Como um cientista vê o mundo

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Imagem de Abstruse Goose
Dica de @uoleo

Não que o modo do cientista ver o mundo seja melhor que o de outras pessoas, mas é um modo bem interessante, que aumenta a complexidade e variedade de pensamentos possíveis quando se vê uma imagem como a do coelhinho (e aumentar a diversidade sempre é bom). Claro que um filósofo, agricultor, dona de casa ou escritor terá também camadas de percepções, que provavelmente não serão equações, mas não deixam de ser complexas e diversas. Não me arrisco em dizer qual visão é melhor.
O pior é que não posso dizer que todos os cientistas veem o mundo assim. Aliás a maioria dos alunos de pós-graduação e alguns muitos professores-doutores parecem aplicar a visão científica apenas no trabalho. Sei que a última coisa que um bancário quer é pensar em trabalho quando acaba o expediente, mas o pensamento científico, e não o trabalho científico necessariamente, é algo que pode e deve ser aplicado no cotidiano.
Afinal pensamento crítico nunca é demais.

Transgênico prejudica plantações vizinhas

algodão transgênico.jpgÉ isso mesmo. O cientista aqui vai falar mal de transgênicos. E não sou eu não, é um artigo da Science. Isso é pra ninguém vir com a velha historinha de que “o lobby das indústrias boicota as pesquisas e a publicação de estudos que vão contra seus interesses.” Não que isto não exista, mas não é tão conspiratório como muitos fantasiam.
A história é a seguinte: o transgene mais famoso do mundo é o tal “Bt”, que vem da bactéria Bacillus thuringiensis. Se você coloca este gene em plantas elas passam a produzir proteínas que matam as larvas de algumas mariposas que são pragas. Assim essas mariposas não se alastram na plantação e nem nas plantações vizinhas, permitindo reduzir em muito o uso de inseticidas.
Parte da beleza do Bt é que ele é específico para alguns insetos apenas. Mas esta é parte do problema também. Porque onde foi plantado algodão Bt na China houve redução de uso de inseticida, mas infestações de um outro inseto ficaram mais comuns. Isso porque o inseticida usado antes controlava as duas espécies, e reduzir o uso dele permitiu o aumento de um dos bichos.
E o pior é que esse outro inseto nem gosta muito e nem mesmo era considerado uma praga do algodão, mas acabou o usando de trampolim para as outras plantações vizinhas mais apetitosas. Eles acasalavam nas flores de algodão e depois iam detonar da vizinhança.
O estudo mostra que é importante monitorar, não só a praga alvo do transgênico, que no caso aqui é a mariposa, mas também os outros insetos menos significativos.
E é assim que a ciência vai caminhando, pondo pra testar, juntando dados e mudando nossa forma de lidar com o mundo.
PS.: Sobre os trangênicos, eu não acho tão arriscado assim, afinal eu prefiro introduzir um gene só num ecossistema do que como temos feito a milênios: mandando um conjunto de cromossomos completo, como quando introduzimos um animal inteiro em outro ambiente ou mesmo uma monocultura. É o caso famoso dos coelhos na austrália, cães e gatos em diversos outros ambientes, o café no estado se SP (tem pé de café em todo canto na mata atlântica hj em dia).
ResearchBlogging.orgLu, Y., Wu, K., Jiang, Y., Xia, B., Li, P., Feng, H., Wyckhuys, K., & Guo, Y. (2010). Mirid Bug Outbreaks in Multiple Crops Correlated with Wide-Scale Adoption of Bt Cotton in China Science, 328 (5982), 1151-1154 DOI: 10.1126/science.1187881

Sexo oral aumenta câncer: Metendo a boca no vírus

banana.jpgPô HPV, puta falta de sacanagem! Não bastasse causar câncer de pênis, ânus e colo do útero, agora você me vem aumentar a incidência de câncer na orofaringe (também conhecida como região metropolitana da boca e garganta).
Tudo bem que a lesão com presença de vírus parece ser mais leve que as causadas por fumo e bebida alcoólica, mas mesmo assim tem que tomar cuidado. A presença do vírus vem aumentando em lesões na boca. Em 1970 era encontrado em 23% dos casos, mas agora chega a 93%. É que o povo ultimamente está mais danado, e não leva desaforo pra casa, mete a boca mesmo!
Lembre-se: o HPV é um vírus que causa câncer e é sexualmente transmissível. Mesmo sexo oral exige camisinha! Assim como o HIV, ouviu mulecada?!
Fonte: Olhar Vital
Dica do Luiz Bento do Discutindo Ecologia

RNAm no Superpop: o vídeo e as impressões

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Olha a Lú me defendendo do pastor aí!


