Greve na USP matará meus animais?!

greve11.jpgNão que a culpa seja dos funcionários da USP, que por um lado foram apunhalados pelas costas (até onde sei aboliram o RH do Instituto de Biociências e eles perderam plano de carreira e outras confusões), mas o que meus ratos tem a ver com isso eu não sei.
Contarei a história e você será o juiz.
camundongo sem pelo.jpgVou eu para a USP cuidar de meus ratinhos como faço duas vezes toda semana. Na verdade são camundongos pelados sem sistema imune, mas não entremos em detalhes agora.
Como eles não tem sistema imune, a água e a comida tem que ser esterilizadas, o que é feito numa mega panela de pressão chamada autoclave.
A autoclave do laboratório onde crio os bichinhos está quebrada a meses, já que o funcionário não tem tempo de consertar – erro 1. Então estou usando a autoclave geral, que só pode ser operada pelos funcionários do andar – erro 2.
Para minha agradável surpresa, tais funcionários estão em greve e não podem esterilizar a água dos meus ratos – erro fatal!
É aí que o pug torce o rabo: Eu vou passar o fim de semana do dia das mães inteiro sem saber como conseguir água para meus filhotes da próxima vez.
Calcule cada coisa com que os pesquisadores tem que se preocupar, além da pesquisa, é claro.
PS: Conte você também seu caso aqui nos comentários ou no twitter usando a tag #divãdapós

22 comentários em “Greve na USP matará meus animais?!”

  1. Minha Sra. já teve problema também com as culturas de algas dela e a greve, que estava no meio do caminho e impediu que elas fossem replicadas. Resultado, perdeu 3 meses de trabalho.
    Eu, particularmente, nunca tive problemas diretos com a greve. No máximo, tive que ir pessoalmente ao almoxarifado buscar um reagente uma vez que o técnico de laboratório estava reivindicando os direitos da classe. Vantagem de não depender da vida de organismos vivos, acredito. Mas perdi as contas de quantas vezes tive que contornar questões burocráticas estúpidas. A gente tem que fazer pesquisa e ainda entender de administração e economia, pô?!
    Boa sorte para você e seus filhotes, meu caro.
    Abraço!

  2. Em uma das greves anuais de funcionários da Federal, acho que foi em 2004, houve um piquete de vários dias nos portões da Universidade - daqueles do tipo "ninguém entra e ninguém sai".
    Não adiantou conversar com o comando de greve e explicar que, além dos animais no biotério não poderem de maneira alguma ficar sem água, comida e limpeza das caixas, havia pesquisas de extensão que atendiam à comunidade, que eram crianças que não podiam ficar sem as sessões experimentais (porque além de experimentais, eram sessões de acompanhamento escolar, as crianças poderiam retroceder nas habilidades já adquiridas e talz...), e havia também os atendimentos clínicos, com alguns casos graves que não podiam ficar sem acompanhamento sistemático... blá, blá blá...
    Nada, os caras continuaram irredutíveis: ninguém entra e ninguém sai, reclamem ao bispo.
    Ainda bem que PG além de sofredos é pensante. Em 15 minutos e vários telefonemas, os clientes da clínica foram encaminhados para o consultório particular de um colega, as crianças para a casa de uma professora ou para as próprias escolas. Magicamente apareceu uma escada, e como nosso Lab fica bem na "borda" da Universidade, de fundos quase que para a rodovia, a galera conseguiu pular o muro para retirar os aparatos, os computadores com procedimentos experimentais e foi possível tratar dos bichinhos no biotério.
    Mas que é o fim da feira funcinários públicos impedirem o acesso à Universidade, isso... é SIM!!!

  3. Ah, recordei-me de outro lance com que alunos de pós-graduação tem que lidar, além de pesquisa. Organização de festas de defesa de dissertação/tese. Preocupações com tamanho da churrasqueira, compra da carne, colocar a cerveja para gelar, inúmeros problemas... 😉
    Mas é bom que, qualquer dúvida de como fazer o churrasco, é só perguntar para os grevistas, que são especialistas (calma, calma, calma... essa última parte foi na maldade mesmo... hehehe...)
    Abraços!

  4. Valeu a força ae, galera.
    @Joey - nao esqueça que pós-graduando tem muito treino em leitura dinâmica, trabalhos manuais e maximixação de recursos em coffebreaks!
    @Livio - valeu mesmo a dica, muito bacana. Mas para o meu volume de água não rola.
    @Chloe - relaxa, eu SEMPRE dou um jeito. Na verdade o doutorado ta servindo mais pra aprender a malevolência da malandragem do q qquer outra coisa.

