Protestar é legal, mas qual é o embasamento recente?

Recebi comentários criticando a campanha do Desafio 10:23 – Homeopatia: é feita de nada como um protesto fraco e que não provará nada. Também chegaram críticas de que ao menos nós do RNAm, como profissionais da área científica, deveríamos pensar em um modo mais confiável de refutar o funcionamento da homeopatia.

Agradeço todas as sugestões, mas vou esclarecer alguns pontos relacionados à homeopatia e ao Desafio 10:23:

  1. homeopathyoverdose.jpg“Vocês vão fazer um protesto só para tirar uma onda com a cara dos homeopatas?”: Não posso falar por todos os participantes, mas quem me conhece sabe que eu dificilmente sairia da cama num sábado de manhã sem um propósito maior. Além disso, a ideia do protesto não é ridicularizar a prática homeopática e sim chamar a atenção da população para algo que, apesar de carecer de confirmação científica rigorosa, em 2008 consumiu quase 3 milhões de reais em verbas do Ministério da Saúde. Para ser mais exato, de acordo com um comunicado do próprio ministério foram R$ 2.953.480,00 (a íntegra pode ser acessada em http://is.gd/OhdzmC).
  2. “Não encontrei nenhum tipo de padronização: cada participante escolherá o que tomar, quanto tomar e a única recomendação que encontrei foi comprar diluições a partir de 30C, que não têm mais princípio ativo. Querem provar o que desse modo?”: Primeiro, o protesto não propõe um experimento científico e sim uma ação de conscientização. Segundo, a própria homeopatia postula que maiores diluições têm como resultado efeitos amplificados (a tal “memória da água” que já foi refutada inúmeras vezes, dessa vez em condições de boa metodologia científica). Considerando que qualquer “tratamento” médico pode ser prejudicial em excesso, demonstrar a falta de efeitos colaterais ou qualquer outro tipo de resposta sinaliza para o que já se sabe, isto é, os resultados homeopáticos são derivados de influências psicológicas nos pacientes – o famoso efeito placebo.
  3. “Ah, mas seria muito mais interessante e importante se vocês tentassem fazer uma manifestação na forma de um experimento controlado”: Novamente, a ideia do protesto é conscientizar. Além disso, em Ciência não é responsabilidade dos críticos provar se algo funciona ou não. Isso é chamado ônus da prova e na boa prática científica, a responsabilidade de provar qualquer proposta é sempre de quem a defende. A famosa frase de Carl Sagan “afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias” é baseada nisso. Os homeopatas querem ser ciência? Então precisam mostrar seu valor dentro das boas práticas científicas, como todos os alopatas e pesquisadores biomédicos são obrigados a fazer.
  4. Ainda pensando em quem pede que os cientistas busquem provas que a homeopatia não funciona: muitos já fazem isso, meu post anterior possui algumas referências, mas se você considera artigos de 2005 um tipo de “pré-história acadêmica”, deixo dois exemplos mais recentes abaixo.
  • Renckens, C. (2009). A Dutch View of the ”Science” of CAM 1986–2003 Evaluation & the Health Professions, 32 (4), 431-450 DOI: 10.1177/0163278709346815: Avaliação do governo holandês sobre o subsídio de medicinas alternativas no período entre 1986 e 2003. Os poucos resultados satisfatórios foram atribuídos a pobres metodologias de análise como a falta de grupos-controle tratados com placebo. Alguns estudos relataram resultados negativos. Esses dados culminaram na suspensão da verba governamental destinada a práticas complementares.
  • Nuhn, T., Lüdtke, R., & Geraedts, M. (2010). Placebo effect sizes in homeopathic compared to conventional drugs – a systematic review of randomised controlled trials Homeopathy, 99 (1), 76-82 DOI: 10.1016/j.homp.2009.11.002: Esse estudo derrubou a hipótese de que os ensaios testando a validade clínica da homeopatia falhavam por apresentarem grupos-controle tratados com placebo que retornavam efeitos maiores dos observados em ensaios clínicos alopáticos. A conclusão foi de que os grupos-controle tratados com placebo dos ensaios homeopáticos não demonstraram efeitos maiores dos observados na medicina convencional.
Outros estudos podem ser encontrados em locais como o PubMed e outras bases de dados acadêmicos. Divirtam-se na pesquisa e não esqueçam:

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Informações sobre a ação em http://1023.haaan.com/

10 comentários em “Protestar é legal, mas qual é o embasamento recente?”

  1. "os resultados homeopáticos são derivados de influências psicológicas nos pacientes - o famoso efeito placebo."
    Sou farmacêutico e defendo o uso da homeopatia, durante a graduação li um artigo onde foram utilizados tratamentos homeopáticos em plantas de soja, como grupo teste, no grupo controle foram utilizados agrotoxicos de uso comum, ao final, as plantas tratados com homeopatia tiveram certa 40% a mais de produtividade, vc poderia me explicar como um pé de soja é influenciado pelo efeito placebo?
    Assim que eu tiver acesso a este artigo entrarei em contato para envia-lo.
    Obrigado, parabéns pelo blog, conteúdo muito bom!

  2. manda sim. Sou mto interessado em saber se o funciona ou não. Problema metodológicos são sempre muito críticos. Me tratei com homeopatia na infância, mas confesso que hj não acredito. Mas queria ter mais info

  3. Convencionais, alternativas ou complementares é como por ver.
    Uma pessoa que prefere, digamos que a medicina homeopática, como uma primeira linha de tratamento, a medicina convencional é uma alternativa / complementar por ele / ela.
    Da mesma forma uma pessoa que tomou a medicina convencional como primeira linha de tratamento, outras formas de tratamento complementar / alternativa.

  4. José Luiz: Não sei sobre esse experimento específico, mas para garantir que um medicamento não é placebo, deve haver o teste duplo-cego. Caso contrário os pesquisadores podem interferir no resultado.
    Quanto ao artigo, entendo que o protesto é de conscientização. Como experimento científico ele comete a falácia de supor que TODO medicamento é prejudicial em excesso.

  5. Bom, pra fazer homeopatia nem precisa comprá-la. Qualquer um pode fazer, adicionando um microlitro do "princípio ativo qualquer" em várias diluições de água. Ou seja, praticamente pode se afirmar que um copo d´água é uma homeopatia, pois contém alguns minerais bem diluídos. Gostaria de saber se o resultado do experimento citado acima se confirma várias vezes em outros estudos e se foi usado um controle com água pura (ou qualquer outro solvente puro), pois pelo q foi dito pode se afirmar que a água da homeopatia foi mais eficiente do que o agrotóxico para planta, que foi prejudicial. Apoio o movimento, pois é absurdo que superstições idiotas invadam a ciência. Se homeopatia fosse parte de um ritual religioso que se restringisse a religião, tudo bem, as religiões estão cheias de coisas fantasiosas e irracionais, mas essa excrescência chamada homeopatia invadir a ciência médica tomando dinheiro dos contribuintes é realmente absurdo.

  6. DISCORDO!
    ...do uso do termo "alopatia" pelo blogueiro. Por que não dizer medicina (de verdade)?
    E Nancy Mailink, o spammer-robot homeopata, ataca novamente...

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