Pra quem tinha mais o que fazer na segunda anoite, segue aqui o link pro programa sobre o fim do mundo em 2012, do qual participei.

Participei daquele jeitão. Fui com o espírito leve, querendo me divertir. Pois já imaginava que falar algo realmente pertinente seria difícil. E foi.

Uma hora a produção pedia polêmica, depois pediam “fala um só de cada vez”, e aí ganhava quem parava de gritar por último. E eu não fui pra me estressar.

De cara a Luciana Gimenez fez a ligação direta que eu queria evitar: você é cético? Então não acredita em Deus?

Não queria ligar o ceticismo diretamente ao ateísmo. Esta é uma correlação que não é necessária. Muitos céticos não são ateus, e vice-versa. Mas no meu caso sou as duas coisas e a Lu (fiquei íntimo) queria bater nessa tecla, provavelmente por ser agnóstica ou até mesmo atéia. O pensamento cético é algo que todos necessariamente devem praticar, mas religião cada um pode ter ou não ter a sua.

Não preciso nem dizer que a ciência não foi nem mesmo tocada, mas pelo menos tudo foi tão confuso que nem mesmo os fatalistas convidados puderam falar muito.

O mais interessante desta participação foi a discussão que gerou entre os divulgadores de ciência do Scienceblogs Brasil e meus colegas cientistas: vale a pena participar destes programas? E qual postura se deve tomar no palco?

Vale a pena participar?

Muita gente achou que eu não deveria ir, que pode queimar o filme participar de um programa tão povão. Oras, eu faço este blog para ter o maior alcance possível. Tento escrever de um jeito simples ao máximo, onde o limite é apenas a validade e o embasamento do que escrevo. Claro que eu prefiro escrever mais no estilo do colega Amigo de Montaigne, mas acho que este estilo minimamente rebuscado afasta muita gente que só quer se encantar pela informação fácil, ou o “povão”. Mas este é um problema de estilo e objetivo que é muito pessoal e não tem uma regra geral. Sem contar que eu me diverti a bessa, e isto deve ser levado em conta.

Postura do divulgador de ciência

Estando lá no palco, eu deveria ser irreverente, sarrista, sacana, amargo, azedo, sério, sisudo,…? Não poderia parecer arrogante, isto é o que queria evitar ao máximo. E na cabeça das pessoas os cientistas já tem esta cara de arrogante detentores (ou detentos) da verdade. Melhor fugir disto. Muita gente cobrou que fosse mais incisivo, tentasse ganhar a palavra mais um pouco e até ridicularizar os malucos em cena. Mas é difícil achar o ponto exato de ridicularizar sem cair na máscara arrogante que afasta o telespectador. TV é simpatia! Acho que num programa como este o ideal é ser levemente ácido, ou azedinho-doce (existe ainda este chiclete?): doce com a apresentadora e a produção SEMPRE, e ácido apenas com os convidados e as câmeras ligadas.


Cientista ou divulgador?

Durante o programa recebi vários twits pelo @Rafael_RNAm (<- siga!) e alguns me chamaram atenção com relação a eu ter me classificado como divulgador de ciência e não como cientista ou biólogo. Uns acharam chique, outros acharam ridículo.Independente de gosto, eu estava lá não como especialista da minha área, afinal um astrônomo, físico ou geólogo (ou um psiquiatra) poderiam estar ali como especialistas. Mas como o que se pôde arranjar foi EU, não quis me apresentar como biólogo. Não pra não queimar o filme, mas porque não cabia mesmo e acabaria até tirando a pouca autoridade que eu poderia ter.