  5. Com greve não me lembro de ter problemas (já que nunca contei com a ajuda de técnico nenhum mesmo), mas tive vários momentos de stress por conta de vandalismo. Passei um ano monitorando uma centena de árvores num fragmento de cerrado. Perdia mais tempo marcando e remarcando as árvores do que com o trabalho propriamente dito, já que toda semana alguém aparecia por lá e arrancava as etiquetas ou quebrava os galhos das pobresinhas...

  6. Use a panela de pressão comum (de cozinha). Eu tascava um suporte de ferro por cima do bico de bulsen, panela de pressão e garrafinhas de tônica pra esterilizar os meus meios de cultura. Fechava bem a tampinha e cobria com a fita crepe. Aí, cozinhava como leite condensado. 30 minutos depois que levantar fervura no fogo baixo. Minhas células nunca reclamaram.

  7. O "Calendário Anual" de Greve na USP já começou. E a IRRESPONSABILIDADE DOS JAGUNÇOS SINDICAIS CONTINUA. São pessoas IGNORANTES QUE VIVEM À CUSTA DE CONTRIBUIÇÕES ALHEIAS (IMPOSTO SINDICAL OBRIGATÓRIO) PAGAS POR TODOS OS TRABALHADORES. Estamos em 2010 e eles vivem numa SOCIEDADE CLASSISTA E PREGAM A LUTA DE CLASSES NUM MUNDO 99,85% PÓS-CAPITALISTA DA ECONOMIA DE MERCADO. Luta por direitos NÃO PODE RESTRINGIR DIREITOS. FORA SINTUSP.

  8. Sei que ter um problema não resolve outro; mas se quiserem mais um exemplo terrível da greve é a GREVE DA CRECHE DA USP. As crianças de um dia para outro ficam sem poder frequentar à creche, perdendo a convivência com as professoras e os amiguinhos, perdendo a rotina - que é algo essencial e dá segurança a elas, entre outros danos. O Sindicato não quer saber de ouvir argumentos ou negociar de maneira parcimoniosa - é só "radicalização do movimento" (como saiu no Estadão ontem). Gostaria que houvesse uma auto crítica: o que foi feito desde a greve do ano passado para se evitar outra? Quantos foram os encontros de discussão com os dirigentes? Ao contrário, entraram em greve antes mesmo da reunião do Fórum das Seis(!). A greve é usada como forma de projeção de meia dúzia de "companheiros", de olho em cargos políticos; pena tanta gente ir atrás, mesmo com causas justas (ofuscadas pela politicagem). Boa sorte a quem está a mercê de gente que gosta de brincar de "estou com o poder" uma vez ao ano.

  9. Meu caro,
    Compreendo a sua preocupação com os seus pobres ratinhos sem sistema imune,mas gostaria de chamar-lhe a atenção para um "detalhe". Enquanto você se preocupa com a água que seus ratos precisam consumir,muitos trabalhadores da USP, esses em greve que o deixaram na mão,morrem ou contraem doenças por beberem água de qualidade muito inferior à consumida por seus ratos. Afinal, moram na favela São Remo, e em outras, e dificilmente serão beneficiados pelas pesquisas que você desenvolve.
    Mas o que você postou é muito importante uma vez que evidencia o quanto os trabalhadores são importantes para essa universidade pois será que você sentiria falta deles caso estivessem trabalhando e esterilizando a àgua dos ratinhos? Duvido. Sem os trabalhadores vocês "doutores" não conseguem fazer sequer o mínimo? Lamentável.
    Por fim, bom para você que tem essa como sua preocupação.Enquanto isso do outro lado do fosso social instalado numa sociedade desigual estão trablahadores lutando por melhores condições de trabalho, salários mais dignos para manutenção de suas vidas e da sua família, pela isonomia salarial entre todos os trabalhadores e por uma universidade pública e de qualidade como essa na qual você desenvolve suas pesquisas e cuida de seus preciosos ratos.
    Pense nisso! É por isso que a greve existe.
    obs. Seja democrático e coloque o comentário...

