Analisando a Polêmica “Palhaçada Científica” de Ruth


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Um pequeno tufão varreu a blogosfera científica nacional. Ele foi gerado pelo texto da jornalista Ruth de Aquino, diretora da revista Época. Neste texto, Aquino diz que “Ler sobre pesquisas científicas de universidades respeitadas é uma receita certa para dar risada”, e cita algumas pesquisas que, por exemplo, constatam que crianças canhotas vão pior na escola, corpos femininos sem rosto vistos por homens são processados por eles nas áreas destinadas a objetos. Enfim, a crítica dela é que as pesquisas “descobriram” o óbvio.

Vários colegas de divulgação científica reagiram (links abaixo). Como não tenho o que acrescentar ao que já foi dito, preferi analisar a discussão em si.

Que mecanismos os cientistas e divulgadores têm para reagir nestes casos de discordância com a mídia? Neste caso, comentários na própria página da matéria são permitidos. Tentei resumir e classificar como foram conduzidas as discussões.

O que foi comentado
Muitos comentários mostrando na maioria indignação; pedidos de retratação; explicação de conceitos tidos como errôneos na reportagem; comentários apelativos de cunho pessoal; algumas críticas estendidas a outras matérias da revista Época.

Casos interessantes: um comentário conclama blogueiros para uma ação conjunta para “puxar a ficha” da autora, analisar a relevância da revista e do jornalismo em geral; um senhor se diz cientista e mostra apoio a crítica da autora da pesquisa do “óbvio”; uma resposta em favor do texto veio de um socialista crente (adjetivos meio paradoxais, não?).

A falta de experiência em escrever sobre ciência para não-cientistas gerou problemas clássicos, como por exemplo, o leitor invalidar a pesquisa dos canhotos irem mal na escola simplesmente por conhecerem um canhoto inteligente. Fato que não invalidaria um estudo com um número grande de sujeitos e com análise estatística robusta.

Leitor vulnerável
Não é raro ver deslizes de jornalistas não especializados em ciência quando têm que escrever sobre este tema. Mas até que ponto uma informação errada ou opinião distorcida pode afetar o cidadão-leitor comum?

Os comentários de concordância se acumulam mais próximos da data de publicação, mostrando que o leitor não-cientista, que provavelmente lê de rotina a revista, está muito vulnerável aos erros cometidos por ela. Dois dias depois da publicação só há críticas nos comentários, gerados por pessoas que provavelmente não lêem a revista mas se interessaram pelo texto.

Silêncio que incomoda
Nenhuma resposta, retratação ou comentário foi feito pela própria repórter ou pela revista. Fato comum para quem costuma criticar artigos nessa mídia “pseudo-interativa” que são os sites de notícias. Isso mostra uma inserção apenas parcial do jornalismo na internet. Afinal, a interação entre autor e leitor é plenamente possível, mas esta possibilidade está sendo desperdiçada, possivelmente fazendo com que leitores se frustrem e, no caso dos cientistas, realmente ignorem este tipo de mídia.

Este silêncio é provavelmente o causador, ou um catalisador, do sentimento de descaso e impunidade sentido por muitos divulgadores de ciência, leitores e cientistas neste debate.

(Por isso, continue lendo seus blogs científicos de confiança.)

Crítica aos críticos de Ruth

Minha crítica aos críticos de Ruth é no tom da discussão, muitas vezes excessivamente exaltado e passional. Parece mostrar um pouco de ingenuidade pelo espanto com a situação da divulgação de ciência no Brasil, que é sabidamente muito problemática, e é com este tipo de acontecimento que um divulgador de ciencia mais vai se deparar. (veja aqui uma outra crítica.)

Não sei até que ponto o artigo de Ruth de Aquino, por ser uma opinião, deveria ser respeitado por isso. Mas ao lidar com ciência, opinar de forma temerária e ingênua como foi feito, ainda mais numa área em que o cidadão-leitor é tão vulnerável, foi irresponsável, sem dúvida.

Pergunta:
É papel das sociedades científicas, como a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC), opinar sobre ou até fiscalizar este tipo
de artigo?