Na questão de gosto, acho o título “divulgador de ciência” muito garboso e deveria ser mais utilizado, acabando assim com a autoridade excessiva e distanciadora do ES-PE-CIA-LIS-TA, e abrindo caminho a estas pessoas que, como eu e o Scienceblogs todo, estão mais treinados em falar sobre ciência com os não-cientistas. Coisa que poucos especialistas ou cientistas sabem fazer.

Só mais duas coisas:
1- Viu a camiseta do Scienceblogs Brasil que estou usando? Acabou de sair do forno, que acharam?
2- Quem acha que Luciana Gimenez é burra, pode esquecer. E eu gostei dela. Juro!
[para ‘burra’ procurar ‘Cida Marques’]

RNAm no Superpop. Será o fim do mundo?

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“Fim do mundo em 2012!? Que loucura! Nem eu acredito nisso!”


O RNAm, na pessoa de @Rafael_rnam, estará hoje (31/5/10) no programa Superpop, com Luciana Gimenez AO VIVO(!!!) às 22hs.
Falando sobre um assunto que é super-atual e super-a-nossa-praia: o fim do mundo em 2012!
Fomos contactados pela produção graças ao post de caça ao paraquedista. Esta blogagem coletiva do ScienceBlogs Brasil tinha como objetivo atrair pessoas desavisadas pela busca no Google. Como esse tema 2012 está tão em voga, escrevemos um título bem chamativo: O fim do mundo não será em 2012. Será em 2019
Este é um dos posts dos quais eu mais me orgulho, mas não fala nada da profecia maia!
Isso só prova que estagiários de televisão não leem, e que blogagens de caça a paraquedistas funcionam. E neste caso não foi um paraquedista, mas sim um zepelim hinderburguiano!
Agora é só tomar muito calmante e discutir os “argumentos” dos fatalistas lá no palco.

Direitos dos animais: permitindo o diálogo saudável

Transcrevo aqui o comentário do leitor José Gustavo Vieira Adler em nosso post sobre o debate de direito animal.

Achei interessante o seu ponto conciliador, mostrando a importância da pesquisa – inclusive para o embasamento dos ativistas pelos direitos animais -, mas também mostrando que não devemos nos acomodar com as práticas atuais, afinal temos o poder de continuar mudando técnicas e conceitos.

Mas antes… BÔNUS: Aqui está o link para o Conselho de Cuidado Animal do Canadá (CCAC), que são as diretrizes seguidas pelo conselho de ética animal do Instituto de Biociências da USP. Ou seja, é o que a USP segue no que se refere a bem-estar dos animais em experimentos, nos seus míííííííínimos detalhes. Vale a pena dar uma olhada (em inglês).

O comentário foi transcrito com mínima intervenção minha; o original está aqui.

(…)
Quanto aos experimentos, dizer que se tem que acabar com os

experimentos é realmente difícil uma vez que nossa crença, nossos
conhecimentos e nossa cultura é baseado no metodo de pensar ciência e
como tal é impossível no estagio que estamos abdicar por completo do
uso de animais em experimentos. Mas usar isto como travas, correntes e
poltronas cômodas do costume é um equívoco, uma aberração contra a
nossa própria natureza, que é o avanço cultural.
Muito já se mudou, sendo que
hoje a pesquisa não depende de experimentação animal como dependia
em anos atrás, devido em grande parte graças ao movimento
ativista (que engraçado ter surgido por conta da visão mecaniscista dos
animais que eram vistos quase como máquinas e portanto não os
consideravam seres dotados de sentimentos e conhecimentos). O
diálogo só surgiu porque surgiu a emergência dos valores
intrínsecos aos demais animais, graças a luta pelos “direitos
animais”, e se faz necessário a continua luta e diálogo para forçar
financiamento para que mais e mais sejam desenvolvidas novas técnicas,
métodos e pensamentos voltados para a contínua retirada dos animais
dos laboratórios.