  10. Lisistatra,
    Veja, não critico a greve ou seu motivo em nenhum momento. Conheço as mazelas sociais e me sensibilizo. Mas este blog fala do dia a dia de um pesquisador e da pesquisa para ensinar este mundo para as pessoas q nao tem acesso a ele. E isso é um fato e acho q acaba mostrando mesmo a relação social q existe dentro da pesquisa, coisa q é dificil de encontrar por aí, e acredito q acaba ajudando a causa dos funcionários.
    Realmente muitos serviços dependem de tecnicos (não o meu, afinal sei manusear a autoclave, mas os funcionários ficaram com a chave da sala, e arrombamento eu realmente não sei como se faz) E isto não é nenhum demérito para os tecnicos nem para os pesquisadores.
    Outra coisa, a pesquisa é feita tambem com um objetivo médico que á social ao fim da cadeia. dela nasce todo medicamento e tratamento q aumentou a longevidade de todas as casses.
    PS>
    Este blog é totalmente democrático por minha opção. Se publico tudo é pq quero. MAs tenho poderes tiranicos sobre ele.
    Sério, acho engraçado as pessoas acharem q um blog tem q ser democrático. É como a minha casa, pinto de azul se eu quiser e ninguem tem nada a ver com isso! Isso não é jornalismo, é opinião!

  11. Caro Rafael,
    Você tem toda razão. De fato, você tem poderes para publicar o que você quiser no seu blog. Agradeço por postar também a minha opinião que foi dita, em grande medida, para também responder um pouquinho às afirmações distorcidas, equivocadas e preconceituosas, não suas obviamente, mas de diversas pessoas, que com ou sem má fé, acabam postando aqui.
    Da mesma forma de que não tenho dúvidas de que você conhece e se sensibiliza com as causas sociais, afinal você pontua bem isso no começo do parágrafo, quando menciona que os funcionários não são culpados pela greve e que foram apunhalados pelas costas, e isso é a mais pura verdade, eu também respeito e valorizo a ciência e todos os avanços conquistados em busca da melhoria da saúde e do prolongamento da vida dos seres humanos ( como você disse, de todas as classes). Mas convenhamos,a ciência é para o homem, porém o resultado dela não é para todos de maneira uniforme, mas não é disso que eu quero tratar.
    Gostaria de considerar que quando expomos o nosso problema e damos a nossa opinião, desencandeamos, nas outras pessoas o desejo de contribuir. Refutando, ratificando ou ainda usando a nossa fala ( opinião ) para descontruir, a partir de ofensas e inverdades uma questão colocada muito seriamente.
    Não é a greve o problema. Muito menos ela que causou problemas à você. O problema é bem anterior. Está localizado naqueles que permitem que ela sempre aconteça. E permitem por que não não dialogam. Desrespeitam acordos, leis, pessoas...
    Enfim, quis registrar a minha opinião, já que muitos opinaram por aqui e colocaram algumas afirmações, para explicar ao menos um pouquinho da realidade que vivencio. Obrigada por respeitá-la e postá-la.
    Espero que tenha, nesse meio tempo, encontrado uma solução para o seu problema.

  12. Não sei pessoal, talves a situação nao seja grave a este ponto, pois até onde eu sei quando a questão é de trabalhos científicos com animais, os funcionários em greve fazem um revezamento e abre espaço para dialogo, de alimentar e atender os animais de pesquisa, etc.
    Tente dialogar com os funcionários, pois um amigo meu ja passou por isso (greve) e saiu tudo bem na usp. Acho também, que greve não significa violência, pois ja fiz greve onde trabalhava, para buscar meus direitos, isso é natural. E violência também possa ser tirar o pão de cada dia, das famílias dos trabalhadores que tiveram seus salarios descontados por exercer o direito à greve, como diz o próprio Juiz do Trabalho Jorge Souto Maior (FD-USP), num parecer apresentado na congregação desta universidade, legitimando o exercício de greve.
    Pensem nisso pessoal, numa democracia temos que ver os dois lados antes.

  13. Caro Rafael,
    A todo tempo vemos alunos de graduação, pós-graduação e docentes se referindo aos servidores não-docentes como vagabundos, baderneiros e por ai vai. Na minha opinião muitas vezes os vagabundos e baderneiros não somos nós e sim os alunos e alguns docentes. Já vi de tudo que você possa imaginar dentro da Universidade. Alunos que somem por semanas, docentes que chegam quando querem, viajam a custas de dinheiro público e passam a maior parte do tempo passeando. Vi também docentes se apoderando de patrimônio público como se fossem deles, alunos depredando esse mesmo patrimônio e desrespeitando os próprios docentes. Fica muito fácil acusar a uma classe generalizando e sem informações suficientes para fazer uma julgamento justo. Esse novo Reitor, Sr. Rodas tem a fama de destratar os funcionários, inclusive recentemente saiu a público dizendo barbaridades, como por exemplo, que os funcionários da USP de SP são uns favelados. Ora... ora... que tipo de lider é ele? O que lhe dá o direito de ofender, desfazer e humilhar a todos nós? Sinceramente, na minha opinião a Universidade foi entregue nas mãos de um tirano!

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