊncia), que é bem interessante neste sentido também.
Valeu
Rafael,
Eu acho que mesmo do seu ponto de vista (faca como instrumento) a ciência ainda pode ser sacaneada. O exemplo que eu gosto de dar é o das indústrias farmacêuticas na criação de dados relevantes (que nós médicos, gostamos de chamar de evidências). Para usar sua analogia, é como se uma faca fosse "preparada" para fazer algo com um propósito parcial. Não sei se me fiz entender. Daí, a última frase do texto resumir tudo.
Off-topic. Cadê o post do Glauco?
Karl,
Não sei se te entendi, mas esse seu exemplo já cai no viciadíssimo e enviesado Fazer da ciência. O que digo que é imparcial é o núcleo ferramental mais profundo que o cientista usa, que são a indução, a falseabilidade, dedução, a reprodutibilidade, estatistica, etc. Como com as facas, uma pessoa q queira cortar pão escolhe uma faca serrilhada, quem quer matar um corintiano escolhe uma pexeira.
As facas não escolhem por si só o seu fim. mas no momento de sua escolha e seu uso já entra a subjetividade.
As facas talvez não sejam o melhor exemplo pq algumas foram feitas para determinados fins, mas os fins do núcleo ferramental científico é justamente evitar a parcialidade. (falando aqui do NÚCLEO, nao de metodologias mais aplicadas, q já são enviesadas)
Mas eu tenho uma crítia a este meu próprio pensamento que é derivada do fato de confiar que a matemática é realmente imparcial nos axiomas q embasaram todo este núcleo ferramental, mas parece q Godel provou que 2+2 não necessáriamente precisa ser 4, o que me quebra as pernas e me leva a conclusão que preciso ler mais sobre esta idéia de Gobel.
P.S.Quanto ao post do glauco, nem sei. Nao entendi muito pq o Gabriel escreveu este post, falei isso pra ele e ele tirou, mas eu nao pedi pra tirar.
Ele é muito sentimental.
Gostei o post e do blog!