Agora, essas brigas de ego (macaco-alfa) de muitos que defendem os
direitos dos animais com ciêntistas que tem plena consciência da
problemática, a demonização dos que praticam a, realmente, enfadonha
tarefa de utilizar os animais em experimentos é um erro de julgamento,
um disturbio da idealização. Fazendo um paralelo com um argumento
muito usado pelos que lutam a favor dos valores dos outros animais,
vemos a escravidão do periodo colonial como uma ação demoníaca
dos donos de escravo, mas na verdade em muitos casos os donos de
escravo julgavam-se tratar da melhor forma possível seus escravos,
criavam empatia e um certo estreitamento. Quando esses escravos atacavam
ou matavam alguns de seus donos e fugiam pros quilombos eram julgados
como animais sem alma, selvagens, assim como um elefante mata seu
treinador ou uma orca afoga sua treinadora. Os julgamos como animais
selvagens, indomáveis. Os julgamentos e crenças são frutos do
contexto de cada época e cultura – condenar a caricaturas malevólas os
escravocratas é um desvio da valoração idealista. Os escravocratas
em grande parte acreditava que os negros eram realmente animais, ou que
seus sentimentos não valiam por não terem a consciência que seus
donos tinham a respeito da moral e costumes. Foram precisos muitos anos
de luta e uma mudança de interesses comerciais e econômicos para que
houvesse uma mudança no modo de julgar os negros, de enxergar os
negros, para depois entender que os negros são tão brancos quanto
nós e nós somos tão negros quanto eles, que somos todos humanos, da
mesma espécie, da mesma raça.

Para mudar o contexto socio-cultural que estamos imersos é preciso de
tempo, de muito diálogo, confronto de idéias, aquisição de
conhecimentos novos, aberturas de perspectivas, e PRINCIPALMENTE uma
mudança e um avanço no enfoque, nas ferramentas que temos para obter
nossos conhecimentos, criando alternativas viáveis e interesses
morais, éticos e economicos diferentes quanto a utilização de
animais, da coisificação de outras espécies.

Tratar os cientístas como demônios, assim como muitos humanistas,
esquerdistas tratavam os escravocratas como demônios é um erro de
julgamento, quando o que tem que ser combatido é a ação. O que tem que se
fazer é forçar cada vez mais a necessidade de se utilizar de outras
ações que dispensem o uso de outras espécies. Mesmo porque, ironia
do destino, a valoração dos animais ganhou visibilidade cética
graças a muitos experimentos com animais em cativeiro,
experimentações que chegavam até a ser invasivo.

Ou seja, é verdade que os que lutaram pelos direitos animais
empurraram a necessidade por uma abordagem dos valores dos outros
animais, também é verdade que que as pesquisas crescentes na
cognição e na sua evolução deram conteúdo, embasamento, para
tornar a visão de valores animais encorporada no contexto da Cíencia
,
tornar o assunto tema de respaldo e de valor cientifico. Os dois lados
caminharam em convergência para alcançar o grau de entendimento e
questionamento que chegamos atualmente. Muitos dos ativistas usarão o
discurso de que a inteligência animal era óbvia e clara, e que não
precisava de experimentos para atestar o que se podia averiguar
bastando conviver com os animais em seus habitats. Mas sem o respaldo
da Ciência, dos seus métodos e critérios, a idéia de inteligência
nas demais espécies estaria fadada a um saber local, ilhado,
desconectado dos processos do saber do homem contemporâneo. Estaria
reclusa na crença popular, em valores de povos regionais, não teria o
alcance e nem o corpo investigativo e criterioso em que uma metodologia
experimental de uma investigação científica dá à crença.

Ainda somos dependentes dos animais para nosso avanço como ser
cultural, mas não podemos tornar essa dependência como uma
naturalidade, como uma situação imutável.

Animação: Como uma célula morre

Essa animação é a que mais se aproxima com o que realmente ocorre numa célula que está com problemas e precisa morrer. É a chamada APOPTOSE, ou morte celular programada.

Eu digo que é o mais parecido com o que realmente acontece porque muitas animações por aí mostram uma molécula indo diretamente em direção a outra como se fosse uma coisa consciente e direta. Mas a célula é mais bagunçada que isso, é um sopão que se organiza com alguns trilhos e sinalizações. As proteínas ficam boiando e eventualmente, casualmente, encontram a proteína que se encaixa nelas. Não é um caos, mas também não é um programinha linear.
Fora esta idéia do contexto celular, a animação não é muito didática pra quem não tem uma certa noção do que cada proteína faz. Ela é boa para alunos de medicina, biologia, farmácia ou outros interessados.
A apoptose é importantíssima, por exemplo, pra quem estuda câncer, pois a célula tumoral consegue driblar alguns desses passos inutilizando algumas das proteínas que aparecem na animação, quebrando este efeito dominó molecular. Assim ela permanece viva.