P.S.:
Por falta de tempo não comentarei os artigos de blogs gerados pelo tema, mas citarei os mais relevantes. Sugiro fortemente a leitura:

“Mas isso eu já sabia!” – 100Nexos (Este é HiperRecomendado!!!)

Em prol dos cientístas, idiotas e dos “ridículos” – Ciência Brasil

Conselho de Darwin para Ruth – Ecce Medicus

É muito fácil ser um jornalista frívolo – Geófagos

Nunca é tarde para uma autocrítica – n-Dimensional

Candidato a santo– Boca do Inferno

Ciência e o óbvio – Rainha Vermelha

Ciência é besteira? – Discutindo Ecologia

Pesquisas científicas me fazem rir! – Rastro de Carbono

Cara Ruth de Aquino, – Brontossauros

Ruth de Aquino já é a segunda colocada em comentários na Revista Época – SemCiência

(copiei sua lista, 42. Me processe!)

Bactérias (quase) do espaço

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Uma bactéria vivendo na estratosfera? Só pode ser alienígena!
Aliás não descobriram só uma, mas 3 espécies de bactérias vivendo no limite da Terra com o espaço.
A descoberta foi feita pela Organização de Pesquisa Espacial Indiana, usando um balão estratosférico para fazer a coleta.
No comunicado à imprensa, a organização diz que ” o presente estudo não determina conclusivamente uma origem extraterrestre destes microorganismos”.
Ah vá! Jura?!
Claro que vieram da Terra, peloamordedeus!
Tudo bem que elas devem ser mais duronas que o Chuck Norris, mas deixar a dúvida da origem extraterrestre no ar já é demais!
E eu fico imaginando: flutuando assim por aí na estratosfera, com toda aquela radiação ultravioleta, o que esses “bixos” comem?!
Fotossíntese, ok, mas e as proteínas? Elas poderiam fixar nitrogênio do ar (se houver ar por lá).
Nada que as bactérias terrestres não façam.
É, e tem gente que acha que os humanos são os seres mais “evoluídos” do planeta.
Vi na Wired

O mapa da Ciência

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Clique para ampliar


Está aí o mapa. Bonito não? Daria uma bela camiseta…
Legal ver quais áreas interagem mais e quais estão mais distantes. Bom para o pesquisador saber se sua pesquisa está na moda ou descobrir uma área de interação ainda inexplorada.

Como foi feito?

Este estudo mapeou as interações das diferentes áreas da ciência simplesmente catalogando as buscas de pesquisadores nas revistas online, representadas pelos círculos. Até jornais como o The New York Times entraram na análise.
Por exemplo, usuários que fizeram buscas em revistas de psicologia social e também em revistas de bioquímica reforçaram a ligação entre estas áreas.
“Veja o que eu leio, não só o que eu cito.”
Não é novidade o mapeamento das interações entre áreas. Mas antes só havia sido feito usando como base as citações feitas nos trabalhos publicados.
O problema é que muitas vezes o que você cita não é exatamente tudo que você usou ou leu. Há um certo vício de citar apenas trabalhos mais clássicos, por exemplo.
Esse novo método revela algo mais abaixo da superfície.
Exemplo disso é a grande participação das ciências humanas, que pelos mapas antigos foram subestimadas.
Vi no EcoTone, dica do Luiz BentoView image

Vídeo infame: A física do PETREFIOLISMO(???).

Essa nem o pessoal da física aqui do ScienceBlogs vai saber. Na parte de imunologia eu boiei.
Fantástico.

Isso é pra quem só tem visto vídeos de americanos falando absurdos (que também são ótimos, não fossem trágicos).
Pena que não tem nem como traduzir pro inglês uma coisa dessas. E mostrar para os brothers em que pé anda o conhecimento do povo no Brasil.
Mas a pergunta que fica é: o que impede a pessoa de falar “Não sei”?
Valeu a dica, Gus

LANÇAMENTO DO SCIENCEBLOGS BRAZIL – E eu estou nessa!!!

