Genoma do câncer é a melhor abordagem?

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Mapa da Nature com os programas integrados de genoma do câncer

O câncer é uma doença causada por mutações no DNA, certo? Só que as mutações podem ser várias e em diversos genes diferentes em cada caso. Como saber quais genes que geraram um tipo de câncer?
Simples, é só pegar uma amostra do tumor e outra de tecido normal do mesmo paciente, e seqüenciar os dois. Comparando tumor e tecido normal você vai saber quais genes sofreram mutação nesta pessoa. Teríamos assim o genoma de um tumor.
E se juntássemos vários casos do mesmo tipo de tumor e seqüenciássemos, poderíamos achar as mutações mais comuns para aquele tipo de tumor e descobrir novos tratamentos específicos pra cada.
Simples mas não fácil. E nada barato. Seqüenciamento é uma coisa bem cara, e leva certo tempo.
Por isso até hoje temos apenas 75 genomas de câncer publicados, e nem todos completos.
Outro problema é que esses genomas todos q vêm sendo feitos, desde o humano até as bactérias, passando até pelo ornitorrinco, não têm gerado impactos diretos na qualidade de vida humana. Quem trabalha com evolução molecular adora genomas, mas em medicina, para encontrar um tratamento diretamente e totalmente derivado desses seqüenciamentos está meio difícil.
E com tumores vai ser mais difícil, pois alguns genes mutados iniciam o processo, deixando a célula mais vulnerável a erros e novas mutações. Como saber se essas últimas mutações são tão importantes quanto as primeiras? E existe mesmo um padrão nelas se comparadas com outros tumores?
Resumindo, ter o genoma é simples, mas analisá-lo e tirar um tratamento disso é que complica. Afinal, a quantidade de genomas seqüenciados para dar mais confiança, em alguns casos, deve ser de mil ou mais! Isso é muito esforço e muito dinheiro. Além disso, estes resultados são apenas números num computador. Testes funcionais, em células e animais, devem ser conduzidos para confirmar o papel das dicas dadas pelos seqüenciamentos.
Pior é que agora muita pesquisa boa está se voltando ao metabolismo do tumor, não só ao seu DNA. Se esta proposta começar a gerar mais resultados aí que eu quero ver.
Fato é que esta abordagem de seqüenciamento em larga escala não é um consenso. Sim, por mais incrível que pareça existem cientistas bons que não gostam de sequenciamento de genoma. Eles acham que outras abordagens têm melhor custo-benefício.
Enquanto isto eu só espero que o Brasil tenha dinheiro suficiente para pelo menos usar a tecnologia e os tratamentos que JÁ existem e não chegam a todos.

4 comentários em “Genoma do câncer é a melhor abordagem?”

  1. Muito interessante a postagem!
    Trabalho na área de oncogenética e já tinha me perguntado se a abordagem que estamos utilizando é realmente a mais adequada justamente por toda a complexidade que envolve a doença.
    Concordo que encontrar um tratamento derivado de sequenciamentos é bem difícil contudo não é só pra isso que o sequenciamento pode ser útil. A descoberta de marcadores específicos para os vários tipos de câncer, por exemplo, é da mesma forma um objetivo importante a ser alcançado e que se apresenta bem mais real com os dados obtidos.
    Além disso vejo com bons olhos os estudo que vêm sendo feitos com miRNA e na metabolômica!
    Bom, parabéns pela post e por levantar esta questão!
    Abraço,
    André Lengert

  2. Certamente alguém está ganhando com isso - e muito!
    Como o lobby da indústria de real time PCR (qPCR)que cravou na cabeça de todos que resultados de microarrays tem que ser validados por qPCR(validados?! - primeiro que não precisa não senhor, depois que se trocassem por "confirmados" ficaria menos ofensivo, mas isso é outra discussão).
    Enfim, cria-se uma tecnologia, indiscutivelmente boa, e logo da-se um jeito de massificá-la.Parece ser o caso do sequenciamento em larga escala, que escolheu para isso o apelo popular e clínico do câncer. Se isso será ruim ou bom o tempo dirá, mas a possibilidade de obter genomas de forma muito mais rápida e barata do que aqules primeiros é realmente atrativa. Além disso, a massificação acaba criando plataformas otimizadas e com custo menor ainda para uso coletivo e prestação de serviço, ou seja, tornando aquilo que era muito restrito mais acessível.
    Concordo plenamente que obter os dados, conjunto de números e tabelas gigantescas, é só a largada para a conquista do objetivo maior, criar uma ferramenta de intervenção. Se a abordagem é a melhor ou não, saberemos depois... contudo, a mim parece cada vez mais claro que só a reunião de muitas abordagens nos levará à alguma conclusão (novidade né), mais que isso, só quando de fato deixarmos de gerar dados para realmente nos debruçarmos sobre o que eles significam teremos algum norte. Mas é preciso começar, tentar e continuar! Além disso, essas tentivas e abordagens sempre trazem "efeitos colaterais", como novas técnicas, aprimoramentos, ferramentas para tratamentos de dados, etc.
    Então, vamos que vamos!
    Abraços
    Rodrigo F Rodrigues

  3. um sequenciamento de tumores pelo mundo me soa bastante interessante...
    concordo com as suspeitas de que a incidência de cânceres seja, principalmente, devido à ingestão de diversas substâncias carcinogênicas/mutagênicas presentes numa dieta comum do mundo contemporâneo ocidentalizado...
    tantos hormônios, antibióticos, fertilizantes e biocidas diversos ingeridos de forma crônica e em doses cada vez mais crescentes levam a consequencias óbvias como casos crescentes de cânceres...
    é claro que deve haver o fator "tendências a desenvolver cânceres", que são apenas um fator de um todo muito mais complexo do que sua causa principal (como os financiamentos em pesquisa no brasil nos fazem crer)... é possível até que o sequenciamento dos tumores leve a essas mudanças na percepção dessa doença.
    prefiro pensar em formas de prevenção dessas coisas do que na remediação... mas viva a diversidade dos gostos!
    fafá, já que câncer é sua praia, diga o que v. acha desse lance do efeito da alimentação com a doença.
    abs

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