Dica do Ruan Medra, iniciando no meu lab e só entrou pq disse que lê o RNAm.

Essa nossa vidinha sintética

Thumbnail image for LIFE_by_OrangeUtan.jpgCom certeza a notícia científica mais importante desta semana foi o anúncio de que, 10 anos e 40 milhões de dólares depois, a equipe liderada por Craig Venter conseguiu “criar vida artificial”. Será?

Como sintetizar uma vida passo-a-passo:

1- tenha muito dinheiro, tempo, fama e nenhum medo de polêmica. [seja Craig Venter]

2- descubra qual o mínimo de informação que uma célula precisa para viver. [em 1995 o pessoal do Craig sequenciou o menor genoma conhecido, do Mycoplasma genitalium com 500 genes, e ainda conseguiram tirar uns 100 deles]

3- transplante pelo menos um cromossomo natural para outra célula antes de inventar moda! [fizeram isto em 2007]

4- sintetize o cromossomo, ou seja, coloque as letras ATCG na ordem certa. [feito em 2008, com algumas “marcas d´agua” para sabermos que é realmente o construído e não o natural. Essa assinatura é um código que transforma em ATCG alguns nomes de pesquisadores e até uma frase do James Joyce “To live, to err, to fall, to triumph, to recreate life out of life.” (Viver, errar, cair, triunfar, recriar vida apartir de vida) ]

5- coloque o tal cromossomo sintético na outra célula sem DNA e cruze os dedinhos para ela não morrer e se reproduzir. [isso que aconteceu agora]

Como você pôde ver, a tal vida não é totalmente sintética, afinal usaram uma célula já existente para ler o programa sintético que é uma cópia de outro genoma já existente.
Eu não estou desmerecendo a pesquisa. Ela é muito legal e abre várias portas mesmo mas, como sempre acontece, o hype é exagerado. Tá longe de construirmos um organismo para os fins alardeados – como bactérias que comem capim e o transformam em petróleo. E outra, bactéria é fácil, quero ver com eucariontes como plantas, vermes, eu e você. Aí literalmente o bicho pega.

O Sérgio Abranches falou (dia 21/5) que este trabalho foi uma quebra de paradigma, mas ele caiu na velha armadilha desta palavra que é a mais prostituída de toda a filosofia da ciência. Na verdade é bem o oposto: este experimento é o ápice do paradigma atual da engenharia genética! Isso vem sendo feito há muito tempo. Há muito que construímos organismos genéticamente modificados: picotando DNA, colando genes, inserindo proteínas e criando animais inteiros transgênicos. Criamos, crescemos, comemos, cheiramos e injetamos seus produtos.

Novos problemas éticos? Acho que não. Só um sôpro a mais nas já turbulentas questões levantadas pela engenharia genética há pelo menos 30 anos. Nada novo aqui.

Agora o que este avanço tem a ver com Blade Runner é que eu não sei!!! UPDATE 23/05: me explicaram esta relação nos comments. Dê uma olhada (mas ainda acho q não tem nada a ver considerando a distância tecnológica).

Veja o tema do fórum do programa Rádio Blog da rádio Eldorado de São Paulo do dia 21 de maio:

Cientistas conseguiram pela primeira vez produzir uma forma de vida sintética em laboratório. Eles conseguiram reavivar uma célula morta, transplantando uma cópia do genoma de uma bactéria.
O objetivo do experimento é produzir micro-organismos para funções específicas, como limpar manchas de petróleo.
Na sua opinião, essa descoberta pode ajudar o ser humano? Pode ser perigosa? Você acredita que no futuro teremos andróides criados por empresas, como os do filme Blade Runner?

BIOLOGIA SINTÉTICA NÃO TEM NADA A VER COM ROBÔS!!! ai ai…

Lady Gaga no laboratório: Lab Romance

Tive que roubar este vídeo do blog Humor na Ciência que por sua vez roubou daqui.
Ladrão que rouba ladrão tem perdão, então to bem!

Lab Romance. HIT IT!!!!