Agora foi. O ScienceBlogs Brasil está oficialmente no ar. O antigo agregador de blogs científicos “Lablogatórios” fez o seu trabalho, e nos permitiu este salto de qualidade e reconhecimento internacional.
Vejamos se nossa visibilidade nacional aumenta também.
Segue aqui o press-release do lançamento:
SCIENCEBLOGS ANUNCIA O LANÇAMENTO DO SCIENCEBLOGS BRAZIL
NOVA IORQUE e SÃO PAULO (17 de março de 2009) – ScienceBlogs.com, a maior comunidade de Ciência da rede, anuncia hoje o lançamento de seu mais novo site internacional, ScienceBlogs Brasil (scienceblogs.com.br).
ScienceBlogs Brasil traz as vozes mais originais e influentes na comunidade científica brasileira,algumas das quais já foram premiadas pelos seus blogs. Editada em São Paulo por Carlos Hotta e Atila Iamarino, o ScienceBlogs Brazil é lançado hoje com 23 blogs escritos em português em tópicos que vão da genética ao meio ambiente. “Nós precisamos de pessoas comprometidas com o aumento da consciência científica no Brasil,” disse Carlos Hotta, “e estou certo que o ScienceBlogs Brasil vai transformar nossas vozes locais em vozes globais.”
O Brasil está surgindo como uma peça fundamental na cultura científica mundial com a sua crescente comunidade científica e ênfase na Ciência e Tecnologia como parte essencial no seu multibilionário plano de ação plurianual para a aceleração do crescimento. O país é o quinto mais populoso no mundo e tem mais de 67 milhões de usuários na internet.
“Estamos entusiasmados com o crescimento do ScienceBlogs pelo mundo e pelo rico diálogo que ele está gerando”, disse Fabien Savenay, Vice-Presidente Senior do Seed Media Group, a empresa matriz do ScienceBlogs. “Estamos excitados por trazer este diálogo para a América do Sul.”
Sobre ScienceBlogs
ScienceBlogs (scienceblogs.com), parte do Seed Media Group (seedmediagroup.com), é a maior comunidade de Ciência da web e publica mais de 130 blogs ao redor do mundo, incluindo todas as áreas da Ciência e todas as intersecções com a Ciência e a sociedade.

PlayStation 3 a serviço da ciência

PS3 com mil e uma utilidades

Isso que é trabalho! Você numa sala com 12 Playstation 3 em rede! Pena que sem nenhum joystick ou jogo.
Pra que tanto PS3? Cálculo, meu amigo. Muitos cálculos.
Quando você quer analisar muitas informações ao mesmo tempo, um só processador não agüenta. Daí você junta mais um, e mais um, e mais outro, até que eles agüentem fazer todos os cálculos num tempo hábil.
É para isso que a pesquisadora Monica Pickholz da UNICAMP usa as máquinas tão desejadas pela molecada (de 10 a 40 anos): calcular a interação de anestésicos locais com membranas biológicas.
Disse ela ao G1:
“São muito mais estáveis que qualquer cluster [aglomerado de PCs] com que já trabalhei”, diz Monica. Os videogames funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana. Só pararam uma vez, quando “acabou a força e o gerador não funcionou”. Durante todo o tempo, os videogames fazem cálculos para simular dinâmicas de comportamento entre átomos.
E saíram mais barato, claro. Afinal, esse é o único argumento que realmente convenceria o órgão financiador a comprar umas belezinhas dessas.
Interessante como o mercado define áreas a serem desenvolvidas. Desenvolver poder de processamento para a área de pesquisa? Não. Jogos é que dão mais retorno.
O mesmo acontece com o repasse posterior de tecnologia militar para usos pacíficos. Desde o avião, até o microondas e o teflon. Todos eram usados militarmente antes de terem suas aplicações no dia a dia.