Music by Lady Gaga, lyrics by Tami Lieberman and Jake Wintermute, performed by Jake Wintermute, editing by me and Patrick Boyle, dancing by the Silver Lab.
Oh-oh-oh-oh-oooh!
Oh-oh-oooh-oh-oh!
Caught in a lab romance
Roma-Roma-ma-ah!
Ga-ga-ooh-la-la!
Want your lab romance
Roma-Roma-ma-ah!
Ga-ga-ooh-la-la!
Want your lab romance
I’ll cure your ugly
I’ll cure your disease
I’ll publish papers
As
long as they’re free
I’ll wear a glove
Glove-glove-glove
I’ll wear a
glove
I want your carbon
The touch of your genes
Alter your genome to
make my machines
And wear a glove
Glove-glove-glove
I’ll wear a glove
Glove-glove-glove
I’ll wear a glove
You know that I want you
And you know that I need you
Go to the lab
Lab romance
I want your loving
And I want your revenge
You and me could write a
lab romance
I want your loving
All your love is revenge
You and me
could write a lab romance
Oh-oh-oh-oh-oooh!
Oh-oh-oooh-oh-oh!
Caught in a lab romance
Oh-oh-oh-oh-oooh!
Oh-oh-oooh-oh-oh!
Caught in a lab romance
Rah-rah-ah-ah-ah!
Roma-Roma-ma-ah!
Ga-ga-ooh-la-la!
It’s a lab romance
Carbon storage
Genetic design
I’ll own the patents
And the profits are mine
And wear a glove
Glove-glove-glove
I’ll wear a glove
Glove-glove-glove
I’ll wear a glove
Track your cell cycle
and learn all your tricks
to cure your cancer
’cause baby your sick
And wear a glove
Glove-glove-glove
I’ll wear a glove
Glove-glove-glove
I’ll wear a glove
You know that I want you
And you know that I need you
Go to the lab
Lab romance
I want your loving
And I want your revenge
You and me could write a
lab romance
I want your loving
All your love is revenge
You and me
could write a lab romance
Oh-oh-oh-oh-oooh!
Oh-oh-oooh-oh-oh!
Caught in a lab romance
Oh-oh-oh-oh-oooh!
Oh-oh-oooh-oh-oh!
Caught in a lab romance
Rah-rah-ah-ah-ah!
Roma-Roma-ma-ah!
Ga-ga-ooh-la-la!
It’s a lab romance
Work work passion baby
make that model work crazy
I want your loving
And I want your revenge
I want your loving
I don’t want to be friends
Je veux ton amour
et je veux ta science
j’adore la science
I don’t want to be friends
You know that I want you
And you know that I need you
Go to the lab
Lab romance

Um relato sobre o incêndio no Butantan

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Pobres garotos e pobres de nós sem a coleção do Butantan!

Este é um post de luto. E não é porque a grande maioria dos animais perdidos já estava morto que diminui a dor da perda. Aliás ela só aumenta quando percebemos a sua importância e propósito.
Segue aqui o relato de um grande amigo que trabalha, ou trabalhava, no Instutúto Butantan, e teve o seu laboratório totalmente destruído pelo incêndio da manhã do dia 15 de maio. Aqui ele mostra a importância real desta perda, não só para a ciência, mas para a sociedade brasileira e mundial.