O alvo do aquecimento global


Um número me chamou a atenção numa das páginas da revista SEED de janeiro.
O número é 350.
Quanto ao aquecimento global, duas perguntas eram as mais importantes: está esquentando mesmo? E é culpa da humanidade? O IPCC respondeu que sim para as duas. Daí veio a pergunta que não quer calar: qual o nível de carbono ideal para manter o mundo do jeito que estamos acostumados?
A resposta parece ser 350 partes por milhão. Pelo menos é o que diz um trabalho científico do maior climatologista da atualidade, James Hansen. Baseado nisso foi criada uma organização para espalhar este dado, a “350.org”.
Afinal se este for mesmo o limite para mantermos o mundo como nos acostumamos a ele, é interessante que surja um lobby que batalhe por esta meta. A ciência só deu o alarme, as opções, e agora nos deu um alvo fixo. A batalha real será no campo político, econômico e moral.
Caso queira saber, o nosso nível de CO2 agora é de 385 ppm

O cometa e a astrologia da crise.

Cometa Lulin

Vou tentar imaginar o clima na redação da Folha de S. Paulo nessa semana:
Quinta feira, 18 de fevereiro: O ar já está mais leve pela proximidade do carnaval mas ainda há trabalho a fazer. Então aqui vai a notícia do cometa Lulin que passará pela Terra na segunda-feira.

Cometa se aproxima e será visível da Terra na próxima semana
Sexta-feria, 20 de fevereiro: Véspera de carnaval, aquela espectativa pelo feriado, ou uma falta total de notícias mais pertinentes invade a redação.
Deu no que deu:
Passagem de cometa na segunda influencia até a crise, dizem astrólogos
Ressalto aqui alguns “fatos” explicados pelos astrólogos associados a Folha:

“Se ele (cometa) está perto de Saturno no momento, vai afetar a oposição planetária Saturno-Urano que estamos vivendo e que é responsável pela atual crise financeira mundial.” (Marisilda Magagna)

Os bancos americanos escaparam de mais essa responsabilidade. Esses nasceram virados pra lua mesmo.

“Se adicionalmente já existirem outros sinais astrológicos (e não necessariamente astronômicos, veja bem!) então essa tendência pode ser mais ou menos reforçada.”(Barbara Abramo, horoscopista da Folha de S.Paulo, Folha Online e UOL)

Ainda bem que esta ressaltou a diferença, que é IMENSA, entre astrologia e a ciência astronômica

“A conjunção com Saturno no signo de virgem mostra uma influência muito ruim para os empregos dentro dum quadro de recessão e pessimismo, e creio que isso está muito claro mesmo sem o cometa.”(Antonio Facciollo Neto)

E eu acho que está claro até se tirar Saturno da jogada!

“Esse quadro já foi previsto por nós desde o início de 2007, nas reuniões técnicas da ABA, que mostravam essa crise até 2011 e com desdobramentos até 2014.”

Opa, então com esses e outros dados de previsões podemos ver o quanto que elas acontecem e provar se astrologia funciona ou não! Porque ninguém fez isso ainda?! Mande os dados por favor.

Tom Hanks, Anjos e Demônios e o LHC


Saiu na Folha:

O ator Tom Hanks aceitou o convite para apertar o botão que religará o acelerador de partículas gigante LHC, na fronteira da Suíça com a França. Hanks protagoniza o filme “Anjos e Demônios”, cuja história se passa em parte no Cern, o laboratório europeu que abriga o projeto.

Alguém pode me explicar por quê? Por acaso o livro tem algo a ver com o CERN mesmo?
Desculpem, mas eu não li “Anjos e Demônios” do Dan Brown, e ainda não vi o filme.
Para mim “O Código DaVinci” já foi muito.
O pior talvez tenha sido o que o Tom Hanks respondeu quando perguntado sobre o que achava sobre o LHC: “Adoro ver ficção científica se tornando um fato científico.”
Bom, a única ficção envolvendo o LHC é a história de mini buraco negro e fim do mundo. E imagino que este mito já foi definitivamente relegado apenas à ficção.
Sério, preferia que fosse alguém mais ligado à ciência ou política para apertar o botão. Nada contra atores. Eu adoro interação arte-ciência, mas isso está me parecendo mais uma jogada barata de marketing.
No futuro, quando ainda se estiver sentindo as mudanças do experimento do LHC, o mundo se perguntará quem era o tal Hanks que apertou o botão que mudou o mundo.