A essa altura do campeonato vocês já devem ter escutado sobre o incêndio no Butantan. Infelizmente ele foi no meu laboratório.
Era um sábado tranquilo… daqueles que a gente levanta sem pressa e, no meu caso, enrola pra começar a trabalhar (até porque estou nas vésperas de entregar a minha dissertação e sábados são dias de trabalho). Acordei com o celular tocando e a notícia de que tinha um incêndio no Butantan. No começo não dei muita bola, mas logo que vi no video os bombeiros jogando água no meu lab cai na real.
O meu trabalho talvez tenha sido o menos afetado, até porque estou escrevendo a dissertação e já tenho toda a parte mais importante no computador e a salvo, mas queria dividir algumas coisas com vocês…
Ontem, a maior coleção de aranhas da américa latina e a maior coleção de serpentes do mundo foram severamente danificadas . A nossa coleção tinha mais de 150.000 lotes de aranhas, considerando que cada lote pode conter de uma a mais de 10 aranhas da pra ter uma ideia do número real de animais que estavam ali preservados.
A coleção da herpetologia tinha por volta de 80 mil exemplares de serpentes, algumas espécies que podem estar em extinção e exemplares tombados pelo próprio Dr. Vital Brazil, que fundou o Instituto Butantan 109 anos atras.
Não só pelo valor histórico dessas coleções e pelo respeito que devemos ter por elas queria discutir algumas coisas para esse não virar mais um e-mail sensacionalista de desabafo de alguém que está muito triste.
Uma coleção como esta, no olhar de um leigo pode até parecer coisa de um naturalista que coleciona besouros, mas tirando o fato de que Darwin criou a teoria mais importante para a biologia fazendo isto, estas coleções, como as que existiam no butantan, tem um valor inestimável para os estudos de biologia, taxonomia e ecologia. E não só para estes estudo de ciência básica. Toda a produção de ciência aplicada do Instituto depende desses laboratórios. Não adianta nada você fazer os estudos mais avançados sobre as proteínas tais dos sítios de clivagem alfa dos canis iônicos glutamatérgicos se ninguém identificar os animais que você coletou para este trabalho ou ainda se você não tiver um lugar para depositar alguns exemplares de testemunho para futuros trabalhos.
Uma coisa que acontece com essas coleções, principalmente no nosso país, é que ninguém dá valor. A impressão que dá é que os poderosos realmente acreditam que isso é coisa de naturalista do século passado que fica colecionando besouros. Quando as pessoas pensam no Instituto Butantan só estão preocupadas com a produção… com as vacinas e com o soro, mas esquecem ou não sabem que essa produção toda começa lá naquele laboratório.
Tudo isso que vocês escutam falar sobre ecologia, meio ambiente e principalmente sobre BIODIVERSIDADE uma hora ou outra passa pelas mãos das pessoas que trabalham nessas coleções. Um trabalho de formiguinha… pra organizar, catalogar e preservar todos aqueles exemplares que representam a nossa fauna de aranhas. Cada aranha tem um número de referência, uma etiqueta com informações de onde foi coletada, por quem e quando. É lá que descobrimos novas espécies e principalmente… é lá que conhecemos nossa BIODIVERSIDADE… se a gente não conhece. Pode ter certeza que os gringos vão vir aqui e catalogar tudo, e guardar nas coleções deles.
Mesmo no meio daquele caos e da tristeza de ver uma parte da minha casa virando pó, ainda tenho que escutar a conclusão da reportagem dizer “O instituto Butantan é responsável por 80% da produção de vacinas e soros no país e essas atividades não foram atingidas”. Como se estivesse tudo bem… Só que a produção do soro depende do trabalho daqueles garotos, que não ganham nem de longe o que merecem, mas levam esse laboratório com o coração. Garotos que passam os seus dias cuidando das aranhas como vocês cuidam dos cachorros e gatos que tem como pet para conseguir extrair alguns mililitros de veneno para a produção do tal soro. Garotos que pulam de alegria quando descobrem uma nova espécie… garotos que ficam tristes e preocupados quando alguma coisa com o livro tombo está errado… E garotos que ontem eu vi chorar e que mesmo sabendo dos riscos daquele prédio vir abaixo entraram lá pra tentar salvar pelo menos os exemplares que chamamos de “tipos”, aqueles que foram utilizados para descrever as espécies e que sem eles… não podemos mais ter certeza se a aranha que vamos coletar amanhã pertence de fato àquela determinada espécie.
Desculpe pelo e-mail de desabafo… mas é complicado ver um laboratório que você passou momentos alegres e dificeis virar pó e ferro retorcido!
Anexei algumas fotos… de como era… e como estava quando entrei pela ultima vez lá… aquela pilha de caderno sujos na ultima foto é tudo que sobrou do meu lab.

Danilo Guarda
Aqui o Danilo e uma de suas amadas

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Aqui o que era o laboratório

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Aqui o que virou o lab

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Veja também a manchete comentada pelo Ciência à Bessa: Incêndio no Butantan Destroi Importante Coleção Zoológica
No blog do Luis Nassif um relato sobre a condição de outras coleções zoológicas, por Hugo Fernandes Ferreira